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Alcides e Marconi: tensão estratégica - 11/02/2008

Tribuna do Planalto - Coluna do Vassil - De 10 a 16 de Fevereiro de 2008

Vassil Oliveira

Irrevogável porque estabelecida na prática e no seio da soldadesca, independente da vontade dos comandantes e dos líderes de plantão.

Na base governista em Goiás, que reúne principalmente PP, PSDB, PR e PTB, o clima já é de guerra declarada, porém ainda não-deflagrada. Nenhuma novidade nisso. O novo está na preocupação que começa a surgir na cabeça de alguns alcidistas, anti-marconistas em especial, em relação ao futuro do governo.

Teme-se que a 'idéia' da divisão se estabeleça em definitivo na cabeça dos aliados em todo o Estado e dentro do próprio governo, com o governo passando de tesouro a ser resguardado do inimigo externo (em tese, o PMDB), a espólio disputado a ferro e fogo, em clima de salve-se quem puder. "Depois do boi morto, piranha quer tirar casquinha", filosofa um governista, para ilustrar o que pode vir a acontecer.

Para os alcidistas preocupados, um rompimento brusco com o senador Marconi Perillo (PSDB) seria ruim para Marconi e o governador Alcides Rodrigues (PP), mas, principalmente, para Alcides. Daí não ser razoável manter a estratégia de continuar esticando a corda dos desentendimentos, para não arrebentá-la. O ideal seria tudo ficar como está: a base aliada em estado de tensão constante. E só.

A avaliação no governo é a de que, de sua parte, Marconi vai segurar a tensão pelo menos até o final das eleições deste ano, no máximo até o meio do ano que vem. Depois, decide o que fazer, dentro do novo cenário político que naturalmente surgirá das urnas em outubro. Porém, se for muito provocado, não pensará duas vezes para romper agora, imediatamente, por ser de sua natureza a impulsividade.

Também a Marconi interessaria esse clima nada amistoso na base aliada, entendem os alcidistas, porque, já que ele não consegue emplacar o endeusamento de seu nome como "líder maior", a quem tudo pode e tudo se direciona, o usaria como preparação de campo para o posterior rompimento, ou então para a cobrança de uma re-unidade em torno de sua anunciada tentativa de volta ao governo em 2010.

Segurar o clima como está, que acaba então sendo estratégico para ambas as partes, é o desafio de Alcides, e maior ainda será mantê-lo depois de outubro, de modo a que seu governo não 'comece a acabar' antes da hora e não venha o rompimento de Marconi escorado no clima de 'salvador da pátria' e de 'fera ferida', ou traída, como os marconistas tentam, por sinal, imprimir desde já.

Neste meio tempo, esperam os alcidistas, o governador terá de fazer outra coisa: o seu governo deslanchar. E isso também com o objetivo de não se fragilizar e, por conseqüência, facilitar a possível ação do senador em direção ao rompimento.

E como manter o estado de tensão permanente sem deixar que a guerra declarada seja deflagrada? Não há receita de bolo, há teste de habilidade. Até agora, o silêncio calculado de Alcides tem funcionado como ingrediente fundamental para a situação estabelecida.

Reparem que Alcides fala, normalmente, apenas para 'calar' falastrões ou para apaziguar; no mais, ouve – em silêncio.

E que não se perca de vista um ponto: o jogo em curso mostra sombras, não está claro, todavia é inevitável constatar que o pior clima para os alcidistas, hoje, não é uma vitória do PMDB em 2010, e sim uma vitória tucana.

Por uma razão simples: do jeito que a história vai, quem mais se mostra predisposto a desconstruir o governo Alcides não são os peemedebistas – estes, aliás, estão estrategicamente benevolentes com ele –, e sim os marconistas, que avaliam que o que faz o governador a cada dia nada mais é do que exatamente tentar desconstruir os governos de Marconi Perillo.

A tensão na base aliada carrega a bomba atômica. E ninguém quer ser Hiroshima