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O fim da trégua do PMDB com o governo - 02/03/2009

O Popular – Coluna da Cileide Alves – Dia 02/03/2009 

 

A decisão da bancada do PMDB na Assembleia Legislativa de mudar sua relação com o governo de Alcides Rodrigues indica não apenas a proximidade da eleição, quando os partidos procuram se reacomodar para a disputa. Anunciada depois da eleição da deputada Mara Naves para líder do partido, em substituição a seu colega José Nelto, que esteve muito próximo do Palácio das Esmeraldas, a mudança revela também que o PMDB cansou de esperar por uma ação mais concreta por parte do governador.

 

Estimulado pelo próprio prefeito Iris Rezende, o PMDB trocou uma postura de oposição ao governo nesses dois anos por uma certa complacência. Deixou de apontar problemas e de criticar as ações de Alcides, como seria de se esperar de um adversário, acreditando que, com isso, conquistaria um novo aliado eleitoral (Alcides e seu PP), como também fomentaria a cisão na antiga base aliada governista.

 

O PMDB se entusiasmou ao ver o governo expondo as deficiências na gestão do antecessor, o senador Marconi Perillo, e facilitou o jogo. Proporcionou a Alcides um período de sombra e água fresca, esperando que a desconstrução da imagem de Marconi se aprofundasse a ponto de fragilizar o adversário para a disputa futura.

 

O PMDB esperava muito com essa jogada. Logo após a posse, Iris defendeu que Alcides deveria expor em detalhes as razões da delicada situação financeira do Estado e o que levou ao anunciado déficit de R$ 100 milhões.

 

O governador respondeu com o silêncio. A Secretaria da Fazenda apontou algumas deficiências, como a concessão de reajustes salariais ao funcionalismo acima da capacidade de crescimento da receita do Estado no final do mandato de Marconi, mas não avançou mais.

 

No ano passado, o governo prometeu fazer uma prestação de contas, mas o tempo passou e mais essa promessa não foi cumprida. Alcides também tem evitado apresentar dados sobre a origem da grave crise financeira da Celg, revelação que, na opinião de peemedebistas, prejudicaria a imagem das gestões tucanas.

 

O PMDB interpretou essa aparente falta de posição do governador como uma posição política. Ao ficar no meio do caminho com uma ação política dissimulada, Alcides preservaria seu aliado tucano e, de quebra, fez o PMDB pensar que foi vítima de um mero jogo político.

 

Por esse raciocínio, o governador teria acenado para o PMDB apenas com o objetivo de ter paz para governar, sem a fiscalização da oposição, e não com a intenção de construir um novo grupo político, longe dos tucanos.

 

Como já não mais acredita nem em aliança com o PP muito menos em rompimento definitivo entre PP e PSDB, o PMDB acha que o restabelecimento nas relações entre Marconi e Alcides Rodrigues será apenas uma questão de tempo.

 

Soma-se a isso a constatação de que a oposição aos candidatos do PMDB nas eleições municipais do ano passado partiu dos partidos da antiga base aliada, incluindo o PP. Não houve nos municípios a mesma proximidade política articulada pela cúpula pepista e peemedebista, confirmando que a política no interior ainda divide-se em dois pólos: PMDB de um lado e seus adversários de outro.

 

Pressionado por essa base, Alcides teria de se aliar a Marconi, mesmo a contragosto. Os peemedebistas acham que hoje é mais difícil para Marconi atrair o PR de Sandro Mabel e o DEM de Ronaldo Caiado, dois líderes com quem tem fortes desavenças políticas, para sua chapa do que o PP.

 

Depois desse balanço, os peemedebistas se fizeram a seguinte pergunta: se o PP não vai apoiar a candidatura de Iris para governador e se Alcides não vai romper com Marconi por que continuar a garantir tranquilidade ao aliado de seu maior adversário? Sem encontrar mais motivação, o partido decidiu mudar seu jogo e fazer a oposição que havia represado há dois anos.

 

Cobrará explicações sobre a situação econômica do Estado, questionará o propalado fim do déficit público, a promessa de investimentos de R$ 1,5 bilhão em obras, conforme previsão do Orçamento de 2009, explicações sobre a crise financeira da Celg e sobre a negociação com o BNDES para venda de 41% das ações da estatal em troca de R$ 1,2 bilhão.

 

O PSDB também sentiu as mesmas mudanças nos ares palacianos. Os tucanos captam aqui e ali sinais de que o grupo palaciano moderou nas indiretas aos tucanos e às gestões de Marconi no Estado – uma dessas evidências é o silêncio do presidente regional do PP, o secretário de Infraestrutura Sergio Caiado –, e interpretam isso como uma transição para um período de reaproximação. Enquanto isso não ocorre, o PSDB trabalha com as bases, em especial prefeitos e vereadores do PP, para criar uma situação de unidade de baixo para cima.

 

Curiosamente, os dois maiores adversários, PMDB e PSDB, estão tendo uma visão muito parecida do processo político-eleitoral futuro. Acham que tudo caminha para uma disputa entre Marconi e Iris em aliança com seus antigos aliados. O PSDB com apoio do PP e o PMDB com o PT. Os petistas, entretanto, ainda não entregaram os pontos. O partido acredita na aliança com Alcides e parte dos petistas torce muito para Henrique Meirelles entrar neste páreo.