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PT apóia Iris de olho em sua cadeira - 22/01/2007

Jornal Tribuna do Planalto – Caderno Política – Dia 20/01/2007

 

 

Thiago Marques

O Partido dos Trabalhadores está aberto ao diálogo com outras legendas que queiram discutir a possibilidade de uma aliança com vistas às eleições municipais de 2008 na Capital e às estaduais de 2010. Principalmente com aquelas que fazem parte do bloco de coalizão que o presidente Lula tenta consolidar no início deste seu segundo mandato, como o PMDB, por exemplo. Mas que nenhum partido, nem o PMDB do prefeito de Goiânia, Iris Rezende, espere que o PT repita o gesto de 2006, quando rompeu com a tradição de não lançar candidato próprio ao governo do Estado. Em 2008, os petistas terão um nome na disputa pelo Paço Municipal.

As eleições do ano que vem terão um peso importante para o partido. O centro das atenções é mesmo a sucessão em Goiânia, uma vez que a vitória no maior colégio eleitoral do Estado pode conferir ao PT mais visibilidade no interior goiano e dar à militância uma injeção de ânimo para as eleições estaduais de 2010. Rumo a 2008, os petistas seguem embalados pela reeleição do presidente Lula, pela esperança de que o partido não enfrente desgastes com escândalos do porte de 'sanguessugas' e 'mensalão' – pelo menos nos próximos dois anos –, pelo crescimento no número de governadores e pela frustração da militância em Goiás, que viu os dois candidatos majoritários de outros partidos, e apoiados por eles, naufragarem nas eleições – Barbosa Neto (PSB) no primeiro turno; Maguito Vilela (PMDB) no segundo. "O PT de Goiânia nunca deixou de adotar candidatura própria. E não deveria ter deixado de adotar no ano passado (ao governo)", avalia a vereadora por Goiânia Marina Sant´Anna.

Fator Iris

Os petistas também estão atentos ao prefeito Iris Rezende, líder maior do PMDB goiano. Dias antes de se submeter a uma cirurgia para retirada de um tumor benigno na próstata, ele afirmou, em entrevista à Tribuna do Planalto (edição 1048), que encarar uma campanha à reeleição não está necessariamente nos seus planos: "Francamente, hoje não consta do meu projeto disputar a reeleição". Estratégia para evitar o debate sucessório antecipado e segurar o ataque adversário? Pode ser. Assim como também pode ser real a intenção dele em considerar este mandato sua despedida da vida pública.

Como nem uma e nem outra hipótese deve ser desprezada a menos de dois anos da próxima eleição, os petistas vão tateando o terreno onde o prefeito pisa. Em especial, os cinco integrantes da bancada na Câmara Municipal de Goiânia: Sérgio Dias, Carlos Soares, Cidinha Siqueira, Marina Sant´Anna e Djalma Araújo. O comportamento deles após o início dos trabalhos em 15 de fevereiro será o indicativo de o quanto eles estão, de fato, querendo dialogar com o PMDB.

A disposição de três deles – Cidinha, Carlos e Djalma – é não criar nenhum tipo de empecilho para a administração irista. Marina fala em "autonomia", mas não necessariamente do bloco petista no Legislativo goianiense, e sim entre PT e PMDB. "Ainda é cedo para delinearmos qualquer tipo de confronto ou de aproximação", diz a vereadora.  "Para mim, o que está certo é a aproximação", afirma Carlos Soares, que assume cadeira na vaga de Humberto Aidar e chega a dizer que, se "for o caso", o PT fica com a vice do PMDB em 2008. O presidente do PT metropolitano, Ivanor Florêncio, diz que, embora não vá existir um "alinhamento automático" com o Paço, o partido não deve fazer oposição a Iris.

Contradição?

Soa estranho constatar tanta afabilidade por parte de integrantes de um partido que não abre mão de ter um prefeitável em 2008? Em um primeiro momento, soa sim. Mas, como foi dito anteriormente, o PT entende que é hora de elaborar estratégias, de traçar o melhor caminho para voltar ao Paço. Perfil de oposição a bancada do PT pode adotar a partir de maio, por exemplo, data-base do funcionalismo público municipal. O tom a ser assumido pelos petistas nas discussões sobre os índices de reajustes sinalizará, ou não, a primeira mudança na atuação da bancada do PT.

Entende-se no partido que não é hora de um confronto direto com Iris Rezende. E por várias razões. A primeira delas: a possibilidade real dele não se lançar candidato à reeleição, o que deixa os petistas mais fortalecidos para reivindicar a cabeça-de-chapa em caso de união com o PMDB. "Claro que a desistência de Iris nos ajuda", diz Djalma Araújo. "O PMDB ficaria com a vice", completa.

A segunda razão: Iris foi o primeiro peemedebista a defender a reeleição do presidente Lula ainda no primeiro turno da campanha de 2006. Fez isso com mais firmeza do que Maguito Vilela, que só se agarrou ao petista após passar para o segundo turno com mais de oito pontos de desvantagem para Alcides Rodrigues (PP).

Terceira: após três derrotas consecutivas para o governo do Estado - sem contar a de Iris Rezende para o Senado, em 2002 -, o PMDB estaria muito mais receptivo às alianças, na avaliação de Djalma Araújo: "Agora não adianta chorar o leite derramado, mas se o PMDB tivesse aceitado um vice do PT, Maguito seria hoje o governador, e não o presidente do partido" desdenha.

Quarta razão: não se pode desprezar o bom e velho pragmatismo. 2007 é um ano em que Iris promete recuperar promessas de campanha, como investimentos em habitação. Ano também em que o peemedebista deve tentar viabilizar obras em Goiânia para ajudar o candidato do PMDB - sendo ele próprio ou não - no ano seguinte. Naturalmente, desfrutarão da possível repercussão positiva destas obras apenas os aliados do prefeito. Ou pelo menos quem se mantiver ao lado dele até que a sucessão domine de vez o plenário da Câmara Municipal.

Quinta: o confronto agora com Iris, e seu conseqüente enfraquecimento eleitoral, pode ajudar muito mais a fomentar uma candidatura ligada ao governo do Estado – e ao PSDB, em especial –, do que uma petista, já que a máquina governista tem estrutura de sobra para capitalizar o desgaste irista e se impor como oposição. O PT quer ajudar os tucanos? Eis a questão.

Jogo armado

Fato concreto é que há enorme distância entre discurso e prática na relação PT-PMDB. Ambos falam em aliança; cada um a quer a seu modo e segundo seus interesses. Exemplo: alguém imagina o PMDB desistindo de lançar candidato a prefeito para apoiar um petista, mesmo com Iris fora do páreo? A conclusão inevitável: o possível apoio do PT a Iris é um jogo de cena eleitoral que, por isso mesmo, pode acabar no momento em que o partido se viabilizar para 2008.

Claro, não desprezemos o reverso da moeda: Iris pode estar também fazendo jogo de cena com o PT para ter paz por um ano, enquanto coloca de pé a sua reeleição. Se for assim, três pontos para reflexão petista: 1) na eleição passada, o PSDB deixou para fazer oposição sistemática a Lula somente próximo ao período eleitoral, e aí foi tarde demais; 2) de qualquer modo, para o ano que vem, em Goiânia, o PSDB já está na oposição a Iris; 3) no plano estadual, o PMDB já parte para a oposição ao PSDB pensando justamente em 2008 e 2010, e a opinião de Iris é de que o seu partido não deve pegar pesado no ataque, mas também não pode se misturar. E aí?

Marina, Humberto e Pedro estão na lista de prefeitáveis

Em fevereiro, possivelmente no dia 13, a Executiva do PT metropolitano se reunirá para definir que linha adotar na Câmara Municipal. A direção do partido já havia avalizado a parceria com o PMDB na eleição para a Mesa Diretora. "Foi uma aliança pontual", destaca o dirigente petista na Capital, Ivanor Florêncio.

Nesta reunião, a tese da oposição tende a ser descartada. Pode prevalecer o discurso de "autonomia", encampado pela vereadora Marina Sant´Anna, ou a boa "receptividade" aos projetos do Paço que "não agridam os interesses da população". "O que for de relevância para o povo, voto a favor", diz a líder da bancada, Cidinha Siqueira. "Se Iris aceitar fazer uma discussão prévia conosco, antes das votações das matérias, terá pavimentado parte do caminho para uma aliança futura", garante Djalma.

Discrição

Sem alarde, o PT metropolitano trabalha com olhos voltados para a Prefeitura de Goiânia.  A direção do partido diz querer sair do diretório e dos gabinetes parlamentares para reencontrar-se com a população da Capital. Para isso, tem reforçado duas seções da legenda: as setoriais e as zonais. "Perdemos em 2004 porque nos distanciamos da militância", diz o presidente da legenda em Goiânia, Ivanor Florêncio.

As setoriais são divididas, por exemplo, em Saúde, Educação e Juventude, fazendo assim com que as ações do partido em determinadas áreas sejam comandadas por profissionais como médicos, enfermeiros e professores. As zonais são núcleos - dez, no total -, cujas lideranças procuram apurar os problemas dos bairros que cada um deles abrange.

Cotados

Sob a ótica petista, a eleição em Goiânia passa, necessariamente, por pelo menos três nomes - o deputado estadual eleito Humberto Aidar, o federal eleito Pedro Wilson, e a vereadora Marina Sant´Anna. Humberto fez dura oposição a Iris Rezende durante os dois anos em que esteve na Câmara. Se o PT constatar que o prefeito não vê empecilhos em disputar a reeleição e que um discurso oposicionista é o de maior aceitação por parte do eleitorado, Humberto deve ser o prefeitável do partido.

Pedro Wilson e Marina têm a visibilidade de suas carreiras como fator preponderante. Ele é ex-prefeito da Capital e deputado federal. Ela foi candidata a governadora, em 2002. Ambos, aliás, eram citados como nomes preferenciais a vice do então governadoríável Maguito Vilela - além de Otoni - em 2006. O PT, no entanto, como se sabe, escolheu Valdi Camarcio. "2007 é o ano de se estabelecer diálogos com os partidos e de traçar estratégias para o ano seguinte", diz Marina.

Mas, se a eleição para a Prefeitura de Goiânia no ano que vem é o trampolim que o PT quer utilizar para chegar ao Palácio das Esmeraldas em 2010, a vitória de Humberto Aidar pode servir de estímulo para a candidatura de Rubens Otoni ao governo do Estado. Os dois são da mesma tendência, a 'PT Pra Vencer'.

A virtual aliança com o PMDB na corrida às urnas de 2008 terá grande influência na composição que os petistas querem fazer para a eleição seguinte. "O PMDB é o nosso interlocutor natural. Mas não será o único. E nem nós para eles (os peemedebistas)", diz o presidente regional do partido, deputado federal Rubens Otoni.