SESSÃO DE MACUMBA
Nos anos noventa o agente de polícia Carlos trabalhava com os policiais Deversão e Ciron no segundo distrito policial de Aparecida. O titular do grupo de plantão era o Dr. José Frias, homem católico, temente a Deus e cismado com coisas do além. Tinha por mania benzer-se com o nome do pai todas as noites ao assumir o serviço. Quando chegava meia noite, se fosse sexta-feira, era infalível: antes dos ponteiros se amancebarem ele ia para os fundos do distrito e rezava um Credo. Todos ficavam ariscos com os assuntos dele relacionados com assombração.
No mês de agosto, mês de muito desgosto, de muito gosto pelo inusitado o Carlos estavam de plantão, bem numa sexta-feira, daquelas que cai no dia 13. O delegado, este então chegou para trabalhar e Carlos percebeu um cheiro forte de alho, quando ele passou gugunando uma oração de corpo fechado. O policial chegou a ficar na dúvida se o chefe era católico, ou adepto de outros cultos, talvez macumbaria. Quando ele sentou-se à mesa, retirou do bolso um crucifixo e o fixou bem à sua frente nomeio de um punhado de dentes de alho.
Devia ser umas onze horas quando chegou a dona Cotinha de Aziá, uma vizinha da delegacia, pessoa gente boa, daqueles vizinhos gente fina, que nas festinhas de aniversários de seus netinhos não deixava de levar docinhos e refrigerantes para os policiais de plantão. Coitada! Reclamava chorando pelos olhos, pela boca, pelos gestos, pelos cotovelos, em fim por todo o corpo a ausência de sua filha Juliana, moça de dezesseis anos, mas enrabichada com um tal de Xisto Macumbeiro. O dom Juan tinha um centro de macumbaria no setor Papilon, e sua filha estava lá. Era menor e temia pela segurança dela e, pior uma gravidez...
O delegado Frias estremeceu entre os dois extremos de seu credo: de um lado estava a vizinha, viúva, amiga pedindo providências necessárias, de outro a questão da macumbaria, coisa mais sem pé nem cabeça. Ele representava a autoridade para questões de crimes reclamados na circunscrição do seu distrito. Precisava agir. Mandou registrar o assunto, sem pressa. Tinha esperança de a mocinha aparecer enquanto cuidava dos trâmites burocráticos. Não deu certo! Chegou meia noite e nada da garota.
O delegado Frias chamou os agentes e passou-lhes uma ordem de missão policial, mas era apenas para examinar o lugar indicado e trazer a informação para decidir o que fazer. Os policiais chegaram ao local, era uma casa grande, com muros altos e tudo trancado. Havia um lote baldio ao lado com entulho até ao meio, produto dos rejeitos vindos daquela casa de oração suspeita e, jogados por cima do muro. O agente Deversão, um grandalhão ateu de pai e mãe, chegou e olhou por cima. Vinha um Baco-baco ritmado de lá. Vozes guturais davam ordens ininteligíveis. Aconselhou com o Estado Menor da diligência sobre a conveniência de invadir o lugar. Os outros dois ficaram sestrosos.
Deverson alegou que lá estava ocorrendo coisas. Ele não acreditava em macumba precisava ver o lugar. Carlos relembrou-lhe sobre a proibição do delegado de não invadir, mas havia a questão de ocorrer algum crime lá dentro. Antes que os colegas decidissem, saltou o muro e foi imitado pelos demais. A porta estava semi-serrada e apontaram os trabucos gritando o refrão conhecido de policiais em diligência: Mãos ao alto! Havia umas vinte pessoas no ambiente, muitos vestidos de branco conforme manda a tradição macumbenta. A menina menor e procurada estava deitada no chão e desmaiada.
Foi um corre-corre sem fim, com gente tentando se esconder, espírito querendo fugir, desincorporar. A mãe de santo, uma afrodescentende duns sessenta anos entendeu o aperto, fazia uns passe na desmaiada, mas logo tomou a posição de presa: mãos lá
Dr. Frias ficou elétrico com o assunto. Ouviu rapidamente os macumbeiros e os dispensou, não podia ficar de conversê com este povinho perigoso com canais exclusivos com o além. A menina foi entregue para a mãe, lá no hospital mesmo. Depois de passado o furdunço, chamou os agentes e recomendou-lhe novamente que nunca mais deviam perturbar cultos religiosos. O crime estava previsto na lei e assegurado pela constituição o direito de cultos religiosos. O homem estava tão brabo que não quiseram contestar sobre os crimes ocorrendo lá, tinha muito medo de macumba e podia ficar aloprado com eles. Melhor deixar do jeito que estava.
Sarava
Goiânia, 10NOV08 – Delegado Eurípedes da Silva III
EURIPEDES DA SILVA nasceu em Colômbia – SP, no mês de abril de 1.950. É casado com dona Lourdes a mais de trinta anos, tendo quatro filhos adultos e dois netos. Colou grau em 1.979, em direito pela UFG. Ingressou na Polícia Militar em 1.972, se graduando sargento onde permaneceu por cinco anos. Foi aprovado em concurso de provas e títulos para delegado de polícia, na Polícia Civil do Estado de Goiás, em 1.983. Especializou