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“O Entorno também é problema do país” - 01/10/2007

Jornal Opção - Entrevista - De 30 de setembro a 05 de outubro de 2007

A segurança pública é, sem dúvida, um dos mais graves problemas dos grandes centros urbanos no mundo. De Durban, na África do Sul, a Londres, na Inglaterra, passando pelo Rio de Janeiro, no Brasil, ou Los Angeles, nos Estados Unidos, a segurança preocupa a sociedade, sobretudo com a eclosão das gangues de rua e do crime organizado. Mas, no Brasil, o problema da segurança pública praticamente ultrapassou os limites suportáveis. A cada dia, crimes bárbaros são cometidos e, o que é mais grave, muitos deles poderiam ser evitados, se o Estado brasileiro cumprisse seu papel constitucional de oferecer segurança ao cidadão. O Entorno de Brasília é uma das áreas conflagradas no país, sobretudo depois que um repórter do jornal Correio Braziliense foi baleado em Cidade Ocidental. Para o jornal, foi um atentado praticado pelo crime organizado no Entorno; para a polícia goiana pode ter sido um assalto. Durante toda a semana passada, o secretário de Segurança Pública, Ernesto Roller, esteve no olho do furação, com a imprensa acusando o governo goiano de omissão no caso por ter recusado, num primeiro momento, a ajuda da Força Nacional de Segurança. Em visita ao Jornal Opção, no início da tarde de sexta-feira, 28, Roller explica o que está acontecendo realmente no Entorno e defende um fundo constitucional para a região, nos moldes do fundo que tem Brasília. Também fala das estratégias da base aliada para as eleições do próximo ano.

Euler de França Belém — Quais as razões reais da crise de segurança pública no Entorno de Brasília?

O Entorno já foi objeto de muita retórica por parte de muitos políticos, mas nunca houve a busca de uma solução definitiva para os problemas que ele enfrenta. Já tivemos planos nacionais de segurança no Entorno, com a aquisição de viaturas. Agora, o governo federal está disponibilizando a Força Nacional de Segurança, medida de caráter temporário, portanto, é uma solução paliativa, emergencial. Como ajuda, ela é bem-vinda. Estamos pedindo ajuda ao governo federal há algum tempo, mas a única ajuda que ele pôde oferecer, momentaneamente, foi a Força Nacional de Segurança. Inicialmente, o governo federal queria destinar 100 homens para o Entorno. Pedimos 500 homens. O Entorno precisa ter o mesmo tratamento que tem o Distrito Federal. O Distrito Federal tem um fundo constitucional que lhe garante um repasse de 6 bilhões de reais por ano, por parte do governo federal, para que faça frente às despesas de saúde, segurança e educação. Já o Entorno não tem este tratamento. No entanto, o Entorno existe como um problema exatamente em decorrência do atrativo que Brasília representa para o país. Para muitas pessoas, ela é um eldorado de oportunidades. Tivemos programas de distribuição de lotes por parte do governo do Distrito Federal que atraíram milhares de pessoas de diversas partes do país. Como elas não foram alojadas no Distrito Federal, desaguaram no Entorno. Águas Lindas é um exemplo: saltou, em 20 anos, de 3 mil habitantes para mais de 250 mil. E não há o incremento de uma atividade econômica na região que possa gerar emprego, distribuir renda, diminuir a desigualdade social. Com isso, o fator social acaba sendo um dos ingredientes da criminalidade. Quero deixar bem claro que não estou jogando o Estado de Goiás contra o Distrito Federal. Achamos justo que o Distrito Federal receba ajuda da União. O que queremos é que Goiás também receba ajuda para as regiões limítrofes.


Euler de França Belém — Por que os políticos do Entorno nunca se manifestaram contra a política indiscriminada de distribuição de lotes de Joaquim Roriz, que levou ao crescimento da violência no Entorno?

Sempre me coloquei contra esse inchaço populacional, não só de Brasília como de qualquer cidade. Essa política de distribuição indiscriminada de lotes é ruim e acabou tendo reflexos negativos em Goiás, sem dúvida.

Euler de França Belém — Por que Roriz fez essa política?

Não tenho como avaliar isso. Essa foi uma visão administrativa adotada por ele e que alguns críticos classificam como populista, outros como eleitoreira. Essa formação de lotes teria contribuído para a formação de núcleos eleitorais fortes voltados para a manutenção política deste ou daquele grupo.

Patrícia Moraes — A criação do Estado do Planalto seria uma solução?

Em hipótese alguma. Também há quem defenda a anexação de alguns municípios goianos pelo Distrito Federal. Quem fala em criação de Estado ou anexação de municípios perde a grande oportunidade de manter-se calado ou então de somar sua força conosco para o enfrentamento real do problema.

Euler de França Belém — Qual é o apoio que o governo do Distrito Federal dá ao Entorno?

O governo do Distrito Federal sempre se coloca no Entorno como um doador de presentes. Os governos Joaquim Roriz e Marconi Perillo celebraram uma parceria, no valor de aproximadamente 30 milhões de reais, para a pavimentação asfáltica nos municípios do Entorno. É o que está sendo feito novamente pelo governo do Distrito Federal, o que é importante como ajuda. Porém, Goiás não pode continuar recebendo dádivas, indefinidamente, com recursos de 27 Estados, porque os recursos do fundo constitucional são extraídos dos Estados. Não podemos ficar na dependência deste ou daquele governante querer celebrar um convênio. Agora, o governo do Distrito Federal assumiu a despesa de logística com a Força Nacional de Segurança. Antes, se afirmou que o Estado de Goiás havia recusado a ajuda dessa força. Na verdade, Goiás queria apenas saber quanto custa a logística da Força Nacional, o que não se sabe ainda. Porque se for para o Estado de Goiás custear a Força Nacional, é melhor que ele custeie a sua própria polícia. A Força Nacional vem com 500 homens, enquanto as nossas polícias civil e militar já têm 2 mil homens na região, que têm um custo mensal para o Estado. Estão tratando o Estado de Goiás como se ele fosse omisso, mas o Estado não é omisso! Eu, durante toda esta semana, estive entregando viaturas para o Entorno. Foram 172 viaturas, locadas de acordo com o mesmo modelo adotado em Goiânia e que deu certo. Também estamos adquirindo armamentos e abrindo concurso para a Polícia Civil. São 112 vagas para delegado, 300 vagas para agentes e 200 vagas para escrivães de policia. Mas todo esse grande esforço do governo de Goiás ainda é insuficiente. O Entorno, devido a suas características próprias, precisa de um esforço conjunto, institucional, dos governos da União, do Distrito Federal e do Goiás.


José Maria e Silva — A Força Nacional de Segurança não é mais um caso de pirotécnica? No Rio de Janeiro, ela não resolveu nada. Os bandidos continuam mandando nos morros e atirando até em trens que transportavam ministros.

Ter 500 homens a mais na segurança é uma boa ajuda, desde que não tenhamos que tirar dinheiro do Estado para investir nela. Ela tem um caráter absolutamente temporário, definido pela própria lei que a instituiu. Ou seja, não é uma solução permanente, definitiva, como alguns setores da imprensa, especialmente do Distrito Federal, estão fazendo de conta que é.

Euler de França Belém — O problema da violência no Entorno tem origem no narcotráfico, no crime organizado?

No Entorno, temos o tráfico de drogas, que representa cerca de dois terços da atividade criminosa em qualquer lugar. Mas temos combatido o tráfico de entorpecentes com muita determinação. Na manhã de hoje [sexta-feira, 28], por exemplo, tivemos a apreensão de maconha, cocaína e merla no Entorno. Além do tráfico, temos os furtos, assaltos, roubos. Mas não é só Goiás que vive esse problema. E não estou tentando justificar no problema dos outros o nosso problema, não é isto. Mas também não posso concordar com essa tentativa de criminalizar o Entorno. Temos mais de 1 milhão de pessoas morando no Entorno do Distrito Federal. Não podemos permitir que alguns setores da imprensa tratem o Entorno como se ele fosse um ambiente somente de bandidos. Em vez de ajudar, isso atrapalha, porque a região do Entorno precisa de investimentos, mas, com tanta notícia ruim, torna-se mais difícil atrair empreendedores para a região.

Euler de França Belém — Isso se deve a certo irracionalismo da mídia?

Atribuo a um sensacionalismo da mídia, que quer tirar de certos fatos a construção de boas matérias. A utilização da Força Nacional, por exemplo, dá uma boa matéria. Mas, em todos os lugares, tenho defendido que precisamos reunir todas as forças, inclusive a imprensa, para sensibilizar o Congresso Nacional a aprovar um fundo constitucional para o Entorno. O nosso deputado João Campos, do PSDB, presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados, já está colhendo assinaturas para conseguir a aprovação de uma emenda constitucional nesse sentido.

José Maria e Silva — Ao enfatizar a violência do Entorno de Brasília, a imprensa não faz vistas grossas com relação à criminalidade interna do próprio Distrito Federal? Porque as cidades-satélites, como Ceilândia, tem uma criminalidade muito alta.

De fato. Sua observação é muito importante. Nas estatísticas do ano de 2005, da Secretaria Nacional de Segurança Pública, dá para perceber que existem dois Entornos — o Entorno que está no Estado de Goiás e o Entorno que está dentro do Distrito Federal, que são as cidades-satélites e invasões como a invasão da Estrutural. Nesses bolsões de miséria dentro da própria Brasília, as pessoas vivem em condições até piores, às vezes, do que no Entorno goiano. E as estatísticas mostram que, só num item, a taxa de homicídio por 100 mil habitantes, o Entorno que está em Goiás ganha dessas regiões do próprio Distrito Federal; nos demais índices, como furto, assalto, crimes contra o patrimônio em geral, a atividade criminosa dentro do Distrito Federal é muito mais intensa, ainda que não receba a mesma divulgação. É muito fácil para as estruturas de poder do Distrito Federal jogarem a culpa da criminalidade de Brasília no Entorno. Fazem do Entorno uma cortina de fumaça para o problema.

Patrícia Moraes — Mas os investimentos sociais feitos pelo governo do Distrito Federal no Entorno estão sendo maiores do que os investimentos feitos pelo governo de Goiás.

Não, porque Goiás tem o custeio de toda a estrutura de educação, saúde e segurança pública que no dia a dia, mês a mês. Isso precisa ficar bem claro. Senão fica parecendo que, quando o Distrito Federal faz um convênio com Goiás para ajudar o Entorno, Goiás está sendo omisso. Mas isso não corresponde aos fatos. O Estado de Goiás mantém uma grande estrutura nas cidades do Entorno, com sua polícia, seus professores, seus servidores da saúde, investimentos em infra-estrutura e convênios celebrados com os municípios da região. O Estado faz muito, faz tudo o que pode. Mas, como tenho insistido, ainda é insuficiente. O Entorno precisa de um tratamento diferenciado, porque ele cresceu de forma explosiva, desordenada, sem planejado. Hoje, tem demandas reprimidas que não tem como serem atendidas com paliativos. E a capacidade institucional do Estado de Goiás de investir naquela região é muito limitada diante do gigantismo das demandas que lá existem. Daí a nossa luta para que o governo federal se sensibilize com o problema do Entorno e ajude Goiás a resolvê-lo, com a aprovação de um fundo constitucional para aquela região.

Patrícia Moraes — Além da área de segurança pública, qual o projeto do governo de Goiás no Entorno?

O governo de Goiás tem celebrado convênios para pavimentação asfáltica com quase todos os municípios do Entorno. E tem investido na construção de presídios, na área de segurança.

Patrícia Moraes — Ou seja, projeto social ainda nenhum?

O Estado também leva para a região do Entorno de Brasília todos os seus programas de combate à exclusão social.

Patrícia Moraes — Há uma política de atração de empresas para a região do Entorno de Brasília?

Há. O Entorno conta com incentivos fiscais do governo goiano para a instalação de empresas na região, assim como o Nordeste goiano. Tenho notícias de que a Coca-Cola está instalando uma unidade em Luziânia, contando, naturalmente, com o incentivo do Estado. Nessa questão, o Estado tem feito a sua parte, mas o resultado final depende do empresário, porque ele é que vai decidir se instala ou não sua empresa lá.

Patrícia Moraes — O prefeito de Luziânia, Célio Silveira, disse que a região do Entorno só passou a ser vista pelo governo de Goiás a partir de Marconi Perillo. É verdade?

Sem dúvida. Também sou do Entorno, de Formosa, e nós dizíamos que, até o governo Marconi Perillo, o Entorno era uma região que Goiânia havia abandonado e Brasília não queria adotar. O governo de Marconi Perillo, o Tempo Novo, fez significativos investimentos no Entorno. E o governo Alcides continua fazendo grandes investimentos lá. Mas o momento não é de discutir de onde vem o problema e, sim, de juntarmos forças para buscarmos uma solução para ele. Ontem [quinta-feira, 27], o secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Carlos Biscaya, admitiu que o uso da Força Nacional no Entorno é uma medida de caráter temporário e que as políticas sociais devem vir em seguida, exatamente para que não haja um vácuo dos poderes públicos diante das demandas que existem na região.

Euler de França Belém — O fundo constitucional para o Entorno tem reais possibilidades de ser aprovado?

O Estado de Goiás não está inerte. O governador Alcides está muito atento à questão do Entorno e vamos lutar para aprovar o fundo. Infelizmente, não depende só de nós, temos que juntar as mais variadas forças.

Euler de França Belém — Por mais que a imprensa tenha tentado transformar o problema do Entorno em espetáculo, o papel dela não foi extremamente benéfico para abrir um debate sobre a questão?

Sem dúvida. Tanto que eu disse que alguns setores da imprensa é que estão dando uma interpretação errada para o problema. Mas o debate dessa questão pela imprensa é fundamental.

Euler de França Belém — Parece que a imprensa mudou um pouco o enfoque na cobertura do caso e já está sendo capaz de ouvir o que Goiás tem a dizer. No início, houve uma histeria, com a condenação sumária de Goiás.

De fato, a cobertura da imprensa sobre o assunto está melhorando. Estão abrindo para ouvir o outro lado. Conversando com alguns jornalistas, descobri que eles nem sabiam que há um fundo constitucional que custeia várias despesas do Distrito Federal. Em 2005, apenas para peças de reposição marítima para sua polícia, o Distrito Federal recebeu 6 milhões e 900 mil do fundo constitucional. Trata-se do policiamento do Lago Paranoá. Nós queremos que Brasília deixe de receber este dinheiro? Não. O que queremos é que o Entorno receba também.

Euler de França Belém — O jornalista do Correio Braziliense, Amaury Ribeiro Jr., foi atacado pelo narcotráfico ou foi assaltado?

A nossa polícia está trabalhando com todas as hipóteses. Determinamos uma rigorosa apuração, colocando todos os meios necessários à disposição dessa investigação, assim como de outros crimes bárbaros que aconteceram no Entorno. Muitos casos foram elucidados e os autores foram presos. No caso do jornalista, tudo indica que os autores foram assaltar o estabelecimento comercial em que estava o jornalista e ele acabou baleado. Segundo a confissão deles, não havia nenhuma intenção premeditada de atirar no jornalista. Eles declararam que não sabiam que Amaury Ribeiro Jr. era jornalista. Quatro pessoas foram presas. Todas com passagem pela policia.

Euler de França Belém — O deputado estadual Mauro Rubem, do PT, tem denunciado que existe uma banda podre na polícia goiana e diz que está se sentindo ameaçado. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

Durante toda essa semana, eu estive na região do Entorno, quando tomei conhecimento de alguns fatos ocorridos aqui em Goiânia. O deputado Mauro Rubem me convidou para uma audiência na Assembléia Legislativa, com as vítimas de homicídios atribuídos a policiais por um movimento intitulado Movimento de Vítimas de Violência Policial. Eu não pude comparecer, porque tinha compromisso marcado, mas não tenho a menor dificuldade de debater esse assunto. Eu o avisei antes que não poderia ir. Não há, da nossa parte, nenhuma determinação de violação dos direitos fundamentais da pessoa humana, especialmente o direito à vida e à integridade física. Não vou fazer da atividade de secretário de Segurança Pública um instrumento para proteção e tampouco para perseguição de quem quer que seja. A lei vale para todos, inclusive e especialmente para o policial que comete algum fato delituoso. Não posso admitir que acusações como essas sejam aceitas como uma condenação prévia à instituição policial. Vivemos no estado democrático de direito. É princípio constitucional o amplo direito de defesa. Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da decisão penal condenatória. O processo judicial brasileiro não trabalha sem provas. Agora, havendo prova de irregularidade por parte de qualquer servidor do Estado, inclusive policiais, ele será punido, porque não compactuamos com atos ilegais. Sou um humanista, um advogado por formação, defensor da vida. Jamais admitiria procedimentos ilegais.

Euler de França Belém — O senhor mandou apurar as denúncias de ameaças ao deputado Mauro Rubem?

Eu não as recebi. Tomei conhecimento de uma ida espontânea de alguns policiais à Assembléia, mas quero deixar absolutamente claro que não houve nenhuma determinação nossa para que isso ocorresse. Sou deputado também, apenas estou licenciado, e tenho respeito absoluto pelo Legislativo, pela Assembléia, que é a Casa da democracia. Portanto, diante de qualquer ameaça que o deputado traga ao nosso conhecimento, faremos uma apuração rigorosa.

José Maria e Silva — Os policiais foram à Assembléia Legislativa a convite do deputado Evandro Magal. Até aí, tudo bem. Mas não foi um erro eles entrarem armados na Assembléia? A Assembléia é a casa do cidadão e o policial, como cidadão, tem todo direito de nela entrar, mas tem de entrar desarmado, como os demais cidadãos.

Foi uma imprudência absoluta. Nós não tomamos conhecimento dessa ida deles, nem o comando geral da Policia Militar tomou conhecimento do fato. Diante das críticas do deputado Mauro Rubem à Rotam, o correto seria os policiais procurarem o comando, para que o comando tomasse as providências institucionais que porventura julgasse necessárias. Mas tenho certeza que esses policiais não foram à Assembléia para intimidar ninguém. Eles foram lá a convite do deputado Evandro Magal, segundo as informações que me foram passadas, confirmadas aqui por você.

Euler de França Belém — Como secretário de Segurança Pública, o senhor tem condições de dar garantia que não há um grupo de matadores na Policia Militar, que saem, inclusive, marcando as casas das futuras vítimas com um X?

Não posso dar essa garantia porque a segurança pública no Estado dispõe de um contingente de quase 25 mil pessoas, entre militares e civis, e eu não tenho o dom da onipresença. Mas uma garantia eu dou com absoluta segurança: quem, comprovadamente, cometer atos ilegais será rigorosamente punido. A Secretaria de Segurança Pública, a Polícia Militar, a Polícia Civil, a Polícia Técnico-Científica e o Corpo de Bombeiros existem para defender o cidadão. Eu não compacto com medidas ilegais, não compactuo com o extermínio, ele não faz parte do Estado de Direito. Agora, também quero deixar claro: não se pode confundir com extermínio o confronto da autoridade com o bandido que resulte na morte do bandido. Sempre que houver um confronto entre o policial, responsável pela proteção do cidadão, e um criminoso, eu e todo cidadão queremos que o policial, que representa a lei, leve vantagem. Entre a ação policial, legítima e legal, e a ação criminosa, ilegítima e ilegal, temos que ficar com a ação policial. Agora, o extermínio não é legítimo nem legal e não compactuo com ele. Todas as denúncias estão sendo investigadas e não posso ficar fazendo ilações. A prudência manda que se aguarde o resultado das investigações.

Euler de França Belém — O entorno de Goiânia, principalmente Aparecida, é extremamente violento. A secretaria tem uma política especial para essa área?

Estamos intensificando todas as ações policiais no entorno da capital. A segurança pública, garantindo a tranqüilidade do cidadão, é uma prioridade do governo.

Euler de França Belém — O ex-governador Germano Rigotto pretende apresentar na Câmara Federal, provavelmente através da bancada gaúcha, um projeto nacional de locação de viaturas para a polícia, inspirando-se no modelo adotado por Goiás.

Esta é uma noticia muito boa, demonstra o nosso acerto em utilizar esse modelo, que tem despertado a atenção de outros Estados. Ja recebi visitas de diversos secretários e comitivas de outros Estados que querem conhecer este modelo. O nosso objetivo é a eficiência do serviço público e a segurança pública é um serviço publico. O governador Alcides Rodrigues e o ex-secretário José Paulo Loureiro, que foi uma grata revelação na Segurança Pública, estão fazendo escola.

Patrícia Moraes — Qual é a ação da secretaria em relação àqueles casos de falsa mendicância, que são crimes?

Temos aí uma questão social muito forte. Criamos a RAS, a Rede de Apoio à Segurança, onde são cadastrados vigilantes, flanelinhas e demais pessoas que estão exercendo alguma atividade informal nas ruas. Estamos aproximando essas pessoas da polícia. Quanto à mendicância de um modo geral, esse trabalho envolve outros órgãos e não é um trabalho fácil separar o joio do trigo.

Patrícia Moraes — E o comércio informal, como a Feira da Marreta, perto da Pecuária, onde são vendidas muitas peças de carros roubados? Por que não há uma ação mais enérgica contra esse tipo de comércio?

Estamos travando um duro combate ao roubo de veículos. Temos feito várias operações policiais em ferro velho, exatamente para combater esse tipo de comércio.

Euler de França Belém — O senador Demóstenes Torres afirma que o governo Lula está muito preocupado em tratar a criminalidade como resultado da desigualdade social, esquecendo-se da repressão. O senhor percebe isso também?

O governo federal tem este enfoque social. Tive a oportunidade de dizer ao ministro da Justiça, Tarso Genro, que, ao lado das medidas de caráter social, é fundamental termos ações de cunho policial. Se fizermos um investimento maciço em educação hoje no Brasil, os frutos só serão colhidos daqui cinco, dez, quinze anos. Enquanto isso, vamos continuar tendo que tomar medidas de caráter imediato, emergencial, de combate à criminalidade. E o Pronasci, o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, não tem respostas imediatas para o problema da segurança. O próprio Tarso Genro admite isso. Então, temos que aliar as ações imediatas, de repressão ao crime, com as ações sociais, de longo prazo. Não se pode descuidar de nenhuma das duas.

José Maria e Silva — Nesta semana, em Manaus, houve uma rebelião num presídio. Na negociação com os presos, a Secretaria de Justiça do Amazonas aceitou aumentar o tempo das visitas íntimas para os presos de quatro para nove horas, podendo ser nas celas dos próprios presos, e ainda aboliu a revista íntima das visitas. O senhor não acha que, ao agir assim, o governo do Amazonas colocou os privilégios dos presos acima da segurança do cidadão?

A questão prisional é um dos mais graves problemas do Brasil. O governo federal prevê a criação de 33 mil vagas no sistema prisional em quatro anos. Mas eu tenho uma visão muito própria do sistema prisional. Uma das concepções da pena, que muita gente gosta de enfatizar, é a pena como instrumento de ressocialização, de reeducação do preso. Mas, para mim, o caráter fundamental da pena é o castigo. Quando uma criança faz uma coisa errada, a gente dá um castigo. Ela fica proibida de ver televisão, de brincar no parque, tem que ficar quietinha para ir aprendendo que aquilo é errado. Ora, se é assim com uma criança como poder ser diferente com um preso? A pena é, antes de mais nada, um castigo. O preso tem que entender que cometeu um crime e está pagando por ele, tendo uma série de direitos restringidos. Mas, no Brasil, há uma distorção. Alguns setores defendem direitos em excesso para o preso, verdadeiras regalias que nada têm a ver com direitos direitos humanos. O criminoso vai preso para ser castigado pela sociedade por aquilo que fez.

José Maria e Silva — O governo permitir que um preso tenha direito à visita íntima durante nove horas numa cela não é instituir a escravidão sexual das mulheres?

O mais grave, para mim, é o preso ter um custo altíssimo para o Estado brasileiro e não poder ser obrigado a trabalhar para se pagar. O Brasil precisa encontrar um modelo para seus presídios. A privatização dos presídios pode ser um modelo. Porque, hoje, o preso é somente despesa para a sociedade, desde o momento em que comete o crime.

Patrícia Moraes — Que balanço o senhor faz desses primeiros dez meses do governo Alcides?

Foi um período de ajustes, com algumas realizações importantes. Na minha pasta, incrementamos ações no Entorno de Brasília e adquirimos equipamentos para a nossa polícia, como 5 mil coletes. Esse ano vai ser um ano de ajuste para que possamos ter muitas realizações nos próximos três anos.

Euler de França Belém — Politicamente, a relação com os prefeitos é ruim, porque o governo não consegue atendê-los. Isso não pode prejudicar a sucessão municipal?

O governador Alcides tem tido muito contato com os prefeitos, tem ido muito aos municípios. Naturalmente, há queixas com relação ao repasse de recursos, mas essa é uma situação temporária, o Estado está se organizando para poder fazer frente a essas demandas.

Patrícia Moraes — Como o senhor acha que Alcides Rodrigues vai terminar o mandato dele? Como ele será caracterizado?

Ele será caracterizado pela austeridade. Essa é a marca fundamental de seu governo. O governador tem uma prática muito responsável e está organizando as finanças do Estado para gastar só aquilo que tem. Por isso, não tenho dúvida que esse governo será de muita realização.

Patrícia Moraes — Na área social ou em infra-estrutura?

Em ambas as frentes. O Estado, uma vez resgatando a sua capacidade de investimento, vai retomar os programas sociais e os investimentos em infra-estrutura. Aliás, obras já estão sendo feitas, o Estado não está parado. São várias pavimentações asfálticas em todo o Estado.

José Maria e Silva — Pelo menos no clientelismo da política brasileira, austeridade não combina com voto. O senhor não teme que a austeridade do governo Alcides possa comprometer a base governista nas eleições do próximo ano?

Temos o exemplo de Mário Covas, que fez um governo austero em São Paulo e se reelegeu. Infelizmente a doença não permitiu que concluísse seu segundo mandato. Mas ele foi o responsável pelo equilíbrio das contas do Estado de São Paulo. Em Minas Gerais, o governador Aécio Neves, no seu primeiro mandato, também promoveu um ajuste muito forte e foi reeleito. O problema é que as pessoas estão julgando o governo Alcides de modo precipitado, por conta de menos de dez meses de governo. O Estado vai retomar a sua capacidade de investimento.

Euler de França Belém — Qual a característica principal de Alcides, pessoal e política?

Eu vejo como característica pessoal principal dele o apego que ele tem à sua credibilidade, o valor que ele dá à honra, à palavra, à franqueza. E essas qualidades pessoais, ele as estende à política.

Euler de França Belém — O PP sairá maior das eleições municipais do próximo ano?

Trabalhamos para isto. Da minha parte, estou contribuindo fortemente para que isto aconteça e sei que todas as lideranças partidárias também agem da mesma forma. É preciso haver este crescimento partidário, isto é natural. Aconteceu com o PSDB, em 1998. O maior partido da oposição em Goiás era o PPB, que tinha o maior número de prefeitos da oposição. Naturalmente, quando elegeu o governador do Estado, o PSDB cresceu. Creio que isso vai acontecer agora com o PP.

José Maria e Silva — Nos últimos tempos, os partidos que ficaram com certa característica programática, ideológica, são PFL, hoje DEM, PSDB e PT. O PP sempre gravitou em torno destas correntes mais fortes da política brasileira. E vive contradições: fez oposição a Lula em Goiás, mas o apóia no plano nacional. Como o senhor avalia o PP?

O PP nacional precisa construir uma unidade nacional. E um partido só cresce nacionalmente quando tem candidato à presidente da República. O PP deve trabalhar a hipótese de ter um candidato a presidente, um candidato de peso, capaz de fortalecer o partido. Grandes partidos já involuíram exatamente porque passaram a não disputar a Presidência da República. O PP precisa criar uma diretriz nacional, com um projeto de país. Em Goiás, o PP é uma força importante, é um partido que tem o governador do Estado.

Euler de França Belém — Mas o PP não tem identidade.

Exatamente por falta dessa unicidade nacional, por falta desse projeto de país.

Patrícia Moraes — O senhor vislumbra uma recomposição política em Goiás, com o surgimento de novos grupos?

Eu não vejo isto se delineando, ainda que, em política, tudo seja passível de acontecer. Mas acredito que a chamada aliança do Tempo Novo vai continuar em Goiás, com PSDB, PP e os demais partidos.

Patrícia Moraes — Numa entrevista ao jornal O Popular, Iris Rezende disse que, em 2010, é o momento de surgirem novos nomes com a composição de PMDB, PT, PR, PDT. Com isso, volta-se a falar em Henrique Meirelles ou em outro nome. Fora Marconi Perillo, qual seria outro nome para disputar a sucessão de Alcides?

Existem diversos nomes colocados, como, por exemplo, o nome do senador Marconi Perillo. E já vi manifestações relativas ao senador Demóstenes Torres e também ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

Euler de França Belém — Mas pela base?

Pode ser. Henrique Meirelles foi da base e não houve, segundo o que me consta, nenhuma ruptura capaz de impedi-lo de retornar a ela.

Euler de França Belém — O seu nome também tem sido citado, como uma possibilidade de fortalecimento do PP.

Jamais pensei nisso. Não sou daqueles que trabalham a vida inteira construindo castelos no ar. Vivo a vida segundo as etapas que se me apresentam. Neste momento, quero ser um bom secretário de Segurança Pública e, em relação a 2010, estou me preparando para disputar um mandato na Câmara Federal.

Euler de França Belém — Dizem que só é forte na corte quem é forte na província. É verdade que o seu grupo está enfraquecendo em Formosa e pode perder a eleição para uma aliança comandada pelo PSDB no município?

Também estamos fortes na província, com a confiança da população de Formosa. Temos um candidato a prefeito, o dr. Pedro Ivo, um engenheiro muito preparado para o exercício da administração pública. Não há risco de perdermos a eleição.

Euler de França Belém — Por que as pessoas de sua base admitem, longe dos microfones, que Iris é imbatível em Goiânia?

Acho que o Iris não é imbatível. Não existe candidato imbatível. E ele tem pontos fracos. Prometeu solucionar o problema do transporte coletivo em seis meses, mas não o fez. O que é preciso é que se reúnam todos os partidos e pensem em uma candidatura que tenha condições de ganhar.

Euler de França Belém — Iris incorporou temas que antes ignorava, como a área cultural e o meio ambiente. Na área cultural, por exemplo, ele está melhor do que o governo do Estado, segundo o próprio pessoal da área. E tem feito parques na periferia. Essa mudança de Iris não terá um peso eleitoral considerável?

O que é surpreendente é que o prefeito não tenha tido antes essa consciência acerca da importância de se investir em cultura e meio ambiente, duas áreas fundamentais na vida de qualquer sociedade, de qualquer cidadão. Mas continuo dizendo que o prefeito não é imbatível, que é possível ganhar dele. Temos boas perspectivas para ganhar do prefeito. O que é preciso é caminharmos unidos, mostrando um projeto diferenciado para Goiânia.

Euler de França Belém — O candidato continuará sendo do PP ou do PSDB?

No momento político atual, é hora de cada partido reivindicar para si a cabeça de chapa. Depois, devemos afunilar no nome que apresentar melhores condições de vencer, que tenha qualidades administrativas. Mas isto não significa que o candidato tenha que ser do PSDB, do PP, deste ou daquele partido. O importante é que seja da base de sustentação do governo Alcides e que tenha compromisso com o projeto político e administrativo de todos nós.

José Maria e Silva — Desde 2000, a base do governo nunca se uniu em Goiânia. E se ela se dividir novamente?

Se dividir, a experiência nos mostra qual será o resultado.

Euler de França Belém — A base está unida? Tem certeza?

Em torno do governo Alcides, ela está unida. Temos o apoio de diversos partidos na Assembléia Legislativa. Vejo a base unida.