Artigos UGOPOCI

REFORMA ADMINISTRATIVA - 04/03/2007

Jornal Opção - Artigos - De: 04 a 10 de março de 2007

 

DANIN JÚNIOR

O recado partiu indiretamente do próprio governador Alcides Rodrigues (PP) e vem sendo multiplicado por interlocutores com acesso ao Palácio das Esmeraldas: chega de “agonia” com a espera pela reforma no secretariado. A orientação geral é para tocar o barco e deixar o governador à vontade para movimentar as peças no tabuleiro político, quando achar o momento mais adequado. A conversa de que o governo está parado por conta da indefinição não é aceita por Alcides e já foi motivo de irritação nos corredores do poder. Quem alegar que está em compasso de espera, estará, na verdade, fora da sintonia pretendida pelo governador.

A orientação, como bem lembrou um auxiliar direto de Alcides, segue a lógica implacável de que esta “administração é sucessora de si mesma”. Ou seja, se o atual primeiro escalão está para completar um ano de atividade sob as rédeas do governador, é porque detém a sua confiança. Especulações sobre a substituição dos titulares em secretarias e autarquias não têm o mínimo aval (muito menos a autorização) do Palácio das Esmeraldas. Quaisquer mudanças futuras no primeiro escalão — e elas vão acontecer — serão de inteira responsabilidade do governador. Em outras palavras, o aviso é para a área técnica continuar seu trabalho sem sobressaltos.

Essa recomendação é uma receita da mais pura obviedade. Contudo, ela foi confirmada por dois interlocutores do governador ao longo de uma semana em que o cerne do poder também pareceu dar sinais de estar falhando na esfera da articulação com a opinião pública — principalmente com o público interno da estrutura administrativa. O anticlímax provocado pelo anúncio frustrado do novo secretariado, marcado para a quarta-feira, 28 de fevereiro, é uma criatura do próprio governo. É evidente que todo o processo foi resultado da pressão do meio político, que quer ver a definição do primeiro escalão o mais rápido possível. Mas talvez tenha faltado pulso onde, até agora, via-se exatamente um exemplo de rigidez.

Aguardando o anúncio dos novos nomes do governo, toda a imprensa se reuniu no Palácio Pedro Ludovico. Uma emissora de televisão chegou a montar o equipamento para transmissão ao vivo, às 9 horas, tal era a expectativa. Dentro e fora do prédio, servidores comissionados movimentavam a bolsa de apostas. Alguns deles confirmaram que seus superiores já estavam esvaziando as gavetas. Para muitos, um sinal claro de que, reservadamente, os secretários demissionários já haviam recebido o bilhete azul no décimo andar. Como estavam preparando a saída, era evidente que os nomes dos substitutos já estavam definidos.

Por volta das 15 horas, horário divulgado pela imprensa para o anúncio dos nomes, o burburinho se intensificou. Foi o momento que a chamada “rádio-corredor” atingiu o seu ápice. Um assessor teve a curiosidade de circular por quase todos os andares para recolher informações. O comentário dominante era o seguinte: Alcides Rodrigues estaria no décimo andar recebendo uma infinidade de telefonemas com pressões políticas para garantir os nomes no primeiro escalão. Por isso a demora. E de quem era a pressão? “Do Marconi, é claro. Só ele tem poder para influenciar o governador”, disse o assessor.

Marconi

Mas a verdade era outra. A primeira imprecisão: o governador não estava no Centro Administrativo. Permaneceu o tempo inteiro no Palácio das Esmeraldas. Não se sabe com quem esteve ou quantos telefonemas atendeu. Mas sabe-se de um segundo detalhe: não houve pressão do senador Marconi Perillo. Pelo menos nesses últimos instantes (ou dias). Essas informações foram confirmadas por dois freqüentadores da casa oficial do governador. Com um terceiro interlocutor, Alcides teria interrompido o que estava fazendo por alguns instantes para dizer: “No momento não podemos conversar porque estou muito atarefado”.

Com relação ao papel do senador, um dos amigos do governador foi bastante enfático: “Marconi não é bobo e, certamente, sabe que pressão não funciona com o Alcides”. Mesmo assim, a participação do senador no episódio do anúncio acabou sendo maximizada pelas especulações. O círculo mais próximo de Alcides comenta que Marconi já havia visto a lista com os secretários na semana passada. Alcides e o tucano teriam feito observações semelhantes sobre os nomes: ambos concordaram que ainda não era a ideal. Ou seja, ainda era problemática a conjugação de aptidão técnica para os cargos e identidade com os diferentes grupos políticos que elegeram o governador.

Voltando ao dia 28, a expectativa no Palácio Pedro Ludovico já havia sido parcialmente debelada quando, no início da noite, se anunciou a confirmação de dois nomes — o de Milca Severino (Educação) e Cairo de Freitas (Saúde). Ambos estão em seus respectivos cargos desde que Alcides assumiu o governo, no início do ano passado, e são considerados como da “cota pessoal” do pepista. Tecnicamente, o anúncio modificou o discurso dos dois secretários, que até então sempre deixavam claro em entrevistas que suas situações eram provisórias. Mas, na prática, não foi nenhuma novidade, já que os dois integram o time de executivos que não deixaram o eventual clima de indefinição atrapalhar o funcionamento de suas pastas.

Para um observador político, a falta de habilidade demonstrada no episódio do anúncio frustrado pode ao menos servir de lição para os novos desdobramentos da esperada reforma administrativa. “O governador tem o poder nas mãos para, a qualquer momento, instituir ou destituir seus auxiliares.” Ou seja, a história de marcar data para a mudança não interessa ao Palácio das Esmeraldas. Só interessa às forças políticas aliadas ao governo, que precisam saber qual espaço vão ocupar na divisão do poder — inclusive para dar satisfação aos exércitos que mobilizaram durante a campanha. Na periferia desse interesse, movimenta-se a mídia, que precisa dirigir ao seu público o mínimo de informação sobre o futuro da administração do Estado.

Silêncio

Informação, por sinal, é um dos ativos mais raros no momento. Poucas vezes o meio político lidou com um cerco tão eficiente aos indicativos que, em situações normais, estariam circulando fartamente pelos corredores dos palácios. Um exemplo claro foi citado por um vereador da base aliada em Goiânia. Ele ficou impressionado com a conversa que teve com um dos principais nomes do primeiro escalão, integrante do chamado “gabinete da crise”. “A primeira coisa que esse secretário me perguntou foi se eu tinha alguma informação sobre as mudanças que o governador pretende fazer”, disse o vereador.

Na terça-feira, um dia antes do anticlímax no Palácio Pedro Ludovico, dezenas de prefeitos e presidentes de câmaras municipais compareceram à Assembléia Legislativa para reeleger Joaquim de Castro, de Jussara, como presidente da Associação Goiana dos Municípios. Nos bastidores, um silêncio barulhento com a falta de informações sobre a nova composição do governo — nenhum deles sabia ou tinha ouvido falar sobre algum nome a ser confirmado no primeiro escalão. Na prática, mais uma vitória esmagadora de Marconi. Joaquim de Castro era o nome do senador na eleição, que não teve interferência de Alcides.

Onde falta informação, proliferam as especulações. Na bolsa de apostas dos últimos dias, o vice-governador Ademir Menezes foi um dos alvos preferenciais. De acordo com as fontes palacianas, ele seria um dos nós na lista do governador. Enquanto vice no primeiro mandato de Marconi, Alcides Rodrigues ocupou a Secretaria do Meio Ambiente, sem abrir mão da estrutura de cargos da vice-governadoria. Agora, Ademir estaria pretendendo fazer a mesma coisa, ocupando a Secretaria de Infra-Estrutura. “Só que aqueles tempos eram outros. A base aliada era bem menor do que foi na última eleição. É preciso ter compreensão”, observa um dos amigos do governador. Ademir Menezes não foi localizado para comentar esse boato.

Enquanto isso, a saída de José Paulo Loureiro, deixando a Secretaria de Segurança Pública com o superintendente Sérgio Augusto de Oliveira, continua gerando comentários negativos — e não apenas no meio político. Comenta-se que uma área crítica da administração, envolvendo a questão da violência, o combate à criminalidade e o comando sobre duas corporações policiais, não poderia permanecer sem respaldo político. A resposta dos interlocutores de Alcides tem a mesma veemência usada com outros casos: Sérgio Augusto tem, sim, todo o respaldo do governador para tomar todas as medidas necessárias.

O deputado estadual Ernesto Roller (PP) continua como o mais cotado para a Secretaria de Segurança Pública. Na quarta-feira, 28, outro nome da Assembléia Legislativa que se manteve forte na bolsa de apostas era o da deputada estadual Flávia Morais (PSDB) para a Secretaria de Cidades. A informação foi dada como certa por um de seus colegas de bancada, mas um assessor direto da deputada negou que ela tenha sido convidada — mesmo em uma conversa muito reservada. O governador também estaria mantendo conversações para garantir a participação de pelo menos um dos dois deputados do PFL — Helio de Sousa e Nilo Rezende — em seu primeiro escalão.

Nos bastidores também circulou o comentário de que a deputada federal Raquel Teixeira (PSDB) teria aceitado o convite do governador para assumir a Secretaria de Cidadania. Um movimento que certamente agradará o governo Lula da Silva, já que a saída da tucana providenciará a ascensão de Francisco Abreu (PR), de um partido da base do governo federal. Outro suplente atento às movimentações da quarta-feira era Leonardo Veloso (PP), cotado para a Secretaria de Agricultura, com apoio do prefeito de Rio Verde, Paulo Roberto Cunha. Mas comenta-se também que essa seria outra articulação sendo fritada em fogo morno por forças superiores.

Especiais

Secretário especial da Transição, Fernando Cunha foi um dos mais acionados na quarta-feira. Diferentemente do coordenador da proposta de reforma administrativa, José Carlos Siqueira (Seplan), Fernando Cunha tem soltado informações a conta-gotas. Uma delas é a de que todas as secretarias extraordinárias que, na verdade, possuem apenas poder simbólico, serão extintas com a reforma. Nesse caso, qual seria o espaço do próprio Cunha, já que a de Transição também será extinta? Especulou-se que ele poderia voltar à Secretaria de Governo, ocupada por Armando Virgílio.

Alguns observadores comentam que Alcides deverá arrumar algum lugar para o atual titular da Secretaria de Governo. Virgílio foi um dos coringas do governador durante o ano passado, mostrando suas habilidades de articulação na campanha. Mas além de Cunha e do próprio Virgílio, um outro nome forte tem sido cotado para o cargo e citado como o verdadeiro confidente de Alcides neste período de mapeamento político: o do ex-deputado estadual Nerivaldo Costa (PP). Amigo antigo do governador, Nerivaldo é também um de seus interlocutores mais silenciosos.

Em outro ponto nevrálgico do primeiro escalão, a Secretaria da Fazenda, continuam os comentários de que Oton Nascimento Júnior pode sair. Apesar disso e seguindo o exemplo de Cairo e Milca, ele parece estar tocando a pasta sem se preocupar com indefinições. Na semana passada, divulgou um dos primeiros informes positivos sobre a recuperação das finanças do Estado: a arrecadação de fevereiro cresceu 25 por cento se comparada com o mesmo período do ano passado. A projeção para o semestre também é positiva, sendo um passo importante para a crise de caixa que o governo vem enfrentando nos últimos meses.

Os acertos na administração possuem o saudável poder de desviar as atenções sobre os eventuais impasses políticos — comuns a qualquer governo. Alcides Rodrigues sabe que destravar a máquina e imprimir uma marca pessoal à gestão do Estado são atos imprescindíveis, inclusive para obter mais tranqüilidade nas trocas necessárias, a fim de que o secretariado tenha o perfil das forças que o elegeram. No momento, basta dar ouvidos ao seu instinto político, que até agora vem funcionando: cautela e respeito à palavra empenhada