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Os passos dos parceiros de Lula - 15/06/2009

O Popular – Coluna da Cileide Alves – Dia 15/06/2009

Os acontecimentos ocorridos dentro de um grupo político interferem não apenas internamente, mas também entre os integrantes de outros agrupamentos que disputam espaço na mesma arena política. O agravamento da crise política entre PP e PSDB desde a entrevista do deputado federal Carlos Alberto Lereia, à CBN Goiânia, em 25 de maio, quando ele fez duras críticas ao governador Alcides Rodrigues e a seu secretário Jorcelino Braga, formou um novo quadro político no Estado para tucanos e pepistas, assim como para PMDB, PT, PR e PTB.

O ninho tucano escolheu a cautela depois de duas semanas de duros embates. Os tucanos recolheram-se, pois constataram que, às vezes, o melhor embate é o recuo das tropas, afinal vale mais manter o território protegido do que correr o risco de perder homens numa batalha.

O partido hibernou; desistiu de continuar a polêmica com os governistas sobre a qualidade da gestão financeira dos dois governos do senador Marconi Perillo, já que nesta batalha o adversário tem controle total sobre a munição, isto é, os números da situação financeira do Estado. O PSDB voltou-se para as cidades do interior, para eventos organizados para promover Marconi. Em outras palavras vai se fortalecer para embates futuros.

Do outro lado acorreu justamente o oposto: o PP de Alcides, o PT e o PMDB saíram às ruas. O PP sente-se livre, não se preocupa mais em fingir ser aliado dos tucanos. Desde o bate-boca com Lereia os

Esse novo estado civil possibilitou a exposição da aproximação antes velada entre PP, PT e PMDB. Os dois últimos partidos mais do que torceram para o rompimento na base aliada, trabalharam por isso. O PMDB insuflou os governistas contra Marconi e ofereceu-lhes apoio na Assembleia Legislativa. Os petistas aproximaram a administração de Alcides do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governador recebeu apoio administrativo e político para romper e para sobreviver sem os tucanos.

Com o rompimento consumado, os prováveis novos parceiros políticos partem para nova fase no relacionamento. As conversas do prefeito Iris Rezende (PMDB) com Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula, e do governador Alcides com o próprio Lula na semana passada, em Brasília, marcaram essa nova fase.

A decisão política de articular uma união dos partidos de apoio da base de Lula está tomada, a questão que se coloca agora é como ela acontecerá. O empréstimo de R$ 1,35 bilhão do BNDES para a Celg e a solicitação do governo goiano para a Eletrobrás conceder o título de adimplente à Celg, antes mesmo da liberação do empréstimo que quitará sua dívida com o setor elétrico, foram a agenda oficial do encontro.

Em poucos minutos, esses assuntos foram resolvidos. Lula prometeu a Alcides que o BNDES emprestará R$ 840 milhões e o restante ficará por conta do Banco do Brasil. Também se mostrou surpreso com o fato de a solicitação à Eletrobrás não ter sido atendida. Vencida essa etapa, da boa vontade de ajudar o Estado, Lula puxou a conversa política.

O presidente sondou o governador sobre os possíveis cenários em Goiás, como o lançamento de um chapão, que reuniria PP, PMDB, PT, PSB e PR ou duas chapas independentes. A aliança ampla no primeiro turno ocorreria com um difícil consenso entre todos esses partidos em torno da candidatura de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, ou do prefeito Iris Rezende.

O primeiro faz articulações políticas discretas, mas ninguém duvida de seu interesse pela disputa de governador. Iris movimenta-se abertamente e nem consegue esconder seu ânimo por uma revanche com Marconi. Não foi por outro motivo que ele declarou no último mutirão nos bairros que o enfrentamento entre PMDB e PSDB será uma das eleições “mais emocionantes” do Estado.

O presidente Lula também testa a possibilidade de lançar duas chapas, com um candidato pelo PP e outro pelo PMDB, adiando para o segundo turno a ampla aliança. Iris aparece como forte candidato também nessa hipótese e dificilmente ficará sem o apoio do PT, já que o movimento Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritário nacionalmente e que em Goiás reúne as três maiores tendências petistas – o PT pra Vencer, do deputado federal Rubens Otoni, o Movimento Cerrado, do deputado federal Pedro Wilson, e a Articulação, do vice-prefeito Paulo Garcia –, decidiu, em São Paulo, há duas semanas, aliança preferencial com o PMDB.

Até o início de outubro, prazo final das filiações partidárias dos candidatos em 2010, cada parceiro desse grupo que fará oposição ao PSDB vai trabalhar para construir suas alternativas eleitorais. Alcides trabalhará pela candidatura de Meirelles, o PMDB pela de Iris.

A Lula interessa o melhor projeto eleitoral para dar suporte à candidatura presidencial de Dilma Rousseff, por isso vai esperar um desses projetos se consolidar. Vencida a fase da disputa entre PP e PSDB, os novos parceiros lulistas vão se dedicar à plantação de seus projetos eleitorais para colher o melhor candidato até o início de 2010. O PP com a dificuldade adicional de convencer sua base marconista e antipeemedebista de que a proposta hoje defendida pela cúpula é a melhor para o partido. Do alto de sua popularidade de quase 80%, Lula vai, por enquanto, observar.