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Quem será o seu sucessor? - 12/07/2008

por Murilo Aragão *

A pouco mais de dois anos das eleições presidenciais, vivemos uma situação política única, na qual êxitos impensáveis se materializaram. Graças à fortuna dos bons ventos da economia internacional, à aplicação razoável dos fundamentos criados pelo Plano Real e ao bom senso do presidente Lula, que não se rendeu ao fascínio das soluções mágicas. No entanto, este mundo em que vivemos e que tantos êxitos proporcionou ao governo do PT na economia, está com seus dias contados. Lula se vai e em hipótese nenhuma forçará um terceiro mandato. Temos que conviver com a idéia de que ele deixará o governo daqui a pouco e um novo presidente vai chegar.

Aparentemente, nenhum dos nomes disponíveis tem as qualidades políticas de Lula. Seu comportamento foi forjado no hábito de negociar, de respeitar a diversidade e de aprender com os erros. Suas vitórias decorrem diretamente dos seus fracassos. Lula talvez não seja o melhor presidente pelo fato de não ter tempo para se dedicar a olhar para o futuro e ser amparado por um ministério técnica e politicamente inconsistente. Sem dúvida, esse é o seu ponto fraco: não ter sabido transformar o sucesso econômico em poder político efetivo no Congresso.

Pois bem, na medida que os dias passam, o governo Lula vai entrando para a história e se abre um período de imensas incertezas. Quem será o seu sucessor? Em primeiro lugar, temos que trabalhar com algumas certezas. A primeira delas é o fato de que Lula terá que aceitar que o PT tenha um candidato presidencial no primeiro turno.

Outra realidade é que as articulações de Aécio Neves visando unir o PT ao PSDB utilizando-se do PSB podem funcionar em Minas, mas não devem dar certo em nenhum outro lugar do Brasil. PSDB e PT são como óleo e vinagre e o sistema político nacional funciona para separar, e não para unir interesses. Além do mais, Aécio, por mais que tenha condições de ser presidente, tem duas paradas duríssimas pela frente que podem exaurir suas chances de se tornar vitorioso em 2010. Uma é o desafio de derrotar José Serra na disputa pela vaga de candidato dos tucanos. Outra é costurar uma saída do PSDB combinada com uma candidatura por outro partido. Tudo muito complexo para o pouco tempo disponível.

O mapa do futuro político do Brasil vai se desenhando: os espaços para Aécio estão restritos e o PT terá um candidato, seja ele quem for. Outra certeza no processo é uma incerteza: o PMDB ainda não decidiu se vai ter ou não candidato. O partido vai avaliar o andamento do processo no PT para tomar sua decisão. Tal fato complica ainda mais a vida de Aécio. Caso o PMDB aceite o lugar de vice-presidente em uma chapa que tenha o PT na cabeça, a preferência seria para alguém do partido e não para um recém-chegado.

Além o PT e de Aécio, existem ainda dois elementos nessa equação. O papel de José Serra como candidato do PSDB e a disposição de Ciro Gomes ser candidato pelo bloquinho PSB-PCdoB-PDT. Tais decisões são críticas. Aparentemente, Serra não abre mão da candidatura presidencial. Sabe que pode ser a sua última chance e tem em São Paulo um poderoso instrumento político. Sabe, também, que fazendo uma campanha razoável estará no segundo turno.

Sua presença na campanha é algo quase certo. Já Ciro Gomes pode ser obrigado a ser candidato, já que o lugar de vice na chapa do PT pode ser ocupado pelo PMDB. Outra saída seria buscar um entendimento com Aécio Neves visando uma dobradinha no âmbito do PSB. Improvável? Pode ser. Mas não impossível. O certo é que nenhum dos nomes aqui analisados tem as qualidades políticas de Lula no sentido de conciliar o compromisso com a estabilidade econômica e a ousadia da mudança social.

Murillo de Aragão é mestre em Ciência Política, doutor em Sociologia pela UnB e presidente da Arko Advice – Análise Política.