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Política - 13/12/2007

Jornal Tribuna do Planalto – Política – De 9 a 15 de dezembro de 2007

Eduardo Sartorato

O caso da suposta nova tentativa de investigação do senador Marconi Perillo (PSDB), divulgado no domingo, 2, pela revista Veja, aumentou as cizânias entre o tucano e o governador Alcides Rodrigues (PP). Segundo a reportagem, Marconi teria sido informado por Alcides da nova ação de investigação, na qual o senador seria vítima. Porém, um dia depois, questionado pela imprensa, Alcides negou a informação e disse que nada sabia sobre o caso. A negação do pepista pôs em xeque a veracidade da informação e estremeceu, ainda mais, a já combalida relação entre os dois. O caso é mais uma contribuição para a cisão da base governista para a sucessão municipal de 2008.

Segundo a reportagem publicada por Veja, Marconi seria vítima de espionagem a mando do ex-presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), com a intenção de construir um dossiê sobre o tucano. A Polícia do Senado teria contratado dois escritórios de arapongas para vigiar as ações do tucano. A missão era provar que Marconi seria sócio oculto das empresas Perdigão e Schincariol. As duas empresas vieram para Goiás durante o governo do tucano. Outra meta seria descobrir uma conta milionária de Marconi no exterior. Esta é a segunda suspeita de espionagem a Marconi em um pequeno intervalo de tempo. No início de outubro a mesma Veja publicou que Marconi e o senador Demóstenes Torres eram investigados, também por Renan.

O caso de agora teria chegado aos ouvidos do senador pelo secretário de Governo, Fernando Cunha (PSDB), que teria sido informado pelo próprio governador. O pepista teria obtido as informações do esquema pelo ex-deputado estadual Abdul Sebba (PTB), já que sua ex-esposa é proprietária da Agatha & Holmes, uma das duas agências contratadas para a espionagem ao tucano. Marconi teria sido informado por Cunha a pedido de Alcides.


Teria, teria, teria... Tudo na condicional.

Na segunda, 3, em entrevista coletiva, Marconi atribuiu a suposta ação a "adversários locais e rivais do PSDB no País". Ele garantiu ter apenas três contas bancárias, todas em Goiânia - no Banco do Brasil, no Itaú e na Caixa Econômica, devido a financiamento de um imóvel. Ele negou qualquer participação na Schincariol ou na Perdigão. Disse ainda ter uma pequena participação (0,5%) na Goialle Alimentos, empresa de propriedade da família Lage, instalada em Goianésia. Além disso, Marconi revelou que sua mulher possui uma microempresa na área turística, em Pirenópolis.

Um dia depois, em evento na fábrica da Ambev, o governador Alcides Rodrigues negou que soubesse de qualquer coisa a respeito do caso. Disse também que tinha comentado com o secretário Fernando Cunha apenas o primeiro caso de suspeita de arapongagem e que não ordenou qualquer investigação da Polícia Civil. Ao saber das declarações, Marconi divulgou uma nota, no mesmo dia 4, dizendo como acreditava em Fernando Cunha: "Assim como creio em meus pais."

O caso pegou fogo nos bastidores e estremeceu a base aliada. O clima de racha entre Alcides e Marconi ficou evidenciado. Na sessão de terça, 4, da Assembléia, a tensão era evidente entre os governistas. Havia deputado, inclusive, fazendo as contas de quantos parlamentares ficariam com Alcides e quantos com Marconi.

A Tribuna do Planalto apurou que há pelo menos duas versões do caso nos bastidores. A primeira é a de que Alcides realmente teria falado a Fernando Cunha sobre as investigações, mas com pedido de sigilo absoluto. Este, por sua vez, teria quebrado o segredo e passado a Marconi as informações. Esta é a versão dos marconistas. A segunda é a de que as informações não teriam partido do governo. Esta, a versão dos alcidistas.

Naturalmente, só o tempo dirá o que este episódio pode representar para a base aliada. A relação entre Marconi e Alcides vem num desgaste crescente durante todo o ano. A diminuição do espaço do PSDB no governo  e a responsabilidade na dívida e no déficit do Estado serviram para dezenas de atritos que os dois líderes tiveram nos últimos meses. No mês passado, o anúncio da reforma administrativa só fez aumentar o desgaste na relação.


Além de anunciar cortes nos últimos postos tucanos no governo e fortalecer a secretarias comandadas por pepistas, o secretário da Fazenda, Jorcelino Braga, criticou duramente a concessão dos planos de cargos e salários, uma das marcas do governo tucano. Segundo Braga, foram aumentos dados sem previsão de receita. O novo atrito vem no momento em que começa o afunilamento das pré-candidaturas da base aliada para a prefeitura de Goiânia. "A base aliada é um caminhão de abóboras que passou por um quebra-molas. Agora, vamos ver como vai assentar", definição é de um político da base governista.