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O embrião de um grupo político - 21/04/2008

Jornal O Popular – Coluna da Cileide Alves – Dia 21/04/2008

A decisão do PT de apoiar a reeleição do prefeito Iris Rezende e condicionar a participação do partido na aliança à indicação de um vice petista tem efeito direto na eleição deste ano, mas aponta para a construção de uma composição a longo prazo.

No curto prazo, o PMDB se fortalece. Contará com os preciosos minutos petistas na propaganda eleitoral gratuita do rádio e da TV, e, mais importante, elimina um adversário que, se tivesse prevalecido a tese de candidatura própria, dividiria o mesmo campo político, a base de sustentação do presidente Lula da Silva.

A eleição de 2006 exemplifica o que representa a divisão do mesmo grupo político. Ao se recusar a oferecer a vice para o PT, o PMDB não só perdeu um aliado eleitoral, como abriu espaço para o lançamento da candidatura de Barbosa Neto, que contribuiu para a derrota de Maguito Vilela ao governo.

Há quem duvide, especialmente na oposição, que o PMDB cederá a vice, exatamente pelo histórico do partido. Desta vez, Iris comandará a discussão interna, e ele concorda com a condição do PT, porque não só vislumbra na aliança o fortalecimento de sua candidatura como também imagina desdobramentos positivos para disputas futuras.

O PMDB tem consciência do que ganha com a parceria com os petistas. Afinal, uma coisa é unir-se a partidos nanicos, de custo/benefício duvidoso, e, outra, aliar-se a um partido competitivo. O PT já venceu duas eleições na capital e nunca recebeu menos de 20% dos votos nas eleições que saiu derrotado.

Rachado, a metade do PT acha que perdeu com a decisão. Sem candidato próprio, segundo palavras do deputado Rubens Otoni, o partido perde espaço privilegiado de se “divulgar e de ter contato direto com as massas”. Mas Otoni é menos passional que outros petistas que prometem resistir a participar da campanha PMDB–PT. Diferentemente, ele considera que o partido pode tirar proveito dessa aliança. Obviamente, as vantagens serão diferentes das que teria com candidato próprio, mas ainda assim ele não deixa de enxergar os bônus.

O primeiro deles é a união do grupo político de sustentação a Lula. Outro é aproximar novamente o PT da administração de Goiânia e, por último, começar a elaborar com o PMDB um projeto para 2010. Tanto Rubens Otoni quanto Iris Rezende sabem que o mais importante da decisão de sábado não se resume à disputa de outubro.

A aliança de 2008 poderá ser um embrião para a formação de uma nova força política para a sucessão estadual e essa possibilidade anima os dois partidos. Só que, por enquanto, esse embrião está sendo gerado em uma gravidez de alto risco, sem garantia de que conseguirá se desenvolver e nascer saudável daqui a dois anos.

Sua sobrevida dependerá tanto de petistas quanto de peemedebistas. Os petistas terão de curar as feridas abertas com a decisão de sábado. Se querem pensar a longo prazo, e não apenas pelo projeto eleitoral de 2010, mas até para garantir a saúde do partido, os petistas derrotados terão de superar o orgulho ferido e os vitoriosos, a arrogância natural de quem vence para se recomporem e darem o passo seguinte, a escolha do candidato a vice a ser indicado ao PMDB, assunto que promete muito barulho. Se continuar rachado, o partido perde força política.

A ação do PMDB na negociação para ceder a vaga de vice aos petistas poderá contribuir para acalmar as divergências ou para aprofundá-las. Os próximos passos peemedebistas, agora que o PT lhes deu esse presentão, vão indicar se essa aliança vai dar resultado nesta eleição e se sustentará no futuro. O prefeito afirmou no sábado que, no que depender dele, vai trabalhar para que os petistas participem unidos de sua eleição, pois reconhece o grande reforço do partido à sua reeleição.

Iris vai se empenhar na negociação porque também aposta que seu sucesso neste ano renderá uma composição sólida em 2010 entre todos os partidos aliados de Lula. Para construir esse projeto futuro, ele contará com o apoio não apenas da metade dos petistas que votaram a favor da aliança, mas também do grupo de Rubens Otoni, que antes defendia candidatura própria.

Enquanto PT e PMDB dão passos largos para construção de nova força política, os partidos da base aliada do governo estadual continuam sem candidato, e o pior, sem rumo. Permancem à espera de orientação do governador, que não chega.

A candidatura da deputada Raquel Teixeira (PSDB) perdeu força com a articulação da candidatura de Demóstenes Torres (DEM) como alternativa para unir a base. O senador Marconi Perillo (PSDB) nega que esteja trabalhando para isso, alegando que seu partido tem candidato.

Só que os principais defensores dessa opção estão entre os tucanos, pois, assim como PMDB e PT, eles também pensam em 2010. Uma candidatura de Marconi a governador depende da união da base, condição que Raquel não consegue garantir. Por isso o PSDB começa a deixar sua candidata para trás, pensando em composições políticas mais vantajosas. Os tucanos agem, diante do vácuo deixado por Alcides, que parece não querer se envolver.