Jornal Tribuna do Planalto – Política – De
Eduardo Sartorato
O caso da suposta nova tentativa de investigação do senador Marconi Perillo (PSDB), divulgado no domingo, 2, pela revista Veja, aumentou as cizânias entre o tucano e o governador Alcides Rodrigues (PP). Segundo a reportagem, Marconi teria sido informado por Alcides da nova ação de investigação, na qual o senador seria vítima. Porém, um dia depois, questionado pela imprensa, Alcides negou a informação e disse que nada sabia sobre o caso. A negação do pepista pôs em xeque a veracidade da informação e estremeceu, ainda mais, a já combalida relação entre os dois. O caso é mais uma contribuição para a cisão da base governista para a sucessão municipal de 2008.
Segundo a reportagem publicada por Veja, Marconi seria vítima de espionagem a mando do ex-presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), com a intenção de construir um dossiê sobre o tucano. A Polícia do Senado teria contratado dois escritórios de arapongas para vigiar as ações do tucano. A missão era provar que Marconi seria sócio oculto das empresas Perdigão e Schincariol. As duas empresas vieram para Goiás durante o governo do tucano. Outra meta seria descobrir uma conta milionária de Marconi no exterior. Esta é a segunda suspeita de espionagem a Marconi em um pequeno intervalo de tempo. No início de outubro a mesma Veja publicou que Marconi e o senador Demóstenes Torres eram investigados, também por Renan.
O caso de agora teria chegado aos ouvidos do senador pelo secretário de Governo, Fernando Cunha (PSDB), que teria sido informado pelo próprio governador. O pepista teria obtido as informações do esquema pelo ex-deputado estadual Abdul Sebba (PTB), já que sua ex-esposa é proprietária da Agatha & Holmes, uma das duas agências contratadas para a espionagem ao tucano. Marconi teria sido informado por Cunha a pedido de Alcides.
Teria, teria, teria... Tudo na condicional.
Na segunda, 3, em entrevista coletiva, Marconi atribuiu a suposta ação a "adversários locais e rivais do PSDB no País". Ele garantiu ter apenas três contas bancárias, todas em Goiânia - no Banco do Brasil, no Itaú e na Caixa Econômica, devido a financiamento de um imóvel. Ele negou qualquer participação na Schincariol ou na Perdigão. Disse ainda ter uma pequena participação (0,5%) na Goialle Alimentos, empresa de propriedade da família Lage, instalada
Um dia depois, em evento na fábrica da Ambev, o governador Alcides Rodrigues negou que soubesse de qualquer coisa a respeito do caso. Disse também que tinha comentado com o secretário Fernando Cunha apenas o primeiro caso de suspeita de arapongagem e que não ordenou qualquer investigação da Polícia Civil. Ao saber das declarações, Marconi divulgou uma nota, no mesmo dia 4, dizendo como acreditava
O caso pegou fogo nos bastidores e estremeceu a base aliada. O clima de racha entre Alcides e Marconi ficou evidenciado. Na sessão de terça, 4, da Assembléia, a tensão era evidente entre os governistas. Havia deputado, inclusive, fazendo as contas de quantos parlamentares ficariam com Alcides e quantos com Marconi.
A Tribuna do Planalto apurou que há pelo menos duas versões do caso nos bastidores. A primeira é a de que Alcides realmente teria falado a Fernando Cunha sobre as investigações, mas com pedido de sigilo absoluto. Este, por sua vez, teria quebrado o segredo e passado a Marconi as informações. Esta é a versão dos marconistas. A segunda é a de que as informações não teriam partido do governo. Esta, a versão dos alcidistas.
Naturalmente, só o tempo dirá o que este episódio pode representar para a base aliada. A relação entre Marconi e Alcides vem num desgaste crescente durante todo o ano. A diminuição do espaço do PSDB no governo e a responsabilidade na dívida e no déficit do Estado serviram para dezenas de atritos que os dois líderes tiveram nos últimos meses. No mês passado, o anúncio da reforma administrativa só fez aumentar o desgaste na relação.
Além de anunciar cortes nos últimos postos tucanos no governo e fortalecer a secretarias comandadas por pepistas, o secretário da Fazenda, Jorcelino Braga, criticou duramente a concessão dos planos de cargos e salários, uma das marcas do governo tucano. Segundo Braga, foram aumentos dados sem previsão de receita. O novo atrito vem no momento em que começa o afunilamento das pré-candidaturas da base aliada para a prefeitura de Goiânia. "A base aliada é um caminhão de abóboras que passou por um quebra-molas. Agora, vamos ver como vai assentar", definição é de um político da base governista.