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A busca por coesão no governo - 25/03/2008

Jornal O Popular – Coluna da Cileide Alves – Dia 24/03/2008

 

Que voltas o mundo dá! Com o perdão de começar com esse irresistível lugar-comum, o engenheiro Oton Nascimento Júnior deixou a Secretaria da Fazenda (Sefaz) em abril do ano passado responsabilizado por tucanos pela crise financeira do Estado.

Na época, os salários do funcionalismo estavam atrasados, os pagamentos dos programas sociais suspensos e o governo em clima de guerra para conter despesas. A crise do Estado tornara-se pública e ali começava a desavença, hoje explícita, entre tucanos e alcidistas. Interessados em preservar a imagem dos governos de Marconi Perillo, os tucanos consideravam que as dificuldades financeiras decorriam da falta de agressividade administrativa de Oton.

Defenderam sua substituição por Jorcelino Braga, que consideravam com perfil mais apropriado ao cargo. Braga assumiu e não poupou o “tempo novo”.

Expôs ainda mais as dificuldades do Estado e a relação dele com os tucanos se deteriorou. O problema então não era o secretário Oton, mas o descompasso entre receita e despesas. Na semana passada, Oton voltou ao governo como titular da Secretaria de Planejamento (Seplan) para substituir José Carlos Siqueira, um tucano de primeira linha. Apesar disso, ele é a esperança dos marconistas de que será um contraponto político a Braga no governo.

Oton é por natureza um conciliador, mas isso não quer dizer que ele assumirá o papel de mediador político do governo. Significa que ele não será mais um ponto de atrito, diferentemente da postura adotada pelo secretário Cairo de Freitas (Saúde), que há vários meses optou por trazer a público suas divergências com Braga pela liberação de recursos.

Oton é também um otimista. Ele acredita que abril marcará uma nova fase financeira no Estado. Em 2006, quando ele comandou a Sefaz, a receita aumentou 8% (descontada a inflação). Só que a folha de pagamento no período aumentou em R$ 800 milhões, em função dos planos de cargos e salários concedidos no final do governo de Marconi, engolindo a resposta positiva da receita.

Em 2007, já na era Braga, a receita continuou em ascensão: crescimento real de 13%, mas novamente a folha (ainda com aumentos por conta dos planos de cargos) também cresceu generosamente perto de R$ 1 bilhão. Em janeiro e fevereiro deste ano, a receita repetiu os índices de crescimento do ano passado, só que agora o governo terá uma folga no aumento da folha. Restam ainda R$ 200 milhões dos parcelamentos anteriores, que, somados ao crescimento vegetativo da folha, calculado em R$ 150 milhões (3%), acrescentará só R$ 350 milhões à despesa com pessoal.

São esses números que animam o secretário. Oton vai concentrar seu trabalho em projetos para diminuir os gargalos de infra-estrutura do Estado (rodovias e energia). Muitos desses projetos já poderiam estar em andamento, e talvez até estivessem, mas não ganharam prioridade no governo por faltar o fundamental ao bom andamento de um trabalho em equipe: confiança entre as partes.

A divulgação de dados apontando para um déficit de R$ 88 milhões em 2007, pondo em xeque o déficit de R$ 650 milhões divulgado pela Sefaz, foi a gota d’água que derrubou Siqueira.

Os números foram usados pelo deputado Daniel Goulart (PSDB) na Assembléia para fustigar o governo. A resposta veio na demissão de Siqueira, um técnico respeitado, mas umbilicalmente ligado a Marconi. Agora Alcides tem um secretário de sua confiança, para jogar com o seu time.

Ao convidar Oton para o cargo, o governador pediu-lhe coesão interna e tanto ele quanto Braga garantem que não terão a mínima dificuldade de se relacionar bem. Se conseguirem isso, o governador terá eliminado um foco de tensão, o conflito permanente entre a Sefaz e a Seplan.

Apesar da demora que lhe é peculiar (o governador ainda forma a equipe um ano depois da posse), Alcides conseguiu na última semana reduzir o espaço tucano no governo. Em abril de 2006, o governador declarou a esta coluna: “Não aceito ingerências em meu governo. Não sou omisso, sei decidir”.

O tempo passou, o governador decidiu lentamente, e só agora começa a despontar um governo com a marca de seu titular. Um ano depois dessa declaração é que as ingerências começaram a se reduzir.

Paralelamente ao desafio de ajustar sua equipe a seu estilo administrativo, Alcides enfrenta outro problema, este entre seus próprios aliados, os secretários Cairo e Braga. Ao brigar por recursos para a saúde, Cairo cumpre seu papel de lutar pela pasta que comanda, um setor que deve ter prioridade em qualquer governo e que não pode esperar, pois vive no fio da navalha da urgência e da emergência.

O problema é o caminho que ele escolheu: o enfrentamento público. Ao fustigar o secretário da Fazenda, Cairo indiretamente atinge o próprio governador. Quando ele diz que não aceita ser demitido por Braga, mas pelo governador, está implicitamente sugerindo que Braga exerce um poder que é do governador, como se este fosse mera figura decorativa. A briga do momento obrigará o governador a tomar uma atitude, a favor de um ou do outro secretário. Do contrário ficará implícito que é ele que não consegue dar coesão a sua equipe por não exercer o poder.