Artigos UGOPOCI

Corrupção - 10/12/2007

Jornal Estado de S. Paulo – Notas e informações – Dia 09/12/2007

 

Nunca antes, na história deste país, a parte dos jornais dedicada ao noticiário político nacional se confundiu inteiramente com o noticiário policial. Tome-se, como simples ilustração, as edições de quinta e sexta-feira deste jornal - sabendo-se que isso se repete por todos os dias, semanas e meses do ano. Na quinta há a notícia de que o Ministério Publico vai à Justiça para denunciar pelo menos 40 pessoas envolvidas no esquema de corrupção com verbas públicas identificado pela Polícia Federal (PF) na Operação Navalha na Carne. Segundo investigadores que fazem as apurações, além do ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau, o governador do Maranhão, Jackson Lago (PDT), também deve ser denunciado.

Na mesma quinta é anunciado que o ex-deputado Ronaldo Cunha Lima, que renunciara cinco dias antes de ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 31 de outubro, pela tentativa de assassinato do ex-governador da Paraíba Tarcisio Burity, em 1993, deverá ser julgado pelo Tribunal do Júri da Paraíba. Como os ministros do Supremo, por 7 votos a 4, decidiram que, ao perder o foro privilegiado (quando renunciou ao mandato de deputado federal), Cunha Lima deve ser julgado pela Justiça comum, a manobra do político paraibano deu certo: o caso, que tramita na Justiça há mais de uma década e que estava no STF desde 2002, pode levar mais dez anos para ser concluído, segundo cálculos do ministro Joaquim Barbosa. O crime prescreve em 2012 e, com recursos e manobras procrastinatórias, o ex-deputado desfrutará de longo tempo para “conquistar” sua impunidade.

Agora a turma de sexta-feira: numa repetição do caso de Roraima, de 2003, desvendado pela Operação Praga do Egito, da Polícia Federal, o ex-governador de Alagoas Manuel Gomes de Barros (PTB), o ex-presidente da Assembléia Legislativa daquele Estado Celso Luiz Brandão, o ex-comandante da PM alagoana José A. Nascimento e mais 38 suspeitos são presos por golpe de R$ 200 milhões, em operação deflagrada pela Polícia Federal - a “Operação Taturana” - para apurar os crimes do grupo que fazia desvios na Assembléia Legislativa alagoana e fraudava restituições de Imposto de Renda. Entre os presos estão dirigentes administrativos da Casa, ex-parlamentares, prefeitos do interior, servidores e cabos eleitorais de caciques políticos alagoanos. Na residência do deputado estadual Cícero Ferro (PMN), que foi preso em flagrante, a PF encontrou um arsenal de armas de uso restrito das Forças Armadas, incluindo metralhadoras, espingardas 12 milímetros, pistolas 9 milímetros, revólveres de vários calibres e grande quantidade de munição.

Na mesma sexta-feira está publicada a informação segundo a qual o Ministério Público Federal apresentou denúncia ao Superior Tribunal de Justiça contra 28 acusados de vazamento de informações e envolvimento em fraudes a licitações na Bahia. A lista de acusados inclui o presidente do Tribunal de Contas do Estado, Antonio Honorato de Castro Neto, o delegado Zulmar Pimentel, que até maio era o número dois na hierarquia do Departamento da Polícia Federal, e os delegados da PF aposentados João Batista Paiva Santana, ex-superintendente da PF no Ceará, e Marco Antonio Cavaleiro, hoje assessor de gabinete do senador Romeu Tuma (PTB-SP).

Também na sexta se estampa a notícia de que a “Operação Mexilhão Dourado”, da Polícia Civil de São Paulo, desmantelou uma quadrilha acusada de desviar quase R$ 60 milhões em recursos públicos no município de Rosana, no interior do Estado, por meio de fraudes em licitações. Nessa operação já haviam sido presas 36 pessoas, entre as quais 6 dos 9 vereadores que integram a Câmara Municipal daquela cidade - inclusive o atual presidente da Casa, Valtemir Santana Santos (PPS) -, além dos ex-prefeitos Jurandir Pinheiro (sem partido) e Gilmar dos Santos (PP).

Ufa! Isso é o noticiado em apenas dois dias! Que mais é preciso para demonstrar que a administração pública, em todos os seus níveis, está atacada pela gangrena do crime de colarinho-branco que, por enquanto, a Polícia Federal, apesar da eficiência, não está conseguindo deter. E, sozinha, jamais conseguirá, porque não se trata de um caso de polícia, apenas, mas de um caso de reforma político-institucional.