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A polícia está morrendo - 19/03/2016

De acordo com estudo do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, a taxa de PMs mortos fora do serviço no Brasil, desde 2012, foi de 58,7 homicídios a cada grupo de 100 mil habitantes, contra o índice de 17,8 registrado a PMs em diligências. Já os policiais civis mortos nesta mesma situação ficou em 42,9, mais que o triplo do índice de 13,7 verificado com aqueles que estavam em trabalho. Segundo o Fórum Nacional de Segurança Pública de 2013, em cinco anos (2009-2013), 1.770 policiais foram mortos.

A União Goiana dos Policiais Civis (Ugopoci) mostrou uma mensagem que se espalhou em vários celulares por meio do WhatsApp listando o nome de policiais civis, militares e federais mortos, feridos ou vítimas de roubos em Goiânia e no interior do Estado e que provocou um “estado de alerta” nos profissionais de segurança pública em Goiás em uma espécie de campanha sobre a necessidade de manter as pistolas com a manutenção em dia.

Na lista repassada em grupos de policiais no WhatsApp constam nomes de 25 policiais e a informação de que todas ocorreram recentemente, ou seja, todas as ocorrências teriam acontecido em fevereiro, numa espécie de “caçada” aos policiais goianos. Citando somente um caso, recentemente um policial civil morreu após ser baleado por assaltantes em uma lanchonete localizada no Setor Oeste, em Goiânia. O agente de Polícia Civil Oscar Charife Abrão Garcia, 32 anos, estava na lanchonete quando três homens chegaram ao local e anunciaram o assalto.

Servidores da área de segurança pública protestaram na Praça Cívica, em Goiânia, em 18 de fevereiro. “Queremos mostrar que o policial é um cidadão e também sofre com a violência. Estamos com a população, protegemos vocês, mas não estamos dando conta”, destacou o presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Goiás (Sinpol). Policiais desabafam: “Nós da polícia estamos enxugando gelo. Nos sentimos frustrados como profissionais.” E o mais surpreendente é que existe um projeto de lei na Assembleia Legislativa goiana em que seu teor objetiva proibir uso de armas letais, de fogo de qualquer calibre, pelos policiais militares, durante as diversas frentes de serviços realizadas pela Polícia Militar. Enfim, um desarmamento geral da PM-GO. Aí é de morrer, literalmente!

Tudo isso mostrado acima serve para demonstrar que, depois que a população está sendo aniquilada pelos homicídios, com a situação chegando agora à polícia, a preocupação torna-se gigantesca e a sensação de segurança vai por água abaixo. Parece que a sociedade está num beco sem saída. Se quem, em tese, protege a segurança do cidadão está morrendo, indaga-se: o que fazer? Como ficamos? O que pode acontecer? Tem solução? São perguntas que nos atordoam incessante e desesperadamente.

Assim, mediante essa situação calamitosa resta ao poder público repensar em tomar atitudes preventivas e repressivas. O que não pode continuar acontecendo é a morte de quem deve nos proteger da própria morte. Afinal, um abismo chama outro abismo.

Jesseir Coelho de Alcântara é juiz de direito e professor.

Fonte: Jornal O Popular