Durante cerca de três semanas, a prevenção, o combate e a atenção a vítimas protagonizarão atividades realizadas em Goiás pelo Conselho Estadual da Mulher (Conem) e pela Secretaria Cidadã, na campanha chamada “21 Dias de Ativismo Pelo Fim da Violência Contra a Mulher”. Iniciada em 1991, pela Organização das Nações Unidas (ONU), com a proposta de 16 dias de ativismo, a ação ganha significado mais amplo no Estado, abrangendo também o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro. A inclusão tem um motivo: dar destaque à discussão em torno das mortes de mulheres negras.

De acordo com o Atlas da Violência 2017, Goiás tem a segunda maior taxa de homicídio de mulheres negras no País, com um índice de 8,7% em cada 100 mil mulheres mortas em 2015. No Brasil, a taxa foi de 5,2%. Segundo o estudo, 65,3% das mulheres assassinadas em território nacional entre 2005 e 2015 eram negras. Em contrapartida, houve diminuição no índice de assassinatos de mulheres não negras.

Os dados evidenciam a combinação entre desigualdade de gênero e racismo, diz a análise, o que, segundo a presidente do Conem, Ana Rita Marcelo de Castro, reforça a necessidade de se ampliar o debate sobre o tema no Estado.

“É importante reconhecer que o racismo é um agravante na questão da violência e um gerador de violência doméstica e familiar”, diz ela. “Nós precisamos, junto com a denúncia da violência, denunciar o racismo. A vítima sofre uma violência dupla”, explica.

Com o lema “A violência que não mata mata mesmo assim”, a campanha abordará, também, ações como o assédio e a violência psicológica. De hoje, quando ocorrerá a abertura oficial das atividades, até o dia 10 de dezembro, considerado o Dia Internacional dos Direitos Humanos, serão realizados junto à comunidade em geral rodas de conversa, seminários, exposições fotográficas, aulas diversas e ações de rua, na capital e em cidades do interior, com o objetivo de manter o combate à violência contra a mulher em destaque.

O papel das mulheres, dos homens e do poder público em busca da mudança do cenário também será debatido. “Nós temos muitos desafios. É preciso que o poder público assuma a responsabilidade de ser executor de políticas públicas”, argumenta Ana Rita. “É muito importante também a tomada de consciência dos homens, para que haja uma mudança de postura e para que estejam ao lado das mulher em toda essa luta”, continua.

Vítimas precisam de ajuda para reconstruir vida

A violência contra a mulher é um problema que deve ser encarado sob vários aspectos, de acordo com Ana Rita Marcelo de Castro. Segundo ela, é importante pensar sobre a prevenção, por meio de informação sobre direitos das mulheres e sobre a existência e o cumprimento da Lei Maria da Penha, por exemplo, e sobre a repressão ao crime, por meio das Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher (Deams) e da Polícia Militar. Um outro ponto, porém, exige a reunião de esforços: a atenção às vítimas.

A intenção, nesse quesito, é dar condições para que a mulher reconstrua a própria vida após ser violentada. Para isso, defende a presidente do Conselho Estadual da Mulher (Conem), é preciso dar apoio, por meio de atendimento médico, psicológico e até mesmo de cursos profissionalizantes.

“Ainda hoje, não conseguimos efetivar na íntegra o trabalho em Centros de Acolhimento e temos a necessidade de atender essas mulheres com psicólogos, assistentes sociais e advogados”, explica ela. “É uma questão também informativa. Existem questões legais que muitas vezes são de difícil acesso, principalmente às mulheres de baixa renda”.

Há uma demanda para que as Delegacias da Mulher, consideradas a porta de entrada para as vítimas de violência, passem a oferecer uma estrutura preparada para atendimento amplo. Em reportagem publicada em 28 de outubro, o POPULAR mostrou que a Rede de Proteção à Mulher de Goiânia discute, localmente, a possibilidade de estruturação do atendimento multiprofissional nessas Especializadas. Um dos maiores problemas encontrados, no entanto, é a falta de profissionais nos quadros do Estado e do município para serem alocados nas unidades necessárias.

Fonte: O Popular