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Impasse sem fim - 02/06/2008

Jornal O Popular - Coluna da Cileide Alves – Dia 02/06/2008

A indefinição dos partidos de oposição ao prefeito Iris Rezende na eleição em Goiânia não pode ser debitada exclusivamente na conta do governador Alcides Rodrigues (PP). Dois em cada dois governistas, à exceção, claro, dos pepistas, consideram que Alcides já deveria ter assumido o comando da articulação e que a falta dessa iniciativa paralisou o grupo.

Essa argumentação parece mais munição verbal usada na guerra fria travada entre os aliados do que o retrato dos fatos políticos atuais. A definição ainda não ocorreu em Goiânia porque já é praxe que ela ocorra apenas no apagar das luzes, isto é, às vésperas das convenções partidárias, que podem ser realizadas já a partir do início deste mês, mas que, propositalmente, os partidos deixam para os últimos dias, final de junho.

E não apenas em Goiânia. Em Catalão, Jardel Sebba (PSDB) e Fenando Netto (DEM) ainda hesitam com suas pré-candidaturas e com as parcerias eleitorais. Nem mesmo o prefeito Adib Elias (PMDB) bateu o martelo sobre quem será o candidato a sua sucessão. Aparecida de Goiânia tem todo tipo de confusão. O prefeito José Macedo (PR) ainda nem sabe se vai disputar a reeleição, enquanto os “aliados” Marlúcio Pereira (PTB) e Ozair José (PP) correm cada um para um lado.

Em Anápolis, o PSDB tem Ridoval Chiareloto, o PTB bate o pé na candidatura de Frei Valdair, enquanto o PP namora de longe o PT de Rubens Otoni. Em Luziânia, PMDB e PSDB – não há erro aí, é o PMDB mesmo – aliados em várias eleições, debatem-se em um processo que caminha para um divórcio litigioso. O prefeito Célio Silveira (PSDB) tenta salvar a relação, que o elegeu em 2004, mas que deu a contrapartida ao PMDB em 2006, elegendo Marcelo Mello deputado federal.

Em Jataí a novíssima união do PSDB com o PR, formada em 2004 com vistas a derrotar o PMDB, até então majoritário na cidade, corre o risco de morrer na eleição deste ano. Uma dissidência entre os tucanos rachou o partido entre os que querem apoiar a reeleição de Fernando da Folha (PR) e os que querem lançar um candidato.

Goiânia, portanto, não foge à regra do que ocorre em outros municípios, muito menos do calendário eleitoral da própria cidade. Em 2004, as candidaturas da base aliada afunilaram-se em Barbosa Neto (PSB) e Sandes Júnior (PP) – um filme regravado para este ano – no final de maio. Na época, os governistas ainda esperavam a definição do PMDB a respeito da candidatura de Iris Rezende, que só foi confirmada na primeira quinzena de junho.

Esse breve histórico confirma que o tempo dos partidos realmente é junho e que antes disso nada se define, apenas constroem-se ou destroem-se candidaturas. Que o diga a deputada federal Raquel Teixeira que entrou na luta para consolidar sua candidatura em janeiro e chega agora derrotada, sem chances de ser escolhida. Mas vale uma ressalva: ela trabalhou muito mais sozinha do que com o apoio integral de seu partido, que passou esse tempo fazendo jogo duplo, ora reforçando a pré-candidatura da tucana, ora negociando com outros partidos.

A novidade neste ano, portanto, não é a já conhecida demora do governador para tomar decisão, mas o afastamento político entre ele e Marconi. Esta é a raiz de tudo. Há quatro anos, a base entrou no mês de junho com nomes para escolher, hoje ela enrosca-se em um impasse político do qual não consegue se desvencilhar.

O PSDB ficou sem opção de candidato próprio. Voltou a batalhar pela candidatura de Demóstenes Torres (DEM), mas esbarrou na resistência de Ronaldo Caiado em fechar uma aliança sem o aval de Alcides Rodrigues. Sem Alcides, Caiado não entra na aliança e sem Caiado, Demóstenes também não se arriscará a entrar. O senador democrata não demonstra o menor interesse em brigar com seu principal aliado de todos esses anos (Caiado) para entrar numa disputa com Marconi à frente.

Restaria ao DEM articular a candidatura via Palácio das Esmeraldas. Caiado e Demóstenes não têm atritos com Alcides e poderiam formar uma boa chapa eleitoral com Sandes Júnior na vice. Só que essa opção esbarra em outro empecilho. Demóstenes é oposição ao presidente Lula e o governo goiano não tem a menor disposição de comprar briga com Brasília. Muito pelo contrário. Há vários projetos de interesse do Estado bem encaminhados no governo federal e Goiás não quer colocá-los a perder com uma aliança eleitoral indigesta ao Planalto.

Entra semana, sai semana e o impasse permanece porque o fato que o originou, a crise política entre Marconi e Alcides, não se resolveu nem dá sinais de que será resolvida. Por isso, e menos pelos outros fatores, os partidos governistas entram junho pela primeira vez perdidos, sem saber que rumo tomar e conversando muito para encontrar um denominador comum. De concreto conseguiram apenas se afastar ainda mais e reduzir as chances eleitorais, pois nenhum nome consegue atender a todos, já que os interesses, agora, são divergentes, não mais convergentes, como nas outras eleições que o grupo participou unido. Por exclusão, Barbosa Neto continua bem contado.