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ANÁLISE - 02/04/2007


Na montagem de seu governo, Alcides Rodrigues oferece condições a todos os aliados para viabilizarem projetos políticos futuros.  O sucesso administrativo do governo de Alcides Rodrigues será o trampolim para todos

PATRÍCIA MORAES

Desde o momento em que se impôs como candidato à reeleição, o então vice-governador Alcides Rodrigues vem surpreendendo aliados e adversários. Com seu estilo silencioso de executar a prática política, o governador vem provocando reações diversas quanto à expectativa sobre o que será feito por Goiás durante seu mandato.

Apesar dos argumentos de que Alcides completa um ano de governo, vale ponderar que seu mandato, realmente, começou em 1º de janeiro de 2007. Cobrar do governador os nove últimos meses do mandato de seu antecessor, Marconi Perillo, torna-se um simples argumento vazio de oposição. Isso porque Alcides não disputou a reeleição de quatro anos de seu próprio governo. Na verdade, o governador sucedeu os oito anos do mandato de um aliado do qual era vice. Foram sete anos e três meses de silêncio, seguidos de um mandato de nove meses de pré-eleição. É somente a partir da vitória e início do mandato, em 2007, que as ações de Alcides Rodrigues devem ser avaliadas. E nesses três primeiros meses, ao contrário da maioria das análises, muito se pode considerar sobre o que está por vir.

Talvez pela primeira vez na história de Goiás, um governo está sendo constituído com a contemplação de todos os aliados que ajudaram na conquista da vitória; o que, inevitavelmente, levará à insatisfação aqueles que acreditam ser os principais responsáveis pelo sucesso eleitoral. Além disso, a previsão de que Alcides seria um governante submisso a seu sempre aliado senador Marconi Perillo também não prevaleceu. O governador está montando uma equipe multipartidária e ampliando os canais de comunicação antes fechados por seu antecessor.

Em três meses, Alcides recebeu o prefeito Iris Rezende e, na semana passada, surpreendeu ao receber para um café-da-manhã o presidente regional do PMDB, Maguito Vilela, seu adversário de campanha. Não parou por aí. Na noite anterior ao encontro com Maguito, o governador ofereceu jantar ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que durante os quatro anos do governo de Marconi foi mantido afastado dos debates sobre Goiás.

A composição de um governo menos tucano, mais pepista e próximo ao presidente Lula vem provocando indagações quanto aos interesses políticos futuros do governador. Isso porque, enquanto Alcides monta uma equipe menos voltada ao PSDB, partido que desde o início depositou apoio em sua reeleição, o senador Marconi Perillo monta táticas de defesa à permanência de seu poder no Estado ao eleger o presidente da Assembléia Legislativa, o presidente do Tribunal de Contas do Estado, o presidente da Associação Goiana de Municípios, fora a credibilidade que possui junto aos empresários.

A conclusão que se tem é que a parceria política entre Alcides e Marconi pode ampliar o poder da dupla para os próximos anos; ou a condição para o surgimento de novas lideranças políticas. Como não poderá mais disputar a reeleição, Alcides está oferecendo à história de Goiás a possibilidade de se construir um novo ciclo político após seu mandato.

É nessa linha de raciocínio que o líder tucano, o senador Marconi Perillo, está atento quanto ao cenário que encontrará para seu retorno em 2010. Alcides, que vive uma “lua-de-mel” com o presidente Lula, acerta no sentido de viabilizar seu governo e reverter os desgastes já conquistados no início de seu mandato, mas gera insegurança aos seus aliados. Seguindo o silêncio do governador, o construtor da ponte Lula-Alcides, deputado Sandro Mabel, fortalece seu partido, o PR, que terá o comando do governo em período estratégico à nova virada política. Além de ampliar seu poder de interferência junto com Alcides, Mabel também articula a indicação de aliados para secretarias na Prefeitura de Goiânia. Pode ser a montagem de um novo grupo político que tende a ser integrado por PR, PMDB, PTB, PT e PSB. Só que tudo isso dependerá da capacidade desses partidos de construir um discurso alternativo para o Estado e, principalmente, de quem irá encarná-lo. Os indicativos mostram que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, é nome capaz de fechar a composição desse novo projeto. E, caso isso aconteça, a tendência será a repetição da história, com o isolamento do PSDB da mesma maneira que aconteceu com o PMDB em 1998. Ou seja, assim como os partidos naquele período se uniram para derrotar a liderança peemedebista de Iris Rezende, em 2010 a união será no sentido de conter a perpetuação do Tempo Novo, encarnada pela imagem da liderança do senador Marconi Perillo.

A luta pela preservação do PSDB em Goiás será uma batalha de gigantes. O sucesso administrativo do governo de Alcides Rodrigues será o trampolim para todos. Tanto que o ex-prefeito Nion Albernaz já manifesta sua preocupação quanto ao futuro dos tucanos e se lança pré-candidato à Prefeitura de Goiânia em 2008, repetindo a tática de 1996, quando, eleito prefeito da capital, teve condições de construir a ponte que levaria à vitória de Marconi em 1998. Articulador nato, Nion anunciou o nome do empresário Júnior Friboi ao governo, mas a leitura certa dessa jogada é evitar o avanço da candidatura de Henrique Meirelles, que contará tanto com o apoio do presidente Lula como de todos os partidos que compõem a oposição aos tucanos. Fonte: jornal opção/edição de 01 a 07 de abril de 2007