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Os valores morais da elite e do povo - 25/08/2007

O livro traz os resultados da Pesquisa Social Brasileira, um levantamento no qual se investigaram os principais valores presentes no cotidiano social, econômico e político nacional. Enfim, o que se pode denominar de "o pensamento do brasileiro". A parcela mais educada da população é menos preconceituosa, menos estatizante e tem valores sociais mais sólidos. (...) A Pesquisa Social Brasileira foi realizada pelo instituto DataUff (Universidade Federal Fluminense) e financiada pela Fundação Ford.

Foram ouvidas 2.363 pessoas, em 102 municípios. Coordenador do trabalho, Almeida optou pela mesma metodologia utilizada pela General Social Survey, a maior pesquisa social dos Estados Unidos, realizada a cada dois anos, desde 1972, pela Universidade de Chicago. O levantamento expressa a opinião dos brasileiros sobre diversos temas. Não pretende, é importante ressaltar, revelar como agem. A pesquisa é sobretudo a respeito da ética nacional ou das várias éticas que convivem no interior do país.

Eu vou comprar o livro e ler. Mas, com todo o respeito pelo trabalho do professor, eu fiquei com algumas dúvidas a partir da leitura da Veja e da reportagem que o Jornal Nacional, da TV Globo, exibiu sobre o mesmo assunto. Segundo o professor Almeida, os mais instruídos têm valores morais mais arraigados do que os menos instruídos. Talvez essa conclusão seja algo precipitada. Há uma diferença entre o que as pessoas acham e o que elas dizem que acham. As pesquisas sobre o uso da internet são um bom exemplo. Qualquer pesquisa com usuários de rede dá que as atividades mais freqüentes são trocar emails, ler notícias, fazer buscas e participar de comunidades.

Mas quanto você analisa o tráfego na web a navegação em sites de sexo aparece sempre bem colocada. Só que as pessoas não gostam de admitir que navegam em sites de sexo. É arriscado ponderar a respeito do que vai pela alma humana a partir do que cada ser humano afirma a respeito de si próprio. Por isso, foi importante que a reportagem da Veja tenha ponderado que a pesquisa "não pretende revelar como agem" os brasileiros. Até porque, convenhamos, e já que se trata de discutir valores morais, o dinheiro usado para corromper agentes públicos sai é do bolso da elite econômica -ainda que a origem do dinheiro sejam os cofres públicos. Ou seja, quem pratica o grosso da corrupção ativa no Brasil, monetariamente falando, é a elite econômica.

E é razoável fazer alguma correlação entre elite econômica e elite intelectual. Pode haver exceções, mas quem tem mais estudo no Brasil tem também mais dinheiro, como mostra qualquer estatística. Temos então um paradoxo. Segundo o professor Almeida, a elite brasileira, apesar de ser a responsável pelo grosso da corrupção, afirma que a corrupção é condenável. Enquanto o povo, apesar de participar da corrupção apenas marginalmente, admite com mais tranquilidade a existência da corrupção. Como explicar isso? Vou ler o livro antes de dar uma opinião definitiva. Mas não custa especular. Talvez a resposta esteja nas lições do velho (Karl) Marx.

Desde o século 19 sabe-se que a ideologia dominante numa sociedade é a ideologia da classe dominante. Em miúdos, os pobres tendem a pensar mais ou menos do mesmo jeito que os ricos, quando se trata de valores. Você discorda? Veja que não estou falando de política (em quem o sujeito vota), mas de ideologia (o que o sujeito pensa). Minha hipótese é que os menos instruídos e os mais instruídos pensam do mesmo jeito, só que os mais instruídos pesquisados tiveram mais vergonha quando se tratou admitir o que pensam. De todo jeito, e mesmo se eu estiver certo na minha hipótese, apenas o fato de sentir essa vergonha já distinguiria os mais instruídos dos menos instruídos. As minhas dúvidas levam-me a adotar conclusões mais cautelosas e menos otimistas do que as da Veja. Ainda que fossemos todos mais instruídos, não sei se haveria menos corrupção e menos inqüidade no Brasil. Certamente estaríamos todos os brasileiros, das diversas classes sociais, mais preparados para responder a pesquisas de um modo politicamente correto. Talvez só isso. Fonte: Blogdoalon.com.br

Faz-me rir

Medito sobre a pesquisa realizada por Alberto Carlos Almeida para demonstrar que a elite nativa é “o farol” da nossa modernidade. Em compensação, o povo brasileiro não tem, ao contrário do que sustentam os esquerdistas do País, “valores imaculados”, “sabedoria e senso de justiça natural”.

Cito a revista Veja, que, na capa da edição desta semana, já avisa: “Um livro mostra que a elite é o lado bom do Brasil”. Entendi, o povo é o culpado pela situação em que o país se encontra, vítima de desequilíbrios sociais vertiginosos, e insuportáveis para um país que pretende ser democrático. E capitalista. O povo é responsável pela Idade Média em que vivemos. Ah, se não tivéssemos de padecer a companhia deste povo, que formidável país teríamos. Feliz, respeitado, poderoso.

Teríamos acesso à beatitude da democracia sem povo. Nada disso, somos obrigados a carregar este fardo imponente. De quem a culpa pela colonização predadora? Do esboço de povo que não a impediu. De quem a culpa pela escravidão? Do povo, que se deixou escravizar. De quem a culpa pelos desmandos do poder? Do povo, que não sabe votar. Não gosto de fazer propaganda do concorrente, mas a Veja desta semana é pura diversão. Fonte: blogdomino