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A verdade sobre a previdência I - 28/07/2007

Em seu artigo mensal no jornal “O Valor”, o economista Fábio Giambiagi anuncia que escreverá uma nova série sobre a Previdência Social. Qualquer conta dele – invariavelmente contra aposentados e contribuintes – recebem cobertura ampla da imprensa.

 

Giambiagi também manifesta desconforto com alguns blogs que têm criticado acerbamente seus estudos. Como tenho um Blog que tem criticado seus estudos, vamos a algumas considerações sobre eles.

Preliminarmente, considere-se que se trata de um dos grandes especialistas brasileiros em orçamento público. Significa que ele sabe fazer as contas que lhe pedem, ou aquelas que ele se propõe a fazer.

O grande problema não está nas contas, mas na maneira como ele as seleciona e as transforma em ferramentas políticas. Esse tem sido o grande fator de descrédito desses estudos. Estudam e divulgam apenas aqueles que interessam às suas teses. A isso se chama manipulação estatística. E Giambiagi tem sido um dos campeões dessa prática.

Vamos a alguns exemplos. Ele sempre tratou os números da Previdência de forma agregada, sem separá-los por categoria de despesa. Parte do déficit decorre de políticas sociais, parte de isenções dadas a diversos setores da economia, como clubes de futebol instituições privadas de ensino, hospitais e santas casas. Os beneficiados não contribuem, mas seus funcionários têm direito à mesma aposentadoria dos contribuintes.

Em toda sua carreira de economista do setor público, Gimbiagi sempre defendeu a clareza do orçamento público, para saber quem ganha e quem paga. É norma básica de transparência. Em relação à Previdência, ele sempre tratou de esconder esses dados. Por que?

Ao não separar os dados, a conta de todas essas benesses recai sobre o conjunto de aposentados, e não sobre o orçamento público como um todo. Todos terão suas aposentadorias reduzidas no futuro, ou a idade inicial será modificada, para pagar uma conta que não é deles, mas do país.

Não fica nisso. Segundo dados do IBGE, 65% dos aposentados são arrimos de família. Se Giambiagi quisesse mesmo discutir de forma séria a aposentadoria, o que ele deveria fazer?

1.     Medir o impacto da aposentadoria sobre a redução da evasão escolar.

2.     Medir o impacto sobre a redução da criminalidade.

3.     Medir o impacto sobre a melhoria do salário de entrada do jovem no mercado.

4.     Medir o impacto sobre a saúde da população como um todo.

Como todas essas implicações – em saúde, educação, segurança – porque esses dados não são levantados e apresentados à opinião pública? Recentemente, um desses economistas de mercado resolveu usar a marca do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) para um estudo no qual pretenderia comprovar que aumento de aposentadoria (no caso de casas em que o aposentado era arrimo) estimulava a vagabundagem dos filhos ou netos.

Não conseguiu. Os dados comprovaram o oposto: que aumentava a freqüência escolar.

Desafio Giambiagi a incluir esses estudos em seu trabalho, para que possa novamente voltar a ser um admirador do seu rigor técnico. E podermos juntar forças para resolver os desequilíbrios futuros da Previdência – que são reais e precisam ser enfrentados com honestidade e clareza. Fonte: Sítio luisnassif.com.br