Artigos UGOPOCI

MUDANÇA DE MENTALIDADE - 15/08/2012

Tenho percebido no decorrer dos últimos dias que muitas foram as ações e omissões da atual administração que motivaram a greve de agentes e escrivães da polícia civil no Estado de Goiás, e não somente o mau salário oferecido à categoria. Atrevo a dizer mais. O sucesso do movimento paredista não se deve tão somente a paralisação dos policiais, mas, sobretudo, a incompetência na gestão do atual Governo. Certamente se nos dirigirmos à sociedade em geral, esta se mostrará indignada com a greve atual, haja vista o suposto “prejuízo” causado a população. Todavia, é ponto pacífico que o trabalho desempenhado por nós, profissionais formados na Segurança Pública, é reconhecido somente em situação extrema como a atual, do contrário, não teria razão de ser o movimento deflagrado. Mas há de se constar que o prejuízo maior e pior, é o prejuízo moral a que os agentes e escrivães de todo o Estado vem sendo submetidos. O prejuízo do descaso, da inadequação, da truculência, dos mandos e desmandos. Há mais de dez anos compactuo com a instituição, seja na dedicação exaustiva dos trabalhos afetos aos de escrivã, seja no que legalmente está determinado em lei que deve ser executado por um delegado de polícia. Antes não apreciava qualquer problema em proceder sozinha na lavratura de um expediente próprio de um delegado de polícia, quer seja num auto de prisão em flagrante, quer sejam outros procedimentos afetos àquele cargo. Não vislumbrava excesso de qualquer delegado a quem eu estivesse sob o comando. O fato é que práticas como esta, executadas por escrivães de polícia, passaram a ser vistas por muitos chefes, como uma obrigação e não somente a um inominado ato, diga-se de passagem, próprio de um asno. Pequei absurdamente na intenção de ser reconhecida por delegados com quem atuei, como se fossem eles os responsáveis pelo meu sucesso na instituição. O fato é que em qualquer etapa da sua vida, muitos serão os equívocos que irá praticar, seja qual for o campo de trabalho, mas é necessário reconhecê-los e corrigi-los. Não gostaria de entrar no mérito do aumento salarial oferecido aos delegados de polícia, mesmo porque no lugar destes, eu teria de igual maneira me sentido intensamente agraciada e feliz com o reconhecimento. Não me oponho, absolutamente, a qualquer reconhecimento salarial a servidor. Acredito que a grande maioria do funcionalismo público, na proporção dos trabalhos executados, alcançam merecimento de reajustes. Não é novidade que o nobre governo há muito se despiu do manto da humildade e resolveu trajar a casaca do traidor. Inexiste de igual forma, dúvida de que nenhuma instituição sobrevive sem o apoio popular. Esqueceu-se, portanto, o Governador, que mais que funcionários, somos também parte da população que o elegeu, infelizmente, na altura do campeonato. Ao contrário do que muitos pensam, não sou instrumento de brigas políticas. Acredito no movimento, em sua ideologia, nos representantes sindicais. O movimento não se restringe a entrega de viaturas a delegados, ao cumprimento de oito horas diárias de trabalho, a não execução de expedientes por agentes e escrivães, mas principalmente a mudança de mentalidade. Entristeço ver que em um momento tão enobrecedor como o que vivemos, colegas seguem até as sedes de suas respectivas delegacias e se mantém enclausurados em suas salas mau equipadas, diga-se de passagem, quando poderiam estar junto a seus colegas, em qualquer canto de suas unidades policiais, discutindo opiniões e tomando decisões a longo prazo, que trariam resultados satisfatórios pós-greve, uma vez que como tudo na vida, o presente momento vai passar, tenho convicção disso. Saliento que se cada colega se preocupar em reavaliar seu pensamento no que concerne às suas ações dentro da instituição, já terá valido o movimento. Ou você elege de fato a polícia civil como a extensão de seu lar, e daí poderá realizar cobranças a superiores hierárquicos ou colegas, ou, criteriosamente,  vê a instituição tão somente como o local de onde angaria fundos para manter-se sobrevivendo, o que certamente não lhe fará um competidor vitorioso na batalha da vida. Ser policial é uma escolha, não é exigência do destino. Você opta, não é forçado. Contudo, a partir do momento em que você passa a ser um profissional tão relevante, não lhe cabe exigir do próximo quando você mesmo não honra sua categoria. Lembrem que o plantio é opcional, mas a colheita é obrigatória. Acredito no movimento, tenho convicção de que iremos galgar espaço e respeito, mas é fundamental a unidade em um momento tão importante e histórico.

 

Autora: KEITHE AMORIM DE SOUZA - Escrivã de Polícia.