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HÉLMITON PRATEADO
A tão propalada reforma administrativa que o governador Alcides Rodrigues está implantando no Estado deverá ter um ingrediente mais político a partir de agora. A consideração de que o figurino do Partido Progressista, agremiação do governador e de seu staff político deverá assumir papel de destaque foi anunciado por fontes palacianas na sexta-feira, 18.
Freqüentadores do círculo interno do Palácio das Esmeraldas explicam que grande parte do que deverá ser implementado no âmbito administrativo passará obrigatoriamente pela avaliação política visando adequar o que precisa ser feito na readequação administrativa de forma a não distanciar a gestão dos objetivos políticos do governo.
Entenda-se por etapa política da reforma no governo por implementação de medidas e objetivos que estejam no programa traçado por Alcides Rodrigues e sua equipe. A principal mudança já está em curso há mais tempo. Trata-se da concentração de poderes em quem tem a maior responsabilidade sobre as contas: o secretário da Fazenda, Jorcelino Braga.
A Sefaz, com seu corpo técnico, terá controle das folhas de pagamento de inativos e pensionistas do Estado, o Fundo de Previdência, que consome a expressiva soma de 95 milhões de reais por mês. O recadastramento levado a efeito neste mês poderá mostrar distorções e ilegalidades que serão corrigidas de forma cirúrgica. Ainda que cause traumas será imprescindível para a adequação das contas. Entre ativos, inativos e pensionistas o volume de irregularidades causou perplexidade aos técnicos responsáveis por averiguar o recadastramento.
Apareceram casos esdrúxulos de comissionados que fizeram o recadastramento pela internet e que estão nos Estados Unidos e na Europa, pensionistas que transferiram o benefício de forma irregular para terceiros e aposentados que recebem muito além do permitido
O exemplo de que cortes na máquina administrativa para enxugar a folha de pagamento deve ser feito criteriosamente e sem medo foi dado pela própria Secretaria da Fazenda. Em seus quadros mais de uma centena de cargos de gerência e superintendência foram sumariamente extintos para conter os gastos com pessoal. Os servidores que ficam terão de produzir mais e racionalizar o custo operacional da máquina administrativa que compõem.
Alguns órgãos concluíram a negociação com os técnicos da Sefaz para implementar os cortes. Luiz Edgar Tollini e Hemerson Ferreira fecharam com representantes de outros órgãos como Agecom, Secretaria de Cidadania, Agepel, Indústria e Comércio e Agricultura a matemática dos cortes que deverão ser feitos. Em média a navalha atingirá 50 por cento dos cargos comissionados de caráter superior (gerência, superintendência de chefia). Agrodefesa, por ter um quadro considerado enxuto, é exceção e não deverá sofrer o mesmo volume de cortes.
Espaco
Como política é usualmente definida como "arte de ocupar espaços" e não há vacância de posições que não sejam imediatamente preenchidas há um fenômeno em curso na administração estadual. Com a dificuldade de alguns congressistas conduzirem uma política de atração de benefícios para Goiás outros que não se faziam presentes com freqüência se tornam figuras proeminentes no cenário político.
É o caso do deputado federal Rubens Otoni (PT). Durante a primeira fase do Tempo Novo, Otoni aparecia pouco nos círculos do governo estadual, pela simples razão de que junto ao PSDB seu espaço era restrito. Com o fato de o governador Alcides Rodrigues ocupar o principal posto e pertencer ao PP, partido da base de apoio ao presidente Lula, Otoni se tornou interlocutor privilegiado junto ao governador e seu círculo de governo.
Hoje Rubens Otoni é citado como um superdeputado, pela desenvoltura com que articula com o governador Alcides Rodrigues e consegue materializar benefícios para o Estado. Por suas mãos, influência e negociação foram efetivadas as negociações de dívidas da Saneago e da Celg, além de outras tantas verbas polpudas e imprescindíveis à consolidação da ajuda do governo federal para Goiás. Sem medo de errar citam Rubens Otoni como tendo uma atuação de governo sem ser governo. Pura ironia para um deputado do PT, partido que jamais teve destacada distinção no Palácio das Esmeraldas.
Essa aproximação, altamente favorável para o governo e para o deputado, formata a ajuda federal prometida pelo Planalto para a modernização pretendida por Alcides. Esse fato poderá redundar em uma ampliação da aliança do PT com o PP e outros partidos que figuram nos dois círculos, a exemplo do PTB e PR. A conseqüência desse fenômeno poderá ser o ingrediente necessário para efetivar uma pretensa candidatura de Otoni à Prefeitura de Anápolis.