Artigos UGOPOCI

Cadê a social-democracia? - 23/01/2007

Quem entende do assunto diz que o PSDB está virando o novo PMDB. Eu não entendo, mas peço licença e discrepo, como diria o Houaiss (o mote de quem entende foi o racha na disputa pela presidência da Câmara, mas eu juro a vocês que não vou falar de Chinaglia, Aldo e Fruet).

 O partido que está virando o PMDB do século 21 é o PT: agarrado à máquina pública e às estatais, cada vez mais distante de algum projeto de mudança que talvez tivesse lá na origem. Já o PSDB vai se amoldando à velha forma brasileira conservadora, ocupada desde o fim da ditadura pelo PFL.

 

O que identifica os partidos da banda conservadora é o gosto pela democracia de fachada e pela modernidade em abstrato. E a pouca ou nenhuma disposição para enfrentar a desigualdade extrema, esse sim, o problemão histórico que atravanca o progresso do Brasil. 

 

Querem manter a velha ordem das oligarquias, ainda que escovada e “modernizada”. De vez em quando, abrem a porta da casa-grande para novos sócios da classe média urbana. Ajuda a baixar as tensões e a exercitar sua versão cenográfica da democracia, desde que nada mude a sério na distribuição das riquezas. 

 

Por essa porta entrou o PMDB no fim da ditadura, e entra agora o PT. No jargão político, chama-se a isso de aparelhamento do Estado, algo mais velho do que o pau-brasil por estas bandas. Mas o PSDB não precisou passar pela porta. Já nasceu dentro da velha ordem. 

 

O PSDB queria ser a ala esquerda dos donos do poder, ilustrada, moderna e bem-pensante. Daí ter vestido a fantasia social-democrata. E também globalizada: não é à toa que banqueiros multinacionais e tucanos têm tantas afinidades.    

 

Mas a inércia política brasileira é poderosa. Assim como o PT encontra sua vocação fisiológica, o PSDB não escapa da sina conservadora. É pecado original, mas acredito que haja tucanos sinceramente desconsolados. 

 

Não era esse o projeto da gente de esquerda que se meteu numa costela paulista do PMDB com a ilusão de fazer um partido de centro-esquerda. O problema é que, se ainda existe essa gente, perdeu a voz. Não se ouve um pio deles (a propósito, não se ouve um pio do ex-governador Geraldo Alckmin sobre o desastre da linha 4 do metrô paulistano, obra iniciada em seu governo).

 

Já o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso discorre sobre os deveres do PSDB em entrevista à revista Época. Esquece de citar, uma vez que seja, a palavra “desigualdade” ou semelhante. 

 

Ora, eu aprendi que a missão histórica dos partidos social-democratas é distribuir a riqueza e reduzir as desigualdades sem fazer a revolução. Para isso foram inventados (e por isso eram odiados pelos comunistas. Prometiam coisa parecida sem tanto barulho e sem estado policial).   

 

A missão do PSDB, segundo FHC? Modernizar o Brasil, é claro. Como? Mais democracia, reforma política, voto distrital, a sociedade é que tem de mudar, e não esperar pelo Estado. Muito bem, a discutir, mas cadê a social-democracia?     

 

Armando Mendes é jornalista