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Goiânia 2008 - 12/12/2007

Jornal Tribuna do Planalto – Política – De 9 a 15 de dezembro de 2007

Eduardo Sartorato

Nas últimas semanas o processo pré-eleitoral na base aliada, visando a sucessão municipal em Goiânia, progrediu e se afunilou. A deputada federal Raquel Teixeira (PSDB) e o presidente da Agência Goiana de Turismo (Agetur), Barbosa Neto (PSB), ganharam força e espaço, e aparecem bem cotados para disputar as eleições de 2008 contra o prefeito Iris Rezende (PMDB). Mas as conversas e definições, tão ausentes entre os aliados durante todo o ano, estão distantes de significar união. Os sucessivos desentendimentos entre o governador Alcides Rodrigues (PP) e o senador Marconi Perillo (PSDB) indicam que a unidade entre os aliados é cada vez mais difícil e já mostra que os partidos da base governista têm tudo para marchar com mais de um candidato, mais uma vez.

Raquel e Barbosa têm motivos para não ceder na candidatura. Ambos têm, por trás, poder político para prosseguir. Raquel tem apoio de Marconi, enquanto Barbosa é visto até por alcidistas como a melhor opção de Alcides para a disputa. Raquel e Barbosa também desejam muito encarar essa disputa. Ambos foram pré-candidatos nas eleições de 2004, mas acabaram preteridos pela escolha do deputado federal Sandes Júnior (PP). Ou seja, tudo indica que um não abrirá mão para apoiar o outro. Principalmente em um momento de desavenças entre o senador e o governador, e diante do fato de que quem se fortalecer em 2008 terá poder para dar as cartas em 2010.

A própria escolha de Raquel dentro do PSDB foi uma declaração de Marconi de que não recuará. O partido esteve, durante todo 2007, com a sucessão empacada. Após vários nomes cogitados, o PSDB finalmente decidiu trabalhar pela candidatura da deputada. Ela acabou se sobressaindo sobre os deputados federal João Campos e estadual Túlio Isac, que também pleiteavam disputar a sucessão. É inegável que a vitória interna tem o dedo do senador. Vale lembrar que Raquel tem uma relação muito próxima com Marconi - entrou na política pelas mãos do senador, quando foi secretária da Educação, no primeiro governo do tucano, e desde então se mantém próxima a ele.

O que prova que Raquel Teixeira não foi escolhida apenas para marcar posição é a dimensão de sua movimentação. Logo nos primeiros dias depois de ganhar carta-branca para negociar em nome do partido, Raquel conversou com partidos nanicos e buscou diálogo com o presidente do PTB, deputado federal Jovair Arantes, que, até o momento, também é pré-candidato. Ela ainda promete diálogo com Barbosa Neto e com o deputado federal Sandes Júnior (PP), que lançou a sua pré-candidatura há duas semanas. "Agora começa a fase de conversar com outros partidos. Já fiz uma primeira conversa com partidos menores e agora buscarei os outros da base", avisa Raquel.

Além de articular politicamente, Raquel também se preocupa com a sua imagem. A deputada já fez contatos com publicitários para detectar onde terá de melhorar seu discurso. Ela nega que vá buscar diálogo com o eleitorado antes de definir a sua situação, mas já elege o seu primeiro desafio - diminuir a rejeição mostrada pela pesquisa Rádio 730/Grupom, divulgada na edição passada da Tribuna do Planalto. Para ela, a rejeição detectada (27,7%) é fruto do desconhecimento de seu nome por parte do eleitorado. Ela rechaça que o índice tenha a ver com sua passagem relâmpago pela Secretaria de Cidadania, no primeiro semestre. "Pelo contrário, eu me incorporei em outros segmentos. Foi curta, mas foi rica (a passagem)", acredita.

Barbosa Neto


Diferentemente de Raquel, Barbosa Neto (PSB) não quer saber de exposição neste momento. Mantém-se como presidente da Agetur e evita ocupar espaços na imprensa. Em entrevista à Rádio 730, na semana passada, Barbosa desviou-se de todas as bolas divididas sobre as articulações para ser o candidato da base aliada, ou pelo menos de boa parte dela. Em conversa com a Tribuna, Barbosa manteve-se na retaguarda e disse apenas que buscará diálogo com outros pré-candidatos. "Essas conversas estão pautadas para a segunda quinzena de janeiro", afirma o presidente da Agetur.

Mesmo que o governador Alcides Rodrigues e Barbosa Neto estejam calados sobre a sucessão de Goiânia, no ano que vem, é certo que o nome do socialista tem a preferência do Palácio das Esmeraldas. No ano passado, Barbosa apoiou o governador no segundo turno das eleições. Na época, Barbosa Neto teria negociado um futuro apoio de Alcides a ele. Hoje até mesmo o silêncio mostra que ambos estão em sintonia. Muitos acreditam que as poucas palavras de Barbosa são uma orientação de Alcides para lhe dar apoio. O governador também já deu mostras de que não quer saber da sucessão 2008; poucas vezes se manifestou sobre o assunto.

Mas o PP precisará tomar uma posição para o ano que vem. O deputado Sandes Júnior é pré-candidato, embora sem respaldo até mesmo de vários de seus colegas. A análise é de que Sandes se desgastou muito nas eleições de 2004, quando não conseguiu sequer chegar ao segundo turno, em uma chapa encabeçada por PP e PSDB. Assim, nos bastidores, é clara a análise de que Sandes só foi lançado pré-candidato para que o partido marque posição. E esta definição passará, sem dúvida, pelo humor de Alcides, que tende a apontar para Barbosa.

Uma hipotética chapa PP-PSB tem tudo para se fortalecer e ganhar novas aquisições. Historicamente, a máquina estadual é determinante na hora de negociar apoios. O PR, do deputado federal Sandro Mabel, por exemplo, poderia tranqüilamente compor com os dois. O partido, hoje, faz parte da administração de Iris Rezende, mas ainda não está perto de uma composição eleitoral com o prefeito. Mabel não engole uma possível candidatura de Maguito Vilela (PMDB) em Aparecida. Os partidos nanicos também têm predisposição para se alinhar com o poder. É fato que pelo menos dois, PT do B e PTN, partidos com fatia no horário eleitoral, têm relação estreita com Alcides.

PTB


Com uma história de negociações, o PTB, do deputado federal Jovair Arantes, também não se decidiu ainda. Há alguns meses Jovair deu um ultimato - esperaria até o final do ano para que a base "tomasse juízo" e começasse a falar a mesma língua. O tempo passou e o deputado mantém o discurso. "Dia 10 ou 15 (esta semana), ligarei para o governador e para o senador Marconi. Se não definir, em janeiro o PTB tomará o seu rumo sozinho", adverte. Jovair revela que manterá as ações de pré-candidato nos próximos dias.

Mas uma análise do discurso do deputado mostra que a sua vontade de ser candidato já foi maior. Ele tem dúvidas quanto a manter seu nome no processo, caso a base caminhe sozinha. "Ainda não sei se sairei candidato. Vou conversar e dialogar primeiro com o meu partido antes de tomar uma decisão", diz. Jovair afirma que não importa o critério para decidir o candidato aliado e sim decidir com rapidez. Nos bastidores, há uma dúvida em relação a quem Jovair apoiaria. Hoje, a hipótese mais provável é que ele ficaria alinhado ao PSDB, seu antigo partido.

A sucessão em Goiânia entre os aliados está cada vez mais polarizada entre marconistas e alcidistas. A possibilidade de o Palácio abençoar a candidatura de Raquel é remota. Soma-se aos problemas entre o senador e o governador a passagem conturbada da deputada na Secretaria de Cidadania. Por outro lado, também é difícil Marconi recuar, agora que deu apoio para Raquel tocar sua pré-candidatura. Um recuo significaria outra derrota dele para Alcides. Ou seja: a união da base está por um fio.

Em Goiânia, base jamais se uniu após a vitória em 96

A desunião da base aliada no processo sucessório de Goiânia não é novidade. Desde que os partidos opositores ao PMDB se uniram e derrotaram o então candidato ao governo Iris Rezende (PMDB), em 1998, a base aliada sempre caminhou com mais de um candidato na capital. A última vez que houve união em Goiânia foi em 1996, quando o ex-prefeito Nion Albernaz foi cabeça-de-chapa da união entre PPB/PSDB/PFL/PTB/PSDC. A eleição na capital, inclusive, foi o esboço para a confecção da base aliada, em 1998.

Em 2000, a base aliada rachou. A maior parte dos partidos apoiaram a candidatura do ex-prefeito Darci Accorsi (PTB, hoje no PR). O PSDB, partido do então governador Marconi Perillo, lançou a hoje senadora Lúcia Vânia, apoiado pelo PSDC e mais uma série de partidos nanicos. No final, Darci levou a melhor e foi para o segundo turno com o ex-prefeito Pedro Wilson (PT). As feridas abertas na pré-campanha entre aliados prevaleceram e os tucanos apoiaram o petista ao invés de Darci, e ajudaram na vitória de Pedro Wilson.


Em 2004 houve nova divisão

 

Desta vez foi o PTB que fechou com o PT ainda no primeiro turno e lançou o deputado estadual Misael Oliveira (hoje no PDT) para a vice-prefeito na chapa a reeleição de Pedro Wilson. O PR caminhou solo e lançou Darci Accorsi para a disputa. A maior chapa da base aliada foi a encabeçada por Sandes Júnior (PP), que contou com o PSDB e o PSB, de Barbosa Neto. No fim, nenhuma das candidaturas foi ao segundo turno, que teve Pedro Wilson e Iris Rezende (PMDB) na disputa pelo Paço Municipal. (E. S.)