Causos, contos e prosas

Frio nos Cafundó.

Frio nos Cafundó.
Autor: Braz Chediak.

"O bar do Pedrinho estava cheio de gente batendo o queixo de frio e tomando conhaque ou cachaça. Só Zé Luís fingia que era um friozinho à-toa:

- Vocês não conhecem frio. Na roça, depois de Bituruna, é que faz frio mesmo.

Meu pai tinha umas terras no Cafundó, um dia eu fui tomar conta dos camaradas que estavam capinando a roça, peguei uma cuia d’água e pendurei no galho de uma árvore... Fiquei olhando os camaradas capinando e, mais tarde, quando me deu sede, fui tomar um gole d’água. Quando cheguei lá, a água tinha congelado e os cupins comeram a cuia, ficou só uma bola de gelo pendurada no galho da árvore!

- o Cafundó é frio mesmo, mas o Patrimônio é mais frio ainda - afirmou Zeca Sandoval, que estava quieto, ouvindo tudo.

- Mais frio do que isso?!

- É. E antigamente era mais frio ainda. Em 1939 fui lá fazer umas cobranças pro meu pai, tava muito frio, fiquei pra dormir na casa de uma comadre. Ela me arrumou uma cama com seis cobertas...

- E daí?

- Daí eu falei pra ela: me arruma uma lamparina que eu não durmo sem ler. Ela não tinha lamparina, trouxe uma vela, e eu fiquei lendo até o sono chegar. Aí, deixei o livro de lado e soprei a vela pra dormir. Continuei soprando e ela não apagava. Aí é que eu levei a mão pra apagar a vela com os dedos e descobri que a chama da vela tava era congelada!”