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A falta que um adversário faz - 26/05/2008

Jornal O Popular – Coluna da Ciliede Alves – Dia 26/05/2008

No segundo governo de Iris Rezende (1991–1994), o PDC, importante partido da oposição, com seis deputados, aderiu à base governista elevando-a para dois terços da Assembléia. Entusiasmado, um deputado peemedebista quis continuar com o processo de cooptação, mas foi desestimulado por uma ponderação de Iris. Segundo lembra hoje esse deputado, o governador teria lhe dito: “Esse um terço que fica na oposição vai encorpar os dois terços que estão conosco.” Em outras palavras, a oposição mantém o governo vigilante e até fortalece suas ações.

Essa lembrança se justifica pelo momento pelo qual passa o prefeito Iris Rezende em sua caminhada pela reeleição. Com a oposição desarticulada, sem rumo nem candidato, Iris segue sozinho, sem adversários na sua cola para mantê-lo em alerta e vigilante das conseqüências de suas ações políticas.

O episódio envolvendo o secretário de Fiscalização Urbana, Santana Pires, é significativo da falta que faz a oposição para “encorpar” o PMDB. O secretário foi detido dia 18 acusado de agredir um agente da própria secretaria, que fiscalizava camelôs irregulares nas proximidades do Centro de Goiânia. Até então, ninguém sabia muito sobre o secretário, mas a briga revelou um pouco sobre esse estranho.

O acontecimento em si já é extremamente indigno para um agente público que representa uma cidade do porte de Goiânia. Como secretário ele nunca poderia ter se envolvido em uma briga em público. Posteriormente, descobriu-se que o secretário mal sabe expressar-se. Em entrevista à TV Anhanguera, tropeçou no vocabulário (trocou equívoco por arquivo) e na gramática. Ficou notório seu despreparo intelectual, emocional e até profissional para o cargo.

Isso suscita algumas perguntas: como uma pessoa assim chega a um cargo de primeiro escalão na maior prefeitura goiana? O que faz um ex-deputado federal do DF e ex-secretário do governo de lá (leia-se Jorge Pinheiro) no primeiro escalão da prefeitura de Goiânia? Ele não tem vínculo com a cidade, mas responde pela Secretaria de Administração.

Esses novos secretários foram empossados numa combinação que envolveu atendimento aos evangélicos e seus pequenos partidos, os chamados nanicos que só ganham destaque na política em períodos pré-eleitorais. Santana é do desconhecido PRTB; Pinheiro é do PRP e ligado à Igreja Universal, credenciais que lhes garantiram os cargos. Em geral, os partidos pequenos ganham espaços importantes às vésperas de eleições e, em troca, oferecem suas siglas para composição de amplas chapas e preciosos minutos no horário eleitoral gratuito.

O caso de Santana Pires indica que quem corre o risco de pagar a conta desses acordos é a sociedade, que se vê nas mãos de pessoas despreparadas para funções públicas. E não só intelectualmente, pois este nem é o maior dos males.

Ressalvadas as exceções, os partidos nanicos têm protagonizado episódios condenáveis. No início da administração de Iris, Rannieri Lopes (PTC) teve de deixar a mesma Secretaria de Fiscalização depois de denúncias de proprietários de um bar e restaurante. Em agosto de 2006, o presidente do PSL, Osvaldo Pereira, foi flagrado pelo Fantástico, da TV Globo, negociando por R$ 1,3 milhão o horário eleitoral de seu partido no rádio e TV.

Iris já conseguiu apoio do PT, um aliado de peso político e eleitoral. Costurou acordos com uma salada de letras de legendas partidárias desconhecidas e continua atrás de mais partidos, dando a impressão de que não há coerência política nem programática. Um sinal inequívoco de que falta ao PMDB aquele um terço que acende a luz vermelha e liga o senso crítico de qualquer um.

Os governistas

Maio chega ao fim e com ele o prazo para os governistas começaram a desvencilhar-se das inúmeras barreiras que impedem a escolha de um candidato (ou mais de um) para enfrentar o PMDB. Na semana passada o nome de Barbosa Neto voltou a entrar na bolsa de cotações. E por exclusão. A candidatura de Raquel Teixeira (PSDB) não une a base por ela ser de um partido de oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem o governador Alcides Rodrigues não quer desagradar. A candidatura de Sandes Júnior corre um sério risco eleitoral, pois ele já vem de duas derrotas. Se perder de novo, a derrota poderá complicar até mesmo sua reeleição futura para deputado federal e, ainda, ser debitada na conta política de Alcides. Sobra Barbosa, que é do PSB, partido aliado de Lula, e com poucas arestas com os demais partidos.

A questão agora é: quem vai puxar a negociação de aliança? O PSDB espera uma ação do governador, que faz o mesmo, espera que o PSDB decida por si próprio retirar a candidatura de Raquel ou assumi-la de vez, independentemente dos demais partidos governistas.

Ninguém quer ficar com o ônus de ter dado o primeiro passo. Os tucanos são mais ansiosos. Estão angustiados. O governador tem sangue frio e faz o que mais sabe, deixa o tempo passar, sem demonstrar cansaço ou ansiedade. Um impasse cuja solução desperta curiosidade.