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Política - 14/12/2007

Jornal Tribuna do Planalto – Política – De 9 a 15 de dezembro de 2007

Eduardo Horacio


Quando a relação vai mal, tudo vira crise. Na relação entre o governador Alcides Rodrigues (PP) e o senador Marconi Perillo (PSDB) a crise está em seu apogeu. O caso mais palpitante hoje vem do Senado. Com direito à chamada de capa em Veja, Marconi acusa a polícia do Senado, comandada por Renan Calheiros (PMDB), de espioná-lo. O tucano goiano diz ter sido avisado por Fernando Cunha, peça marconista no governo de Alcides, a pedido do governador. Até agora, mesmo sob pressão, Fernando Cunha não confirmou. Alcides nega tudo, o que irrita Marconi. E o ex-deputado Abdul Sebba, ex-marido de uma das supostas detetives de Renan no caso, citado na matéria de Veja, também diz desconhecer tudo.

Alcides nega o que Marconi disse ter ouvido de Fernando Cunha. Ou seja: alguém mente. Se a história não for esclarecida, a declaração de Marconi não terá tido confirmação nem mesmo de dois de seus principais aliados (Cunha e Alcides). Para uma relação em estado de pólvora, é gasolina mais do que suficiente para um incêndio. Aliados de Marconi tentam forçar o governador a rever sua fala. Alcides está irritado, pois teria sido envolvido numa história que desconhece. Se Alcides volta atrás, a responsabilidade do caso cai em suas mãos, sem contar o vexame de ter "mudado de idéia". Se não volta, segue nas mãos de Marconi. Enquanto isso, Fernando Cunha não abre a boca. Se abrir, estará desagradando um dos dois chefes. É inevitável.

Especulações não faltam. Uma delas: por que Renan investigaria Marconi se já tinha votos mais do que suficientes para ser absolvido? Claro, não é improvável que Renan quisesse, além da absolvição, o fim político de seus rivais. Portanto, a especulação até procede, mas não em se tratando de Renan. Por que Marconi envolveria Alcides, Cunha e Abdul na história se não tinha o apoio deles? Ou tinha, mas eles recuaram? E mais: Alcides diz que houve uma investigação na Polícia Civil de Goiás sobre uma espionagem política envolvendo Marconi Perillo e ele, governador, não sabia de nada? Para dizer o mínimo, não seria óbvio que Marconi pelo menos conversasse isso com ele em um ou outro encontro? Ou a crise anda tão braba que ele não teria nem mesmo informado, daí exatamente o motivo maior da irritação de Alcides?

A relação entre Marconi e seu sucessor no governo vai tão mal que o tucano hoje está mais próximo do senador Demóstenes Torres (DEM) – que o acusou de tentativa de assassinato na última campanha eleitoral – do que do governador Alcides Rodrigues. Se Alcides não desdiz o que disse, se Fernando Cunha não abre a boca, caberá a Marconi a solução do caso. Uma das soluções possíveis seria o silêncio de Marconi, o que talvez fizesse o assunto morrer aos poucos, principalmente agora que Renan foi outra vez absolvido. Mas isso não combina com o estilo-Marconi.

Tanto que no domingo, 2, um dia depois da matéria de Veja, Marconi concedeu uma entrevista coletiva também atribuindo a espionagem a "adversários locais, rivais do PSDB no País e inimigos da democracia". Independente do desfecho deste caso, quem deve estar rindo é o prefeito Iris Rezende, candidato à reeleição em 2008 e candidatíssimo a governador em 2010. Afinal, parece uma certeza cada vez mais definitiva o racha entre Alcides e Marconi, o que significa, entre outras coisas, que eles lançarão candidatos distintos a prefeito no ano que vem. E que esses dois candidatos, da ex-base aliada, devem brigar entre si, em vez de apenas atacarem o favorito, Iris. Sorte do PMDB. Em 2010, então, parece cada vez mais complicado imaginar que Alcides apoiará a candidatura a governador de Marconi Perillo, que tentará o terceiro mandato. Ou seja: a ex-base aliada fará de tudo para, novamente, entregar uma eleição a Iris, tal qual fez em 2004, quando ajudou a ressuscitar a carreira política do atual prefeito.

Em tempo: Sobre o Senado, para terminar, assino embaixo uma frase do jornalista Luís Nassif, publicada em seu blog. "Entre os senadores Marconi Perillo e Renan Calheiros, fico com Henrique Santillo e Teotônio Villela."