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A louca do IBAMA e o pedágio da pinguela - 29/02/2008

Quase sempre acompanho os noticiários da TV, dos Jornais ou da Internet. Notícias policiais e esportivas são as minhas preferidas. Nas páginas policiais sempre dão destaque à prisão de alguém ou de algum fato que mereça destaque, quase sempre de pessoas pobres por roubos e furtos, na maioria das vezes, de objetos de “pequeno valor”. Outras são presas por serem usuários ou transportadores de drogas, protagonistas de brigas fortuitas em bares, em festas. Outros são presos por baterem em suas mulheres, os causadores da violência contra a mulher. Outros, no entanto, são presos por cobrarem pedágio em pinguela.

De acordo com os noticiários goianos, Orieneude Ribeiro e Moacir China foram presos, no Setor Morada dos Pássaros, em Aparecida de Goiânia por cobrarem pedágio para travessia de pedestre e motociclistas. De acordo com a polícia, os acusados estipularam uma taxa de R$ 0,50 para pedestres e R$ 1,00 para motociclistas. O pedágio se deu porque a ponte sobre o córrego Santo Antônio foi arrastada impossibilitando a travessia de pedestres e motoristas no local. Após a prisão, a dupla foi encaminhada 2ºDP do município para responderem pelo crime de restrição de direito de ir e vir em via pública, desobediência e resistência à prisão.

Porém, nem tudo está nas páginas policiais ou nas páginas esportivas. Alguém que furta milhões, por exemplo, pode estar nesse momento, internada em alguma clínica psiquiátrica se passando por louca. Afinal, sempre que alguém, com alto poder aquisitivo, é acusado de algum crime, o mesmo não é considerado um criminoso e sim alguém com algum transtorno mental. Lembram-se do Juiz Federal Nicolau?

Os crimes praticados na alta esfera da sociedade, afinal, toda classe social tem seus respectivos criminosos, mobilizam valores impressionantes e os nomes para os crimes são nobres (colarinho branco, fraudador, improbidade administrativa, etc). Os números chegam geralmente perto de bilhões de reais e que em alguns casos, chegam a bilhões de dólares.

Recentemente a coordenadora da área financeira do IBAMA em Goiás (cargo chique, não?), Maria de Fátima Piau Ferreira, foi acusada de desviar quase um milhão de reais do órgão. A investigação começou depois que o nome de uma clínica de estética de Goiás apareceu na lista de gastos do IBAMA. A Polícia Federal começou a ouvir os envolvidos, mas ainda não sabe quando a funcionária será interrogada. A mulher se internou em uma clínica psiquiátrica depois que o caso foi descoberto. A Polícia Federal aguarda uma posição dos médicos para ouvir a funcionária.

O Ministério Público Federal e a Polícia Federal não descartam a hipótese de que a internação tenha sido uma manobra para que ela ganhasse tempo antes de se pronunciar. Na lista de favorecidos com o dinheiro público estão também parentes da funcionária, como o cunhado e o filho dela, que negou ao ministério público qualquer envolvimento com o desvio.

Está mais que evidente que todo o dinheiro desviado da União compromete o orçamento público. Acontece, porém, que esse mesmo orçamento atende a ricos e pobres. Porém, o corte é feitos nos investimentos em melhorias para os pobres, claro. Afinal, é o mais sacrificado. É sempre o excluído.

Nos dois casos citados há um tratamento diferenciado pelas autoridades competentes. Os coitados da pinguela foram presos no local do crime e encaminhados para o distrito. A louca do IBAMA, ao contrário, foi encaminhada para uma clínica particular.

Que são os culpados por tudo isso? Que tipo de crime merece uma reflexão sobre uma punição: Quem cobrou R$ 0,50 centavos pela travessia da pinguela ou quem desviou R$ 900 mil? Os dois? Nenhum? Os construtores da pinguela? Ou a louca do IBAMA?

 

Autor: Carlos José Ferreira de Oliveira – Diretor da União Goiana dos Policiais Civis – UGOPOCI e Agente de Polícia

e-mail: kajuze@yahoo.com.br

Fonte: União Goiana dos Policiais Civis - UGOPOCI, em 29.02.08