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PODERIA TER SIDO PIOR? - 24/12/2007

Jornal Opção – Reportagens - De: 23 a 29 de dezembro de 2007


Por AFONSO LOPES

Um ano esquisitão esse do governo de Alcides Rodrigues. Começou tão tumultuado que abriu janeiro com um decreto de contenção de gastos e redução de cargos comissionados. Ou seja, desnudando o mito do Estado perfeito, conforme registrou a oposição na época. Termina com apenas um bom resultado, o retorno ao pagamento dos salários dos servidores públicos dentro do mês trabalhado. Entre janeiro e dezembro, a administração foi contaminada pela guerra de bastidores entre pepistas e marconistas e o governador sequer conseguiu montar uma equipe definitiva de governo. Somente metade dos que estão nos cargos de primeiro escalão foram confirmados. Os demais são, por mais estúpido que isso possa parecer, interinos. São remanescentes do governo anterior, do mesmo Alcides, entre abril e dezembro do ano passado, que foram ficando, ficando e continuam onde estavam.

Essa equipe é um capítulo separado do enredo. Empossada em abril do ano passado, é constituída por políticos sem mandato, que não quiseram ou não puderam se candidatar nas eleições estaduais. São, portanto, essencialmente técnicos. O que isso significa? Que o governo Alcides, ao contrário de quase todos os demais, não passará por grandes mudanças em sua composição por causa do prazo final para desincompatibilização dos candidatos municipais. A grande exceção talvez seja Barbosa Neto, presidente da Agetur, que luta para se tornar o queridinho da base aliada na disputa pela Prefeitura de Goiânia. Fora Barbosa, há outros dois "com votos", mas eles não devem disputar eleição no ano que vem, os deputados estaduais Ernesto Roller, do PP, que comanda a Secretaria de Segurança Pública, e Flávia Morais, do PSDB, à frente da Secretaria de Cidadania. O detalhe que deve ser observado dentro desse contexto é que os três secretários "com voto" chegaram ao governo em meados deste ano e não em abril do ano passado. Os demais, técnicos, continuam como antes.

Demora

 

O decreto de janeiro, que estabelecia cortes na máquina pública, não deu em nada. Aliás, deu sim, em novo decreto, nos mesmos moldes, 30 dias depois. E assim, as demissões anunciadas e previstas foram adiadas, assim como o Secretariado do mandato atual. E teve até um terceiro decreto, desta vez sem estabelecer data para mexer na máquina.

Em novembro, finalmente, o governo conseguiu pelo menos enxergar melhor as engrenagens emperradas do sistema de gestão que aí está. Há superposições de órgãos, excesso de gastos sem controle e um elevadíssimo custo das folhas de pagamento, incluindo aí salários estratosféricos. Gerencialmente, portanto, não há outra maneira de evitar o naufrágio total senão tapando os rombos por onde some boa parte do tesouro estadual.

Foi isso que o secretário da Fazenda, Jorcelino Braga, anunciou ao falar com a imprensa sobre as medidas que serão tomadas. O tempo do verbo, serão, ainda parece atual. As mudanças aconteceram apenas na área da própria Secretaria da Fazenda, que incorporou a Aganp e, apesar disso, diminuiu sua enorme estrutura de superintendências. O resto da máquina continua igualzinho estava antes, provocando um déficit que entre janeiro e dezembro dobrou de tamanho, passando dos anunciados 50 milhões de reais por mês para quase 100 milhões. Se a herança de Marconi Perillo, como insinuam inúmeros alcidistas, deixou um buraco de 50 milhões depois de sete anos de governo, o próprio Alcides chegou ao mesmo desempenho ruim em alguns meses apenas.

Há perspectivas muito mais positivas para 2008, apesar da máquina ter se movido muito pouco em direção à guilhotina montada por Jorcelino Braga. Informações junto a alguns secretários dão conta de que fornecedores que andavam desesperançados voltaram a sorrir nas últimas semanas, sinal de que as contas do governo voltaram a ser quitadas. Mas é inegável que, apesar do crescimento da receita, as despesas não param de crescer. Os cortes, segundo o que se comenta no Palácio Pedro Ludovico, serão feitos em janeiro. Ou seja, um ano depois de identificar o problema, o governo perderá os dedos para manter os anéis.

De positivo mesmo para a contabilidade do governo Alcides Rodrigues ao final deste primeiro ano, o que equivale a um quarto do total, foi o retorno do pagamento dos servidores públicos e aposentados dentro do mês trabalhado. Obra de Jorcelino Braga, e decisão do governador, com dinheiro extra-caixa conseguido após renegociar as contas estaduais com o Banco Itaú. Esses recursos não eram carimbados e poderiam sair do caixa estadual da forma como o governador determinasse. Saiu cada centavo diretamente para o bolso dos funcionários públicos o que, certamente, frustou centenas de empreiteiros. Entre o interesse financeiro dos empreiteiros e os salários, Alcides priorizou os funcionários.

Política

 

Foi no campo político que as coisas mais se complicaram. Um ano totalmente maluco, que termina com tucanos descontentes e peemedebistas elogiando o governo do PP. Quem poderia imaginar no ano passado que esse seria o quadro em dezembro deste ano?

Ainda em dezembro de 2006, após confirmada a virada de Alcides sobre o favorito Maguito Vilela, surgiram os primeiros sinais de que haveria um altíssimo preço político a ser pago pela vitória eleitoral. Tucanos emplumados, e outros nem tanto, cobraram publicamente de Alcides lugares VIPs na sala de estar do embarque para o novo mandato. Foram barrados pela tropa pretoriana do PP. Aliás, mais do que barrados, foram enxotados para os fundos da sala. Foi um tempo em que se sucederam facas nas gargantas palacianas e quedas monumentais.

A mais sintomática dessas quedas aconteceu na Celg. Todo mundo sempre soube que o senador Marconi Perillo gostaria que o ex-presidente André Rocha fosse mantido no cargo no governo de Alcides. Pelo jeito, todo mundo menos ele, Alcides, que não apenas mandou André de volta para a iniciativa privada como colocou em seu lugar Ênio Branco, um presidente que deve ser creditado na chamada cota pessoal do governador.

Outro lugar que igualmente gerou barulho foi a Secretaria da Fazenda. Othon Nascimento, bancado por Alcides em plena campanha eleitoral no ano passado, contra o nome preferido do alto tucanato, José Carlos Siqueira, deixou o cargo em meados do primeiro semestre. Assumiu o comando Jorcelino Braga, também da cota pessoal de Alcides. Braga não apenas passou a comandar a Secretaria da Fazenda. Ele concentra hoje poderes para arrecadar e para gastar cada centavo do governo. Em tempos de crise e aperto financeiro, não poderia ser de outra forma. Politicamente, foi uma espécie de solução final para a crise com os tucanos.

Com Braga e Ênio, o governador Alcides Rodrigues disse claramente aos compaheiros alados que nada mais seria como antes. Se muitos tucanos radicalizaram nos bastidores, Alcides xiitou de vez. Para se ter uma melhor idéia do que realmente aconteceu politicamente neste início de governo, prefeitos do PP demonstraram muito mais influência junto ao Palácio que o principal general da batalha eleitoral, o senador Marconi Perillo. Paulo Roberto Cunha, de Rio Verde, despachou para Goiânia Leonardo Veloso, que passou a responder pela Secretaria de Agricultura. Tião Caroço, de Formosa, emplacou o deputado estadual Ernesto Roller na Secretaria de Segurança Pública. Para fechar com chave dourada, o próprio Caroço foi indicado para o Tribunal de Contas dos Municípios. E quem Marconi bancou dentro da estrutura de poder comandada por Alcides Rodrigues? Nome novo, nenhum. E, entre os velhos, dois deles não andam assim tão prestigiados. José Carlos Siqueira balança numa pasta de Planejamento que não pode planejar nada. Fernando Cunha está à frente de uma secretaria política que não tem nem um décimo da força de decisão política de Roberto Balestra, que está numa secretariazinha meia boca, Extraordinária. Os demais marconistas ou estão fazendo o possível para, quem sabe?, passarem despercebidos do facão alcidista ou começam a usar o silêncio como arma de defesa.

De crise em crise, o ano termina com o governador temponovista cobrindo o maior líder do PMDB de elogios. Em troca, o prefeito Iris Rezende, o mais provável adversário de Marconi Perillo em 2010, tem, como se costuma dizer no interior, carregado água no jacá para o governador Alcides Rodrigues. Se alguém tivesse adormecido em 2006 ouvindo a musiquinha de campanha do Tempo Novo, que repetia ad nauseun que Alcides era Marconi e que Marconi era Alcides, e acordado agora, entraria em choque. O dorminhoco teria certeza de que alguma coisa morreu neste ano.