A Polícia Civil ainda não tem uma tipificação estabelecida para o crime cometido por Allan Pereira dos Reis, de 22 anos, que confessou ter matado a namorada, a gerente de Fernanda de Souza Silva, de 33 anos, em Bela Vista de Goiás, no dia 12, mas avalia “várias hipóteses”, uma delas latrocínio (roubo seguido de morte). Os policiais que estão no caso identificaram aspectos que sugerem que Allan teria se aproximado de Fernanda por interesse. Os dois namoraram por cerca de 20 dias.

A elucidação destes pontos ainda depende de aspectos que estão em curso, como a análise das provas colhidas, tais como os registros bancários no nome da mulher após ela estar morta, registros de comunicação e exames periciais no carro da vítima e em outros objetos apreendidos. A gerente foi sepultada nesta quinta-feira (20) à tarde no Cemitério Municipal dos Buritis, em Bela Vista.

Colabora para a hipótese do latrocínio, por exemplo, o fato de Allan ter conhecido a gerente em um ônibus do transporte coletivo e depois disso ter conseguido encontrar a residência em que Fernanda morava mesmo sem ter detalhes do endereço dela.

“Ela não falou onde morava, com rua, quadra e lote, (informou ser) no Setor Armando Antônio. Ele chegou na rua dela e bateu de porta em porta, perguntando onde morava a Fernanda ‘que tem um Uno vermelho’”, diz o delegado titular de Bela Vista, Antônio André dos Santos Júnior.

Quando analisa esta linha de investigação, a delegada regional de Aparecida de Goiânia, Cybelle Tristão, lembra que Fernanda era uma pessoa com emprego e salário fixo, carro próprio, casa própria.

“Ele pode também ter praticado o crime com a intenção de usufruir de algo financeiro. (Isto) é o que a Polícia Civil está tentando investigar e desvendar, o real motivo dos fatos”, comentou Cybelle.

A Polícia Civil apurou que, após o assassinato, Allan teria utilizado o veículo da gerente, o Fiat Uno. Transações de cartões bancários de Fernanda foram rastreadas em compras em um shopping da Região Norte de Goiânia em locais monitorados na investigação.

Feminicídio

Entretanto, a versão de Allan para os fatos leva o caso para um crime de feminicídio. Ele contou para os investigadores, após ser preso, que seguia para a chácara de um irmão dele, na zona rural de Bela Vista, quando teria se desentendido com Fernanda, momento em que a enforcou. O motivo, segundo ele, seria o fato de ela ter chamado os filhos dele de “bastardos.”

Para os investigadores, a tentativa de sustentar esta possível motivação é, por parte de Allan, uma tentativa de imputar a culpa pela morte à vítima.

A família de Fernanda não acredita que ela tenha dito isto sobre os filhos do rapaz, porque gostava de crianças.

Entretanto, a delegada ressalta que o avanço das investigações, no sentido de apontar que o crime cometido tenha sido latrocínio, feminicídio ou outra hipótese, ainda depende de mais respostas. “Todos os exames periciais estão sendo processados. São análises que demandam até um certo tempo porque nós precisamos confrontar o DNA da família com todos os vestígios que foram encontrados. A Polícia Técnico-Científica está fazendo esta força-tarefa para entregar à Polícia Civil estes resultados”, afirma.

Frieza

A gerente de hipermercado foi vista pela última vez na quarta-feira (12). O corpo de Fernanda foi encontrado na madrugada desta quinta-feira (20) na zona rural, entre Bela Vista e Caldas Novas. A localização foi passada por Allan. “Ele é muito frio, muito espantoso. Ele falou pra gente: ‘eu tô arrependido, acabei com a minha vida’. Coisas neste sentido”, relatou o delegado de Bela Vista.

Ex de suspeito ajudou a polícia

Informações repassadas pela ex-esposa de Allan Pereira dos Reis, que confessou ter matado a namorada, a gerente de hipermercado Fernanda de Souza Silva, teriam sido fundamentais para a polícia desvendar o caso.

A titular da Delegacia Regional de Aparecida de Goiânia, Cybelle Tristão, que também atuou na investigação, a ex estranhou o fato de Allan aparecer com um carro e cartões bancários, uma vez que o mesmo não possuía nada. A delegada conta que uma amiga da ex a informou do desaparecimento de Fernanda.

“Ela entrou na rede social da Fernanda e viu a foto do Fiat Uno vermelho. E ela ficou em pânico, desesperada”, diz a delegada. “Ela alega que ligou para ele, tentou ver o que estava acontecendo e ele desconversava, falava que o carro era de um amigo. E falava para ela que ia sumir”, relata a delegada.

No fim de semana, os policiais localizaram a ex de Allan, que tem dois filhos com ele. O mais novo é o caçula de ambos, de 4 meses. O rapaz tem mais dois filhos de outra mulher.

Na residência da mulher havia um melão comprado em um supermercado da Região Norte de Goiânia. A fruta, que foi transportada por Allan no assoalho do Fiat Uno, acabou suja de sangue. A mulher viu a mancha no melão e este também foi um dos motivos que a levaram a achar estranha a situação. Ela ainda estranhou o fato de o carro estar sujo de barro e com cheiro de sangue. A fruta foi recolhida e encaminhada para perícia, que inicialmente identificou que o sangue é humano, mas exames ainda vão esclarecer se este é de Fernanda.

Suspeito

O suspeito está preso temporariamente por 30 dias no presídio de Bela Vista. A medida foi pedida pela polícia e concedida pela Justiça ainda na sexta-feira, dia 14, quando o rapaz esteve na delegacia do município junto com a família de Fernanda para registrar o desaparecimento.

“Desde o princípio, nós achamos o comportamento dele estranho: muito agitado, as informações dele não batiam, os horários informados apresentavam contradição”, informou o delegado de Bela Vista, Antônio André dos Santos Junior.

De acordo com Antônio, neste momento, a ex-mulher de Allan, que não teve a identidade divulgada, não é investigada nem considerada suspeita de participação no crime.

A reportagem não conseguiu contato com a família de Allan. O suspeito ainda não tinha defesa constituída nesta quinta-feira, mas um advogado fez contato com o delegado do caso para agendar uma apresentação formal.

Fonte: Jornal O Popular/Foto: Diomício Gomes