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Assassinatos de Valério Luiz e Davi Sebba - 11/06/2013

A Polícia Civil concluiu, no dia 4, o inquérito que investiga a morte do advogado Davi Sebba Ramalho, executado por policiais militares no estacionamento de um supermercado, em julho de 2012. Na versão dos policiais, a vítima teria reagido a uma abordagem apontado-lhes uma arma de fogo, justificando, segundo eles, a “reação” fatal. O inquérito policial e declarações de testemunhas desmentem essa versão que, desde o início, não apresentava qualquer coerência. O advogado foi, portanto, executado. 
 
A conclusão desse inquérito, todavia, não se resume a aspectos técnico-formais de investigação policial, no qual se demonstra a materialidade do crime, as circunstâncias e a indicação dos seus autores. Mais que isso. 

A partir dos assassinatos do jornalista Valério Luiz e do advogado Davi Sebba, ambos ocorridos no mesmo dia — e executados por policiais militares —, é possível afirmar que a política de segurança pública em Goiás adotará novos paradigmas no que concerne à ação da polícia. Para a efetividade dessa mudança será essencial o papel de cada segmento social na construção de uma cultura de não violência. A sociedade não tolerará mais ver a sua polícia enveredar pelas trilhas da criminalidade, impunemente. O cidadão deve se insurgir contra essa imposição da cultura do medo e da truculência como métodos de acobertamentos de crimes perpetrados pelas polícias. 

Paradoxalmente, a Polícia Militar tem contribuído, sobremaneira, para com o elevadíssimo índice de criminalidade violenta. O Ministério Público precisa exercer com maior eficácia o seu papel fiscalizador e parar de fingir que não existe a “pena” de morte diariamente aplicada por policiais. A imprensa, por sua vez, precisa proceder a uma urgente revisão de seus conceitos e aprender a fazer jornalismo crítico, analítico, inteligente. Não existe mais espaço para “jornalismo” de mera reprodução de versão policial. Matérias fáceis, prontas, produzidas em corredores de delegacias de polícia, podem servir apenas como espetáculo e fomento à violência – jamais, como informação ou formação de senso crítico ou cívico. 

Goiás, ainda que uns não aceitem e outros não percebem, deixou de ser um subúrbio provinciano formado por pessoas que idolatram, cegamente, a figura de um coronel ou um caudilho, como nos contos do escritor Bernardo Élis. Decorre, daí, a importância de informação e conscientização para a formação de uma sociedade mais politizada, ciente de seus direitos e deveres. A imprensa deve ser protagonista na construção de uma cultura de paz, na recuperação da credibilidade das instituições públicas – notadamente as polícias -, com respeito à dignidade e aos direitos da pessoa humana.

Autor: Manoel L. Bezerra Rocha
Fonte: Jornal Opção (Orbita Jurídica)