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Polícia e mídia sensacionalista - 28/05/2013

Tempo virá, quem sabe, quando a consciência dos profissionais, seja da imprensa seja da polícia, perceberá que o modo como tem sido focada a questão da violência na mídia é deletéria para o conjunto da sociedade. A exposição de imagens deploráveis de homens, mulheres, crianças, sob a crítica maniqueísta de “comentaristas” desprovidos da formação técnica adequada, tem representado apenas o sensacionalismo prosaico, vexatório e afrontoso do mercantilismo a qualquer custo.

O Coliseu da Roma Antiga nunca se fez e se faz tão real e presente, frenético na divulgação à saciedade da espetacularização da selvageria, acendendo nas pessoas atavismos já dantes adormecidos, no lado mais obscuro e primevo das mentes, e que dão vazão a uma controversa e cruel relação de prazer e violência. Ultraja mais esse quadro quando os dados dessa insultuosa patologia social são patrocinados por agentes do próprio Estado ou de instituições que a eles deveriam se opor, na contramão do seu primado maior: a dignidade humana.

Nesse diapasão, a pauta dos mais variados programas de televisão, principalmente, nos quais a imagem é fundamental, digladia audiência na divulgação de crimes e criminosos, sempre sob o falacioso argumento de que a mídia limita-se a noticiar os fatos, ocultando-se, todavia, os verdadeiros interesses, aí sim, impublicáveis. A violência vende e vende bem! É inequívoca a influência negativa à psique social, exercida pela repetição extenuante de episódios criminosos, banalizando a morte, o escárnio das consciências e da psicoadaptação ao mal, permeados de detalhes mais e mais mórbidos na exclusividade do furo jornalístico, sob o aplauso da plateia ignara.

Há programas que tentam se manter por horas a fio em busca de fatos novos que superem a curiosidade da notícia anterior, para tornar a cobertura do jornalismo falacioso, em um ambiente propício a paixões e ódios que são retroalimentados de forma opressora e sem clemência. Parte dessa imprensa não se restringe a cumprir o seu sagrado dever de informar, mas o extrapola, ao transformar a tragédia cotidiana em um fenômeno de entretenimento hipnótico.

A polícia, instituição indispensável à Justiça Penal, aproxima-se da imprensa, protagoniza e potencializa os rituais diários de banalização da violência, e tangencia a rotina policial em prol do espetáculo. É mister de todo agente público informar a população sobre a sua atuação, até porque a mídia exerce o mais eficiente controle social das ações de Estado. Mas, a publicidade do desempenho do trabalho policial deve se circunscrever aos aspectos da atividade-fim da instituição e nos estritos limites autorizados pela lei, e nunca como replicadora de enfoques dramatizados da barbárie humana e da estandartização da violência.

Fonte: Jornal O Popular

Autor: EDEMUNDO DIAS DE OLIVEIRA FILHO é presidente da Agência Goiana do Sistema de Execução Penal e pastor evangélico