Causos, contos e prosas

EMBARRACADOS COM TEMPESTADE NA PRAIA

 

A terça-feira foi chuvosa com ventos leves agitando o mar fazendo as ondas lamber a praia à procura de coisas para lavar e devolver. O pessoal do Dominados Moto Clube nos visitou mais cedo e ficou acertado uma recepção ao nosso time num restaurante de Ilhéus oferecido pelos motociclistas domésticos, os embaixadores de boas vindas chegaram em dois triciclos e uma moto acertando a visita oficial. O único senão eram chuvas e isto estava presente, com breves intervalos de tempo aberto, mas sem sol. O clima litorâneo da Bahia é diferente do Centro-Oeste, enquanto lá tem sol rachando mamona, aqui chove e faz frio.

Nossas esposas começaram o salamaleque cobre-rugas pinta-unhas, estica-ondula-alisa-cabelo por volta de quatro horas da tarde a se prepararam para o encontro com os novos amigos baianos, colocando suas melhores roupas motociclística, maquiagem conveniente e chapinha nas madeixas, ficaram perfumadas e lindas conosco também de banho tomado, couros limpos e as máquinas de três rodas nos trinques. Esperávamos o emissário do Ilhéus Moto Clube para seguirmos ao encontro, mas ele não apareceu e em seu lugar abrolhou uma chuva grossa escoltada de vento. Enquanto o vendaval era médio a chuva não invadia o bivaque montado numa cabana redonda de apoio do camping Itaparica, onde estávamos.

Para distrair a galera montamos o projetor e colocamos no telão um filme muito sugestivo: tsunami e todos foram ficando arrepiados com o mar estrondeando ali do lado, a menos de três metros na maré alta. Porém ninguém queria deixar de ver o enredo do filme, ver se salvava alguém da catástrofe duma imensa vaga, a maior imaginada pelo diretor da película, com mais de trinta metros de altura. No enredo a onda invadiu uma cidade do Japão escapando poucas pessoas. A platéia era acuada pelo temporal com o vento zurrando numa tempestade tropical. As barracas armadas do lado de fora da tenda entortavam como se fossem moitas de bambus e a chuva fria entrava em tudo quanto era cantinho.

Alguns panos plásticos usados para proteger os triciclos da maresia foram se partindo e tal qual num navio a vela o aguaceiro varreu tudo. A barraca da Tânia/Evaristo foi inundada com palmo e meio de água. A barraca-pavilhão do Zeca quebrou uma das varas de sustentação e também inundou, alias em todas entrou muita água. A tempestade varou a noite e ninguém pode dormir por estar molhado ou com medo da água invadir o acampamento porque o zunir do vento com o troar das marés era de assustar até gente do litoral, quanto mais visitantes sem mar. Amanheceu com alguns de nós segurando suas barracas para não serem furtadas pelo vento. Lá pelas nove horas o tempo amainou, passando de tempestade para ventos e assim foi desacelerando até ficar apenas o zurrar do atlântico.

Caíram muitos cocos com a borrasca, aliás, nós nos fartamos de tanto beber água de coco, que aqui sobra para todo lado. As roupas das malas estavam ensopadas, a munição de cozinha meio avariada, os triciclos tinham água nas partes elétricas e alguns empacaram sem querer funcionar, foi preciso carinho de chave de fenda e alicate para desembestar. O passeio foi para o espaço e nós maridos, ficamos na dúvida se as mulheres estavam de bico virado com a chuva ou com a produção pessoal perdida. Sem ninguém votar sobre qual a melhor opção para o dia, começamos a desmontar as barracas, consertar avarias e preparar carretinhas com nossos cacaréus para sair dali.

O destino querido era Itacaré, quarenta quilômetros mar acima, mas aí a chuva que nos acuou com a tempestade veio sozinha querendo nos cercar naquele lugar perigoso. Sem a escolta do vento, metia pouco medo e resolvemos encarar. As ondas da noite vieram nas barbas das barracas com ondas de até cinco metros. Saímos com chuva e tudo, mas a sorte não queria nos acompanhar e empacou nalgum lugar do acampamento. Uma carretinha furou o pneu, um triciclo pipocou parando de funcionar, o pneu da minha carretinha foi para o espaço. Paramos em Olivença para consertar. Por mais que mexêssemos com as máquinas não teve jeito e somente os pneus avariados foram arrumados, o triciclo empacado, do Evangelista, só saiu rebocado. Como dois triciclos não tinham engates, foi improvisado um amarro no pára-choque e eu levei o Evaristo de reboque por trinta quilômetros. Já na cidade fomos de oficina em oficina até encontrar uma que resolveu o problema: a caixa eletrônica de distribuição estava em curto.

Ai a Andréia teve a idéia de telefonar para um de nossos anfitriões da noite frustrada e ele veio na bucha. Eduardo do Dominados Moto Clube nos ofereceu uma casa de veraneio, para esperarmos a chuva passar. Ficamos bem instalados, mas a chuva continuou com toda força. Parece que nosso passeio ficou molhado e as roupas estendidas na sombra, os couros encharcados não quer secar. Talvez tenhamos de voltar ao acampamento e desencravar a sorte para voltar a nos acompanhar, porém carece estudar a manobra de guerra, para não esbarrarmos com o mau humor de Éolo, Deus do vento.

 

Acontece que nos TMC somos embirrados e vamos continuar o passeio, aproveitando os intervalos de céu aberto, todos compramos capas de chuva para nos prevenir com a molhança destas bandas.

 

Olivença-BA, 17MAI10

Delegado Eurípedes III

 

 

BREVE CURRÍCULO

 

EURIPEDES DA SILVA – nascido em Colômbia-SP no ano de 1950. Casado com Lourdes C Silva, tendo quatro filhos adultos e dois netos. Colou grau em 1.979, em direito pela UFG. Ingressou na Polícia Militar em 1.972, se graduando sargento onde permaneceu por cinco anos. Aprovado para del. de pol., na Polícia Civil de Goiás, em 83. Como delegado de polícia de carreira, atuou nas cidades de Itumbiara, Goiatuba e Goiânia, Publicou o romance policial AR-15 - A NOVA LEI com o pseudônimo Delegado Euripedes III – Se encontra no prelo Embosca – a política a serviço do crime e Macumba - o terreiro da morte. CONTATOS telefone 62 284 72 87 

Veja na TV Goiânia-canal 11, aos sábados ás 09,30 H todo sábado o quadro Delegacia de Contos no PROGRAMA SEGURANÇA EM AÇÀO. CONTATOS telefone 62 284 72 87 E-mai euripedes3@ig.com.br Ouça na Rádio Mil FM (1.029FM) as 07h00minH