Causos, contos e prosas

Carraspana Oficial

O plantão do 2º Distrito Policial em Aparecida corria calmo naquela quarta-feira quando por volta de meia noite chegou uma viatura comandada pelo cabo Virgilio. O motorista era da barca o soldado Varnelli, antigão daqueles conhecedores dos ciúmes capazes de estremecer as duas polícias. Tinha apanhado um descuidista arrombando um barracão lá nos confins da Vila Sul. O marginal era conhecido da polícia, de muitas passagens, mas nenhum processo. Sempre estava limpo, ou seja, fora do flagrante. Naquele dia o tenente Aprígio estava nervoso com tantas reclamações sobre o tal e resolveu que ele tinha de ser autuado em flagrante, para pegar uma cadeia exemplar. Escreveu um bilhete ao cabo, dizendo do detido ter sido preso em flagrante e que devia ser autuado pelo artigo 155, § 4º do CPB.

O cabo muito sacana chegou ao distrito e falou para o agente Ademar, sujeito de formação sindicalista ciumenta, que o tenente tinha mandado autuar! E mostrou recado. O agente cresceu nas tamancas dizendo que na delegacia quem determinava como fazer e como era a delegada. Ela estava repousando e esperassem para ser atendido. A coisa inflamou com o cabo passando o recado ao tenente e de repente chegou ao distrito umas quatro viaturas para dar apoio moral. O caso tinha crescido de recado a recado e já era um fato de que o suspeito não seria nem indiciado. A delegada chegou de sua sala e o alvoroço era uma balburdia como policiais civis e militares em pé de guerra.

Foi chamado a supervisão das duas instituições e nesta bagaceira de arrostar valentia um tiro foi disparado na porta do distrito, e muito pensaram que tinha começado o entrevero armado. Policiais correram para suas posições, uns entrincheirando nas viaturas e outros nas mesas da delegacia de polícia. O preso se aninhou mais ainda no cubículo da viatura. Um dos policiais estava encostado na lata da viatura e o cabo de seu trabuco batia na lata como se fosse sinal de código Morse. O preso era entendido no assunto e mandou ver a resposta: tinha recebido uma mensagem criptografada que o exercito estava chegando com tanques de guerra para apaziguar o banzeiro.

Os homens do comando chegaram exatamente no meio da balburdia de mal entendidos e foi custoso encontrar um armistício para parlamentar. Finalmente entraram num acordo e o preso foi posto em liberdade por falta de provas, porque na confusão as testemunhas azularam no mundo, a vítima foi parar no lugar incerto e não sabido, e como era longe demais, não foram atrás. Depois deste dia foi criado um documento comum dos comandos da polícia, dizendo o que é função de PM e o que é função de PC. O manual existe por aí, mas tem muita gente que desconhece e vez por outra um atravessa na frente e a coisa azeda, mas é assim faz muitos anos. Somos irmãos de profissão e em muitas famílias os parentes se estranham de vez enquanto. Tanto PM quanto PC querem o melhor para a segurança pública e às vezes surge divergência.

 

Ap. de Gyn, GO, 16NOV09

Delegado Euripedes IIII