Artigos UGOPOCI

O governador fez uma escolha - 23/06/2008

Jornal O Popular – Coluna da Cileide Alves – Dia 23/06/2008

O governador Alcides Rodrigues e os líderes de seu partido, o PP, reforçaram na semana passada um discurso que repetiram durante todo o processo de articulação para escolha do candidato que representaria os governistas em Goiânia. Ao comentarem a desistência do senador Demóstenes Torres (DEM) de ser candidato a prefeito, afirmaram que o afunilamento em torno do deputado Sandes Júnior, provável candidato do grupo, ocorreu naturalmente sem a interferência do governo.

“É a forma mais natural, mais lógica e mais madura de fazer política. Se metermos a colher de pau antes da hora, pode gerar conflito e transtornos”, disse o governador ao POPULAR quarta-feira, algumas horas depois de Demóstenes anunciar sua decisão. Só que diferentemente do que dizem, a seleção nos partidos governistas não foi “natural”. Não ocorreu na base um processo espontâneo de evolução político-eleitoral, um amadurecimento natural em direção a Sandes. A condução da escolha do candidato ocorreu, é verdade, de forma diferente das últimas duas eleições municipais (2000 e 2004), quando o governador era Marconi Perillo. Agora essa condução foi diferente na forma, mas a interferência se deu tanto nas duas primeiras quanto na deste ano.

Saiu um estilo e entrou outro. O atual é mais discreto, silencioso e, o principal diferencial, tem muita paciência para esperar. Os obstáculos à preferência do governador foram sendo removidos um a um. A deputada Raquel Teixeira (PSDB), o presidente da Agetur, Barbosa Neto (PSB), o ex-deputado federal Vilmar Rocha (DEM) e por último Demóstenes não desistiram espontaneamente, mas porque não receberam do governador apoio para suas candidaturas.

Alcides declarou publicamente sua preferência por Sandes e, posteriormente, calou-se. Os demais partidos insistiram para que conduzisse as negociações internas entre os partidos, mas ele permaneceu fiel a seu estilo. Primeiro revelou sua predileção, depois calou-se. Não precisou fazer mais nada, a não ser o dar o tempo necessário para que todos entendessem sua linguagem cifrada.

Enquanto o tempo foi passando, as coisas aconteceram, e nada por acaso. Os obstáculos à candidatura de Raquel foram revelando-se um a um: não unia a base, atritou-se com Alcides ao ficar pouco tempo na Secretaria da Cidadania; e até questões com conseqüências eleitorais futuras, como as revelações de uma condenação contra ela pelo Tribunal de Contas da União, relativas ao uso de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento para a Educação Básica (Fundeb), e seu pedido para a Câmara dos Deputados reembolsá-la por um período em que passou em um spa.

Vilmar era candidato do DEM, é próximo de Marconi, tem bom relacionamento com o governador e, teoricamente, poderia unir a base. Teoricamente. Não uniu e por isso desistiu da disputa, mesma situação de seu colega Demóstenes, o último a deixar o páreo por razões muito parecidas. Barbosa também poderia ter conciliado interesses, com a vantagem adicional de ser de um partido da base aliada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas também não uniu. Essa característica comum entre todos – não unir a base – é que merece destaque. Na realidade isso significa que nenhum agradou ao governador, porque ele tem projeto político diferente deste que pelo menos três dos quatro pré-candidatos representam.

O apoio de Alcides a Raquel, Vilmar ou Demóstenes indicaria sua opção por permanecer aliado do grupo político formado em 1998, com a eleição de Marconi Perillo a governador, chamado de “tempo novo”. Só que esse grupo, que já vinha de uma série de desgastes nas últimas eleições, perdeu força e já não existe mais nos moldes para o qual foi criado desde que Alcides afastou-se politicamente de Marconi e aproximou-se – e não só administrativamente, mas também politicamente – do presidente Lula.

O governador está com um pé no grupo formado por seus antigos amigos e com o outro no grupo de seus novos amigos. Por isso nenhum candidato que viesse do primeiro grupo, em especial tucanos e democratas que, além de tudo, são adversários do governo federal, coube no novo figurino político de Alcides. Até o momento o governador não decidiu para que lado vai levar seu outro pé. Ele precisa do primeiro porque este forma sua base de sustentação política em Goiás. Precisa do segundo, para receber ajuda financeiros da União, sem a qual não terá como investir em obras, já que as contas do Estado estão negativas.

Apesar de permanecer com um pé de cada lado, o governador deu uma forte sinalização com a eleição em Goiânia. As escolhas não são feitas apenas por meio de palavras, mas também por gestos e atitudes e foi por meio desses últimos que Alcides afastou-se de todas as candidaturas que fortaleciam a extinta base aliada e optou por Sandes. Essa escolha foi interpretada como sendo neutra entre os dois lados, mas o gesto de recusar seus antigos aliados por si só diz mais que mil palavras. O governador fez uma escolha política em Goiânia e esta não favoreceu seus aliados que são também adversários do presidente Lula em Goiás. Este é, certamente, o gesto mais explícito que se pode enxergar neste momento a partir desta decisão.