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Ruídos, de novo, entre PMDB e PT - 07/07/2008

Jornal O Popular – Coluna da Cileide Alves – Dia 07/07/2008

O deputado federal Rubens Otoni (PT) acredita que as eleições de 2008 serão um treino para o projeto petista de construir um novo eixo político para 2010 com os partidos da base aliada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como PT e PMDB, que fizeram uma inédita aliança em Goiânia. Encerradas as convenções municipais que confirmaram as candidaturas, um desconfiado deputado concluiu: “Se é um treino (a aproximação com os peemedebistas), ainda vai precisar treinar muito até 2010”.

A insatisfação de Otoni reflete o clima de desconfiança que voltou a dominar setores petistas em relação ao PMDB, que patrocinou as maiores rasteiras que o PT levou nas alianças que programava fazer em alguns municípios. Na conta dos casos “graves” o PT coloca Luziânia, Aparecida de Goiânia, Rio Verde, Catalão e Goianésia.

Luziânia e Aparecida são os que mais incomodaram a direção partidária. O PT planejava em Luziânia lançar a candidatura de Didi Viana, que na eleição de 2004 recebeu cerca de 30% dos votos. Pensando na aproximação com o PMDB, recuou da candidatura própria e propôs a Edmar Braz lançar-se candidato com Didi na vice. Tudo acertado, convenção marcada, na última hora o peemedebista voltou atrás, deixando o PT falando sozinho.

Em Aparecida, o PT estava dividido entre Maguito Vilela (PMDB) e Marlúcio Pereira (PTB). O diretório local optou pelo segundo e na semana passada os petistas pró-Maguito aderiram à campanha peemedebista. Nada é mais caro para o PT que o respeito ao estatuto partidário, que determina respeito às decisões da maioria. Essa regra tem sido cumprida, tanto que em Goiânia os descontentes com a aliança com o PMDB não aderiam à campanha de Iris Rezende, mas também não estão trabalhando contra, o que seria considerado infidelidade partidária.

A direção regional entendeu que em Aparecida o PMDB estimulou o desrespeito a essa valiosa regra e está disposta a tomar providências para punir os infiéis, em especial o presidente do diretório municipal, Domingos Pereira, de quem cobram comportamento exemplar.

Esse episódio reabriu a cicatriz da ferida de 2006, quando Maguito cedeu a pressões de peemedebistas e recusou o vice indicado pelo PT, o hoje presidente regional Valdi Camarcio, para compor sua chapa na disputa para o governo. Os petistas acham que faltou “habilidade” ao PMDB em Aparecida, da mesma forma que há dois anos. Os peemedebistas discordam e lançam a rebelião petista na conta do controle que o vereador Helvecino Moura exerce sobre o partido no município.

Os folhetos já impressos, prontos para serem distribuídos na convenção petista em Rio Verde, anunciando a presença na chapa do deputado Wagner Guimarães, são o símbolo do desconforto do partido no município. Os petistas passaram pelo vexame de jogar a papelada no lixo e buscar uma alternativa de última hora, quando o PMDB, mais uma vez, disse não ao PT, neste caso em troca de um vice tucano.

Em Catalão e em Goianésia o PT também negociava alianças com o PMDB e, ao final, foi excluído das chapas majoritárias. Em Catalão, a exclusão passou pelo prefeito Adib Elias, um dos peemedebistas que vetaram a presença de Valdi na chapa de Maguito.

Há um fato em comum em todas essas histórias: a falta de confiança entre os dois partidos. Essa desconfiança pairou durante a negociação da aliança em Goiânia. Os petistas contrários ao apoio a Iris Rezende insistiam que o PMDB não cederia a vice. Iris dizia que aqui seria diferente, porque ele garantiria o cumprimento do acordo, como de fato garantiu. Na primeira entrevista após a decisão do PT de apoiá-lo, Iris afirmou que o mais importante dessa aliança era sua sinalização para 2010, mensagem que, ao que parece, boa parte do partido no interior não captou.

Iris aliou-se ao PT, mas não interferiu junto às lideranças peemedebistas a favor de seu novo aliado. Sua omissão não é por acaso, mas uma estratégia para tentar romper a imagem de líder autoritário, que controla o partido com mão de ferro, como uma espécie de coronel do PMDB, uma crítica recorrente entre seus correligionários construída ao longo de sua carreira. Seus assessores revelam que Iris recebeu muitos pré-candidatos a prefeito em seu gabinete, mas garantem que ele se limitou apenas a “dar conselhos”.

Além de melhorar sua imagem internamente, o prefeito espera fortalecer sua liderança a partir das eleições deste ano, caso se reeleja em Goiânia, claro. Nesta hipótese ele poderá se impor como exemplo de líder que soube abrir o partido para composições eleitorais, uma dificuldade histórica do PMDB, e assumir, naturalmente, a articulação em nome de seu partido em prol de um ampla aliança para formação de um novo eixo político em Goiás, visando enfrentar a popularidade de Marconi Perillo em 2010. Só que os problemas deste ano indicam que ainda há muitas dificuldades a serem removidas depois das eleições, pois PT e PMDB ainda são partidos muito diferentes.

Enquanto isso, diferentemente da desconfiança em relação ao PMDB, o PT está positivamente surpreso com o progresso na aproximação com o PP de Alcides Rodrigues.