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Jornal Opção – Reportagens - De 21 a 27/01/2007 - 21/01/2007



AFONSO LOPES

Do radicalismo quase religioso à permissividade política absoluta. Eis o retrato do PT, Partido dos Trabalhadores, do seu surgimento aos dias atuais. Uma mudança e tanto. Em 1979, quando um pequeno grupo de sindicalistas, liderado por Luiz Inácio Lula da Silva e intelectuais esquerdistas, se juntavam enquanto núcleo fundador do PT, o partido nascia sob dogmas radicalíssimos. Como exemplo, a proposta de instituir no Brasil uma república sindicalista e/ou trabalhista. Não era uma proposta comunista, na essência da concepção, mas não se distanciava muito desse ponto. O tempo passou, o partido venceu inúmeras eleições municipais, começou a avançar nos Estados e chegou, finalmente, à Presidência da República. Ao mesmo tempo em que cresceu, o PT abandonou a radicalização de suas propostas. O auge dessa mudança estrutural ocorreu em meados de 2002, quando, na campanha presidencial, Lula fechou acordos com gente que ele, em 1979, jurava combater até o fim: os capitalistas.

Se essa é, grosso modo, a situação política do PT em nível nacional, em Goiás os petistas estão adotando, pelo menos aparentemente, o mesmo comportamento. Com a velha bandeira de que “governo não faz oposição a governo”, os petistas sinalizam em direção ao PMDB do prefeito Iris Rezende Machado e ao Tempo Novo, liderado pelo governador Alcides Rodrigues, e buscam construir um bom relacionamento, dizem, apenas no campo das instituições.

A verdade, porém, é que não existe boa convivência administrativa sem que haja também uma relação amistosa politicamente. Ou seja, se for o caso, e quase sempre o é, petistas e seus novos aliados deverão caminhar juntos nas votações dentro das casas parlamentares, Congresso Nacional, Assembléia Legislativa e Câmara dos Vereadores. Aliás, isso já está acontecendo, por exemplo, na Câmara goianiense. Na eleição da nova mesa diretora, a bancada do PT, com uma única exceção, votou com a bancada do prefeito Iris Rezende. Na Assembléia, o deputado Luis Cesar Bueno defende posição governista em favor de Alcides Rodrigues. Já o deputado eleito Humberto Aidar, que como vereador votou com a base aliada estadual na eleição do vereador Deivison Costa, nem esconde mais que seu bico não chega a ser tão grande quanto de um tucano marconista, mas que não se sente totalmente desconfortável quando opta pelo voto dentro do ninho.

Sem unanimidade

Como nunca existiu, a unanimidade dentro do PT continua como se fosse o último dos dogmas originais do partido. As duas maiores lideranças estaduais do partido em Goiás, os deputados federais Pedro Wilson e Rubens Otoni, por exemplo, brigam em trincheiras quase antagônicas. Rubens diz que não pretende fazer qualquer acordo mais abrangente com o PMDB de Iris Rezende visando as eleições municipais de 2008. Não é a mesma posição de Pedro Wilson, que entende que se as coisas caminharem nessa direção não será o fim do mundo.

O lado mais curioso dessa situação é que, em meados da década de 90, o grande nome do PT em Goiânia, o então prefeito Darci Accorsi, acabou sofrendo na carne uma aproximação com o então governador peemedebista Iris Rezende. O mesmo Iris que agora pode receber apoio do PT. Naquela época, ainda com viés de comportamento mais radical, o PT, liderado por Pedro Wilson, forçou tanto a barra que acabou fazendo com que Darci juntasse suas malas e se mandasse do partido. Darci não foi formalmente expulso, mas ficou perto disso quando perdeu o controle do diretório metropolitano.

É bobagem pensar, no entanto, que todos os petistas se tornaram sociais-democratas, como afirmam majoritariamente dentro do partido. Continuam existindo, e convivendo normalmente, setores ainda à esquerda. Duas lideranças dessa ala costumam se destacar nas discussões internas: o deputado estadual Mauro Rubem, ex-PCdoB, e o histórico militante Pinheiro Salles, sobrevivente do movimento armado que lutou para barrar o avanço da ditadura militar de 1964. São vozes minoritárias, mas com forte ressonância. Mauro, por exemplo, reluta em fechar apoio ao governo do pepista Alcides Rodrigues.

Guerra pelo comando

Ao longo dos tempos de dificuldades, em que o PT não conseguia quebrar o casulo da existência por existir apenas em grandes cidades, como Goiânia, o então deputado estadual anapolino Rubens Otoni topou a tarefa de espalhar a bandeira vermelha pelo interior de Goiás. Nenhum outro setor do partido, inclusive o majoritário — hoje Campo Majoritário, ex-Articulação — não deu bola para esse trabalho de Otoni. O resultado é que, atualmente, é ele quem tem o comando partidário nas mãos. Nesse aspecto, Pedro Wilson, referendado dentro do Estado e até nacionalmente como o petista com maior estofo político e intelectual, é um quase desconhecido para boa parte dos neo-petistas arregimentados por Otoni nos últimos anos.

Otoni tem dito que não aceita estabelecer acordos entre o PT e o PMDB, ou mesmo o PP, que ultrapassem o limite da administração. Nessas contas, de matemática política simplificada, os peemedebistas votam de acordo com orientação do Palácio das Esmeraldas, e os petistas goianienses apóiam Iris na Câmara dos Vereadores. Tudo muito simples. Toma lá o apoio e receba cá idêntico tratamento. Resta saber como isso se dará quando algumas votações tiveram um cunho muito mais político do que meramente administrativo. Na última vez em que isso ocorreu, na escolha do presidente da Câmara, os petistas preferiram o pragmatismo e seguiram Iris. O próximo teste terá como palco principal a Assembléia Legislativa. A bancada petista não tem tanto poder de fogo, três votos, mas será o suficiente para desequilibrar o jogo se ele se tornar acirrado. E, aí, o PT terá que tomar uma decisão política: votar de acordo com Alcides, ou somar forças para derrotar o aliado pepista.

Jornal Opção – Coluna – Bastidores

Disputa pelo TCM

A vaga no Tribunal de Contas do Município que será preenchida no final do ano ganha mais um concorrente. Além do presidente do PSDB, Antônio Faleiros, e o prefeito de Formosa, Tião Caroço, o secretário Servito Menezes também inicia sua articulação. Entre os três candidatos, o último é o único que conta com livre trânsito tanto no Paço como no Palácio das Esmeraldas.

Pode acreditar

Em conversa com um político de Goiás, certo empresário paulista comentou: “Que maravilha esse negócio de Bolsa-Família! Hoje os funcionários não querem ter suas carteiras de trabalho assinadas para não perderem o direito de receber a Bolsa”.